Valor econômico, v. 18, n. 4455, 06/03/2018. Política, p. A8

 

Sarney volta ao Maranhão para reorganizar o clã

Vandson Lima

06/03/2018

 

 

"Onde está meu umbigo deve estar meu corpo". Assim o ex-presidente José Sarney explicou, em uma coluna publicada no jornal "O Estado do Maranhão", publicação pertencente à sua família, os motivos que o levaram a voltar às origens: após 28 anos como eleitor no Amapá, Estado pelo qual foi senador três vezes, Sarney transferiu seu título de volta ao Maranhão.

Mas Sarney não irá disputar a eleição. "Esqueça isso. Na verdade, foi insistência de dona Marly, para ele não ter a tentação de concorrer de novo no Amapá", garante o ministro do Meio Ambiente, Zequinha Sarney, sobre a atuação da mãe para impedir que o pai sequer vislumbrasse voltar às urnas - em abril, o ex-presidente completará 88 anos.

A volta de Sarney ao Estado natal é simbólica na tentativa do clã de se reconstruir politicamente. Em 2014, o grupo sofreu uma acachapante derrota com a eleição, ainda em primeiro turno, do hoje governador Flávio Dino (PCdoB). Escorado em uma aliança que reunia PSDB, PSB e setores do PT, Dino venceu o candidato do clã, Lobão Filho (MDB), com 63,5% dos votos.

"Ele não necessariamente estará à frente da coordenação ou algo do tipo. Mas estará visivelmente mais presente, né? Como tinha título no Amapá, papai nunca votou nos filhos, por exemplo", lembra Zequinha, que detém mandato como deputado federal e disputará neste ano o Senado - ele ainda não sabe se pelo PV, sigla à qual é filiado, ou por um partido mais forte, como o PSD, com quem tem mantido conversas frequentes.

Dois filhos de Sarney irão à disputa por cargos majoritários em outubro. Além de Zequinha, Roseana Sarney (MDB) anunciou que vai abandonar a aposentadoria de cargos públicos, anunciada em 2014, e tentará voltar ao Palácio dos Leões para um quinto mandato como governadora.

Não será uma tarefa fácil. Candidato à reeleição, Flávio Dino trabalha forte para se manter no cargo: na quarta-feira, anunciou como cartada um reajuste ao magistério local, elevando o salário inicial do professor com jornada senanal de 40 horas no Maranhão para R$ 5,7 mil mensais - o maior do país e bem acima do piso nacional fixado pelo Ministério da Educação, de R$ 2,4 mil.

Dino, no entanto, enfrenta acusações dos adversários de se valer justamente de práticas que condenava nos governos aliados a Sarney: a cooptação das forças políticas locais, com distribuição de fatias da máquina administrativa aos partidos, à direita e à esquerda, que passaram a compor sua base política, é um exemplo.

Historicamente polarizada entre sarneyzistas e anti-Sarney, a eleição ao governo do Maranhão este ano tem vários postulantes à terceira via: um deles é o senador Roberto Rocha, do PSDB. Ele já esteve dos dois lados e, no Estado. Rompeu com o clã em 2014 para apoiar Dino e, agora, quer se colocar como alternativa a ambos. "Minha presença na eleição vai garantir um segundo turno, porque divide os votos. É tudo que Dino não quer e é necessário para quebrar a polarização", explica o senador.

Outro nome que busca o espaço da terceira via é o deputado estadual Eduardo Braide (PMN), um jovem fenômeno político local que, tendo iniciado a carreira política em 2010, foi ao segundo turno na eleição da capital São Luís em 2016 e quase desbancou Edivaldo Holanda (PDT), apoiado por Dino. Correm por fora ainda na disputa a ex-prefeita de Lago da Pedra, Maura Jorge (Podemos) e Ricardo Murad (PRP), ex-secretário de Saúde de Roseana, seu cunhado e hoje, rompido com ela.

Para o Senado, Zequinha igualmente não terá vida fácil, o que ele próprio reconhece, apesar de liderar as pesquisas até o momento. Na disputa por duas vagas também estarão o longevo Edison Lobão (MDB), que aos 81 anos busca a recondução para mais oito anos de mandato; o deputado e ex-governador José Reinaldo, outro que já esteve com Sarney, de quem foi ministro dos Transportes, rompeu e apoiou Dino e agora, prestes a se filiar ao DEM, busca a terceira via; e os também deputados Eliziane Gama (PPS), Waldir Maranhão (PP) e Weverton Rocha (PDT).