O globo, n. 31268, 17/03/2019. País, p. 7

 

Escola de Realengo reforçou controle após ataque

Juliana Castro

17/03/2019

 

 

Tasso da Silveira passou a contar com câmeras e guardas municipais; secretaria fica do lado de fora, para que estranhos não precisem entrar no colégio. Pais de alunos ainda citam pontos que podem ser melhorados

O som dos tiros, os gritos de desespero e o barulho das sirenes das ambulâncias são lembranças que voltaram com força na última quarta-feira para as irmãs Tainá Bispo, 23 anos, e Helena Santos, 19, quando elas souberam da tragédia na Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano (SP).

As duas sobreviveram ao massacre na Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, na Zona Oeste do Rio, naquela manhã sangrenta de 7 de abril de 2011. A outra irmã delas, Milena, não. Foi morta com outros 11 adolescentes pelo ex-aluno Wellington Menezes.

— Eu sabia que os colégios não tinham aquela segurança, mas, ainda assim, eu acreditava que o caso de Realengo seria isolado, que não haveria outro parecido. Mas, houve em Goiás (em 2017), no Paraná (em 2018) e agora em São Paulo. Dá medo porque já ocorreram muitos casos. Quanto tempo vai demorar para perceberem que algo tem que ser feito para que isso não aconteça mais? — indagou Helena.

Desde a tragédia que levou Milena, a Tasso da Silveira passou por mudanças: foi reformada e trocaram até mesmo o local de entrada dos estudantes. Câmeras de segurança estão espalhadas por todo canto — pela entrada, pátio, corredores e até sala de aulas. Tudo monitorado em um painel de controle.

Guardas municipais circulam pelo colégio em todos os turnos, todos os dias. Acompanham, junto a um funcionário da escola, a entrada e saída dos alunos. Na hora das aulas, inspetores ficam nos corredores. No intervalo, todos descem e, juntos, ficam de olho nos alunos.

Os muros ainda existem na unidade, mas em boa parte da escola foram substituídos por grades. E, no recreio, os estudantes não podem chegar perto delas. A secretaria da escola funciona em horários específicos durante parte da manhã, da tarde e da noite. Mas, para ir até ela, não é preciso entrar na unidade. O setor fica do lado de fora, sem que qualquer pai de aluno ou estranho precise atravessar o portão para entrar nas dependências do colégio.

— Queria conversar com a diretora na época da matrícula. Vim à secretaria, que fica aqui do lado de fora, e marquei horário. Só aí pude entrar na escola — lembrou Izabela Oliveira, mãe de uma aluna do 7º ano.

'Mudou muita coisa'

Mesmo com o aumento da segurança, os pais de alunos ainda citam pontos que podem ser melhorados.

— Mudou muita coisa na escola. Mais ainda há falhas. De manhã, o portão só abre na hora de entrar para a aula. Fica todo mundo esperando do lado de fora. Quando entra, está todo mundo junto e vestindo roupa igual. Pode entrar alguém usando uniforme e ninguém vai ver — disse Vivian Moreira, de 37 anos, mãe de um aluno do 7º ano, sugerindo ainda que poderia haver averiguação das mochilas ou detectores de metais na escola. Esperando a filha em meio à chuva que caía em Realengo na última sexta-feira, Jaime Silva, pai de uma aluna do 6º ano, elogiava a escola, mas também sugeriu melhorias:

— Já melhoraram bastante, mas podem melhorar mais. Ainda é fácil de pular o muro, por exemplo. Parte dos pais diz que a segurança da escola já era boa na época do ataque e o ocorrido não havia como ser previsto.

— Aqui sempre teve segurança. O portão não fica aberto — disse Silvia Lemos, mãe de uma aluna de 14 anos e de um jovem de 19 que estudava na Tasso da Silveira na época do massacre e que só não estava no dia do ataque porque escorregou dias antes e torceu o pé.

Casos em Goiás e Paraná

Os próprios estudantes, pais de alunos e sobreviventes, dizem que as escolas ao redor dali não dispõem dos mesmos equipamentos e condições de segurança da Tasso da Silveira. A Secretaria municipal de Educação afirma, no entanto, que vem trabalhando desde outubro do ano passado na licitação para a contratação de controladores de acesso que vão atuar na portaria de todas as 1.539 unidades escolares da prefeitura do Rio, e que 1.500 escolas possuem câmeras de vigilância. —Nossa luta é para que se tenha a mesma estrutura nas demais escolas — afirmou Adriana Silveira, que perdeu a filha Luísa, de 14 anos, na tragédia, e fundou a Associação Anjos de Realengo.

— Que possamos preparar professores e crianças em caso de ataque. Além disso, precisamos de psicólogos dentro das escolas para ajudar o corpo docente . Pais entrevistados pelo GLOBO disseram que a direção já conversou com eles sobre bullying e a importância de orientar os filhos a respeito disso. Nas aulas, os professores também costumam falar sobre o tema, conforme relataram alguns alunos à reportagem.

Entre as tragédias de Realengo e Suzano, passaram-se 2.897 dias. Mas, nesse intervalo, houve outros ataques em escolas. Em Goiás, um adolescente de 14 anos tirou uma arma da mochila, matou dois colegas e feriu outros quatro no Colégio Goyases, escola particular de ensino infantil e fundamental, em Goiânia.

O crime ocorreu eu outubro de 2017. Em setembro do ano passado, dois adolescentes entraram armados no Colégio Estadual João Manoel Mondrone, em Medianeira, no oeste do Paraná, e atiraram contra colegas de classe. Dois alunos ficaram feridos, um deles gravemente.

Os envolvidos eram menores de idade e estudantes do ensino médio da unidade. Por telefone, um funcionário da escola informou que a unidade sempre teve câmeras de segurança, controle de entrada e saída de alunos, além de receber visitas da patrulha escolar. Para ele, o que ocorreu foi uma fatalidade