O globo, n. 31268, 17/03/2019. País, p. 6

 

Um churrasco para pregar união entre os três poderes.

André de Souza

Daniel Gullino

17/03/2019

 

 

Após semana em que STF se viu sob críticas de políticos e nas redes, Maia recebe Bolsonaro e Toffoli em almoço

Após uma semana em que a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de manter na Justiça Eleitoral a investigação de crimes ligados ao caixa 2 foi alvo de críticas de políticos e de apoiadores do governo Bolsonaro, e em que o presidente da Corte, Dias Toffoli, pediu abertura de inquérito para apurar ataques ao Supremo, um almoço ontem à tarde na residência oficial do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), buscou mostrar boas relações entre os três poderes.

Estiveram presentes o presidente Jair Bolsonaro, Dias Toffoli, o Presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEm-AP), 15 dos 22 ministros do governo federal, além de outros políticos. Antes do almoço, Bolsonaro havia compartilhado nas redes sociais um vídeo em que seu filho, Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), critica a decisão do Superior Tribunal Federal (STF) de manter crimes ligados a caixa 2, investigados pela Lava-Jato, na Justiça eleitoral. Questionado sobre o episódio, Maia foi evasivo: — Toda crítica precisa ser respeitada num país que quer ser democrático, garantindo a liberdade de expressão e de imprensa, mas a crítica não pode passar para uma agressão —disse. O presidente da Câmara também condenou os ataques ao STF, que motivaram Toffoli a abrir um inquérito: —É um episódio grave e importante. Nós podemos discordar da decisão da maioria do Supremo, mas não podemos agredir —disse Maia. De acordo com o ministro da Secretaria de Governo, Santos Cruz, o presidente Bolsonaro discursou pedindo a união entre os Poderes, para possibilitar o desenvolvimento do país:

— Ele disse (sobre) a importância da união de todos os Poderes, de todas as autoridades, para fazer o Brasil continuar seu caminho de desenvolvimento. Santos Cruz elogiou a iniciativa de Maia e disse que ela contribuiu para a “confiança mútua” entre as autoridades presentes:

— Na nossa cultura, essas ocasiões aproximam as pessoas e facilitam tudo. É esse o objetivo, não tem uma agenda de trabalho. Tem uma agenda de bom senso, aonde o deputado tomou essa iniciativa e ele está de parabéns por convidar para a residência dele, em um sábado, todo nós. Isso traz um ambiente muito bom, de confiança mútua entre os Poderes. O presidente da Câmara afirmou que a intenção foi melhorar o diálogo para “pactuar uma relação de governabilidade”:

— As relações sempre foram boas. O que nós estamos construindo é forma de que os Poderes possam dialogar melhor, pactuar uma relação de governabilidade para o Brasil. Porque, no sistema democrático, todos governam juntos. O ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, afirmou que o diálogo é uma “obrigação”: — É importante que os Poderes possam conversar, dialogar. Há um imenso desafio para ser vencido, que é recuperar o Brasil da situação que o país tem. Os Poderes dialogarem é uma obrigação, no entendimento do presidente Jair Bolsonaro, do presidente Rodrigo, do presidente Davi, do presidente Toffoli. Onyx defendeu ainda a união dos “melhores talentos” do país.

— A presença de um grande número de ministros fez a reafirmação de que o governo de Jair Bolsonaro é um governo que busca o diálogo —declarou Onyx. De acordo com os presentes, o almoço foi um encontro informal, e não foram discutidos assuntos como distribuição de cargos ou a reforma da Previdência. — Foi um almoço de caráter social, sem agenda de trabalho —disse Santos Cruz.

Nomeações políticas

Questionado sobre o áudio em que o deputado federal Julian Lemos (PSL-PB), fala sobre a indicação de cargos em troca de votos, revelado ontem pelo GLOBO, Santos Cruz não quis comentar o caso diretamente, mas afirmou que não vê problemas em indicações políticas, desde que os indicados tenham capacidade técnica:

— Não tem problema nenhum que você tenha indicações de interesse político. Quando você junta esse interesse político, essa afinação administrativa, com a capacidade técnica, está tudo bem. O que está errado é você fazer às vezes uma indicação de uma pessoa que não tem capacidade. Além de Santos Cruz e Onx, também estiveram presentes os ministros: Sergio Moro (Justiça), Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucionl), Ricardo Vélez Rodríguez (Educação), Gustavo Canuto (Desenvolvimento Regional), Fernando Azevedo e Silva (Defesa), Tereza Cristina (Agricultura), Osmar Terra (Cidadania), Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos), Ricardo Salles (Meio Ambiente), Tarcísio Freitas (Infraestrutura), Wagner Rosário (Controladoria-Geral da União) e Floriano Peixoto (Secretaria-Geral), além do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.