Valor econômico, v. 18, n. 4472, 29/03/2018. Política, p. A11
Temer diz que ataque à caravana de Lula cria clima de instabilidade
Cristiane Bonfanti
César Felício
29/03/2018
O presidente Michel Temer disse ontem ser uma "pena" o ataque a ônibus da caravana do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no sul do país e que o ato de violência cria um "clima de instabilidade". Na terça-feira, dois ônibus da caravana de Lula foram alvo de tiros no Paraná.
"É uma pena que tenha acontecido isso, porque vai criando um clima de instabilidade no país, de falta de pacificação, que é indispensável ao presente momento", disse Temer, em entrevista à rádio "BandNews" de Vitória (ES).
O presidente avaliou que, nas eleições, é necessário discutir projetos, e não pessoas. "No país ficamos com essa coisa um pouco raivosa entre as pessoas. Isso não é útil", disse o presidente.
O presidente sugeriu ainda que a onda de violência que marcou o encerramento da caravana de Lula no Sul não começou agora. "Devo dizer também que, na verdade, essa onda de violência não foi pregada talvez por aqueles que tomaram essa providência. Talvez tenha sido, tenha começado lá atrás. E a história de uns contra outros realmente cria essa dificuldade que gera atritos dessa natureza", afirmou.
Durante a entrevista, Temer afirmou que o governo está preocupado com a questão de segurança pública no dia 4, dia do julgamento, no Supremo Tribunal Federal (STF), do pedido de habeas corpus preventivo de Lula. Questionado sobre o momento de pressão que o STF vive e a autorização de um reforço na escolta permanente do ministro Edson Fachin, relator da Operação Lava-Jato, Temer afirmou que o clima é muito ruim.
"Isso tudo acaba repercutindo no próprio Supremo Tribunal Federal. Ainda ontem eu falava com o nosso ministro da segurança, Raul Jungmann e ele está naturalmente preocupado com o dia 4 (...) é claro que estamos aqui todos tomando todas as providencias para que não haja conflito. Mas é preocupante", disse Temer.
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), pré-candidato a presidente, cobrou em entrevista à rádio Bandeirantes uma reação conjunta do Executivo e do Legislativo à tensão política no país. Maia referiu-se ao incidente na caravana que acompanha Lula na região Sul e às ameaças contra o ministro do Supremo Tribunal Federal, Luiz Edson Fachin e sua família. Na tarde de ontem, dois ônibus da comitiva de Lula foram atingidos por tiros e o ministro Fachin relator da Lava-Jato no Supremo, relatou sofrer ameaças.
"É gravíssimo o que aconteceu. Os tiros nos ônibus foi o ponto final de alguns dias de absurdos, inviabilizando a mobilização do ex-presidente Lula. Somos adversários, mas devemos sempre ser adversários nas ideias, no debate", afirmou Maia, ao falar sobre o petista.
Em relação a Fachin, Maia disse que o país chegou "à beira do precipício". "O Estado brasileiro precisa reagir. Em conjunto, todos. A sociedade não aguenta mais polarização, agressões". Para o presidente da Câmara, "os campos ideológicos entenderam que podem inviabilizar o direito um do outro".
Rodrigo Maia afirmou que irá pedir uma audiência ao ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, para que todas as esferas de poder "avancem rapidamente nestes dois episódios que são simbólicos contra o ministro Fachin e contra a caravana do presidente Lula, descobrir autoria e aplicar punições firmes, rápidas e exemplares".