Título: O repertório dos advogados
Autor: Mader , Helena
Fonte: Correio Braziliense, 17/08/2012, Política, p. 2/3

As defesas orais dos réus do mensalão terminaram anteontem, mas ao longo de todo o mês, as considerações feitas no plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) servirão de base para que os ministros formem suas convicções sobre a culpa ou a inocência de cada acusado no processo. No entanto, a fase encerrada na quarta-feira ficou marcada não apenas pela sustentação de que faltam provas na peça acusatória do Ministério Público, mas também por justificativas esdrúxulas, frases de efeito e pelo direcionamento da culpa a pessoas que já morreram.

Uma das alegações que dificilmente convencerá os ministros foi a apresentada pelo advogado Marthius Sávio Lobato de que o ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato não sabia do conteúdo de dois pacotes que recebeu. Dentro, havia R$ 326 mil em espécie. O defensor alegou que Pizzolato havia pegado os pacotes a pedido de uma secretária do empresário Marcos Valério. "Só depois que o escândalo apareceu é que ele tomou conhecimento do dinheiro", afirmou o advogado.

A tônica da fase de sustentações foi também a crítica generalizada ao procurador-geral da República, Roberto Gurgel, e o apontamento de erros que teriam sido cometidos pelo Ministério Público. Uma estratégia usada com frequência pelos defensores foi atribuir a culpa a mortos. Não foram poucas as vezes em que o falecido deputado José Janene (PP-PR) foi citado. Ex-líder do Partido Progressista na Câmara e ex-tesoureiro da legenda, ele era um dos réus da ação, mas morreu em setembro de 2010. A defesa do ex-deputado do PP Pedro Corrêa, por exemplo, responsabilizou Janene pelos contatos feitos entre o partido e a corretora Bônus Banval. "O que se fala é que José Janene que fazia esse contato", disse o advogado Marcelo Leal, durante a sustentação oral em defesa de Corrêa.

Leal e outros defensores ainda citaram o ex-presidente do PTB José Carlos Martinez, que morreu em um acidente aéreo, em outubro de 2003.

"Mequetrefe" As defesas foram marcadas, também por colocações que causaram risadas em plenário. No dia 7, o advogado Paulo Sérgio Abreu e Silva, defensor da ex-empregada da agência SMP&B Geiza Dias, disse que ela era uma funcionária "mequetrefe", na tentativa de convencer os ministros de que a cliente agiu somente sob ordens do empresário Marcos Valério. No mesmo dia, Leonardo Yarochewski, defensor da diretora financeira da SMP&B Simone Vasconcelos, comparou o mensalão à novela Avenida Brasil. "Virou moda, é bonito falar de bando ou quadrilha. Até na novela das oito, a Carminha falou que ia processar a Nina por formação de quadrilha."

Defesa pitoresca "Virou moda, é bonito falar de bando ou quadrilha. Até na novela das oito, a Carminha falou que ia processar Nina por formação de quadrilha" Leonardo Yarochewski, advogado de Simone Vasconcelos

"Senhor procurador, a tua piscina está cheia de ratos. Tuas ideias não correspondem aos fatos" Luiz Maximiliano Telesca Mota, advogado de Anita Leocádia

"O José Dirceu foi acusado por um veículo de ter matado a Odete Roitman e só faltou dizer que matou o Bin Laden. Talvez a única explicação plausível para essa denúncia seja a vontade de saciar o apetite midiático da fantasia de li Babá e seus 40 ladrões" Sebastião Tadeu Ferreira Reis, advogado do ex-deputado João Magno (PT-MG)

"Era uma funcionária mequetrefe. Era uma batedeira de cheque. Eram cinco, seis funcionários para bater cheque. De 100 a 200 por dia eram batidos na SMP&B" Paulo Sérgio Abreu e Silva, advogado de Geiza Dias