Valor econômico, v. 18, n. 4472, 29/03/2018. Política, p. A10

 

Para Bolsonaro, PT busca 'vitimização'

José Marcos Lopes

29/03/2018

 

 

O pré-candidato do PSL à Presidência da República, Jair Bolsonaro, disse ontem em Curitiba que quer ver o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) "em cana" e que o petista está "colhendo ovos" porque tentou transformar o país em "um galinheiro". As declarações foram dadas depois que Bolsonaro simulou espancar um "pixuleco" (boneco de Lula).

O deputado federal foi recebido no fim da manhã de ontem por cerca de 200 pessoas no Aeroporto Afonso Pena, em São José dos Pinhais. Carregado até um caminhão de som, ele recebeu um "pixuleco" e deu tapas na cabeça do boneco. "Aqui não tem mortadela, aqui tem povo trabalhador", disse ao abrir um rápido discurso antes de seguir para Ponta Grossa, a cerca de 100 km da capital paranaense.

"O Lula brevemente estará aqui. Eu não quero o Lula na cadeia, eu quero o Lula em cana, já que ele gosta tanto de uma caninha", afirmou Bolsonaro. "Esse é o destino dele. Quis transformar o Brasil num galinheiro. Esse crápula está colhendo ovos no Brasil inteiro", disse em referência às agressões sofridas pela caravana do petista nos Estados do Sul do país.

Para o pré-candidato, se houver voto impresso nas eleições de outubro a direita vai dar "um cruzado" na esquerda. "Não pensemos que essa esquerda morreu, mas eles não vieram para ficar. Vão encontrar resistência", discursou. "O Lula sempre disse que era muito bom concorrer somente com a esquerda, agora vão ter a direita. E pode ter certeza, vão levar um cruzado da direita em outubro."

Em seu discurso a apoiadores, Bolsonaro voltou a defender que a polícia "atire para matar". "Nossos homens da segurança, quando cumprirem uma missão, serão condecorados, e não punidos. Eu quero uma polícia que em defesa do povo atire para matar."

Mais tarde, ao comentar os tiros disparados contra os ônibus da comitiva de Lula, o pré-candidato insinuou que o PT tentou simular um atentado. "Para mim é algo feito por eles, para buscar a vitimização, como se o outro fosse violento e eles os pacíficos", disse à rádio "BandNews".

Já o governador Geraldo Alckmin, pré-candidato do PSDB à Presidência, moderou o tom, um dia depois de afirmar que os petistas "estão colhendo o que plantaram", e publicou ontem nas redes sociais que "toda forma de violência tem que ser condenada".

"É papel das autoridades apurar e punir os tiros contra a caravana do PT", disse em texto publicado, mas acrescentou uma crítica aos adversários políticos: "E é papel de homens públicos pregar a paz e a união entre os brasileiros. O país está cansado de divisão e da convocação ao conflito."

O tucano havia dito a primeira frase na noite de terça-feira, antes de assistir à pré-estreia de "Nada a Perder", cinebiografia do bispo Edir Macedo. Na ocasião, ele havia acrescentado que não defende a violência, e sim "o debate de ideias".

Outro presidenciável, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, que deve se filiar ao MDB e se desincompatibilizar do cargo na próxima semana, condenou o atentado nas redes sociais. "Numa democracia, resolvemos nossas divergências políticas nas eleições, através do debate e do respeito ao resultado eleitoral. O que aconteceu ontem no Paraná foi um atentado contra a liberdade de expressão de um líder político e isso é inadmissível numa democracia", escreveu Meirelles em sua conta no Twitter.