Valor econômico, v. 18, n. 4469, 24/03/2018. Política, p. A6

 

PT fez força-tarefa no STF antes do julgamento do habeas corpus de Lula

Cristiane Agostine 

24/03/2018

 

 

O PT fez uma força-tarefa no Supremo Tribunal Federal (STF) antes do julgamento do habeas corpus pedido pela defesa de Luiz Inácio Lula da Silva para evitar a prisão do ex-presidente. Os petistas mais próximos a Lula reuniram-se com ministros da Suprema Corte para fazer a defesa do ex-presidente e reclamar da politização do processo contra o petista nas instâncias inferiores.

Dos seis ministros que votaram na quinta-feira a favor da liminar pedida pelo advogado de Lula, que proíbe a prisão do petista pelo menos até 4 de abril, três deles - Dias Toffoli, Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes - conversaram com os interlocutores do ex-presidente. Os outros três são considerados pelos petistas como magistrados com histórico de ligação com Lula ou com governos do partido (Rosa Weber, Marco Aurélio e Celso de Mello).

Os principais articuladores dessa força-tarefa no Supremo foram os ex-ministros Luiz Marinho, Gilberto Carvalho e Jaques Wagner, que tiveram encontros com duração de cerca de meia hora para discutir o pedido de habeas corpus. Os 11 magistrados foram contactados, mas nem todos aceitaram o pedido de conversa, como a presidente da Corte, Cármen Lúcia.

No dia 22 de fevereiro, por exemplo, Luiz Marinho reuniu-se com o ministro Edson Fachin, e Carvalho, com Gilmar Mendes, de acordo com a agenda dos ministros publicadas no site do STF.

Além dos três petistas, o governador do Piauí, Wellington Dias, o senador Jorge Viana (AC) e o deputado federal Vicente Cândido (SP) procuraram magistrados. Houve reuniões também com ministros do Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Segundo Gilberto Carvalho, um dos petistas mais próximos de Lula, os encontros foram para "questionar a politização das instâncias superiores e dar depoimentos sobre como é o Lula". "Foram encontros republicanos, sem pedidos ou constrangimentos. Eu disse aos ministros que trabalhei com Lula por oito anos, conheço ele desde 1981 e ele nunca levou uma caneta Bic para casa", disse Carvalho. "O que mais me surpreendeu foi que a maioria não leu, não conhece o processo contra o Lula. Sabemos que o Supremo não julga as provas, mas alertei sobre a loucura que foi cometida nas instâncias inferiores. Eles não têm noção do que foi praticado", afirmou.

Dois dos cinco ministros que votaram contra o pedido de liminar - Luís Roberto Barroso e Edson Fachin - também se reuniram com os petistas. Ao relatar o encontro com Barroso, Carvalho disse ter afirmado ao ministro que o STF não pode permitir a prisão de Lula depois de saber que o processo é "viciado".

Os interlocutores do ex-presidente procuraram estabelecer uma relação de maior diálogo com o STF, diferentemente do que foram os ataques ao juiz de primeira instância Sergio Moro e aos desembargadores do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4). "Verificamos uma atuação do Supremo mais isenta do que os tribunais do Sul", disse Carvalho.

Marinho afirmou ter levado um "pedido de reflexão" aos magistrados. "É preciso que a Corte tenha responsabilidade. Tem que colocar no eixo a bagunça que foi na primeira e segunda instâncias", disse o petista, que é pré-candidato ao governo de São Paulo. "A Constituição tem que ser respeitada".

Procurado para comentar os encontros, Jaques Wagner negou à reportagem ter conversado com os ministros. Marinho e Carvalho, no entanto, relataram que o ex-ministro falou com Gilmar Mendes. O julgamento do habeas corpus de Lula deve ser retomado no dia 4 de abril. Hoje, o TRF-4 analisa os recursos apresentados pela defesa do ex-presidente.

Ontem, durante passagem por São Miguel do Oeste, em Santa Catarina, a caravana de Lula foi atacada por cerca de 30 manifestantes que arremessaram ovos e pedras contra os três ônibus da comitiva. Policiais militares observavam à distância. A janela do motorista do ônibus ocupado por Lula foi quebrada. Carros particulares também foram atingidos pelos manifestantes. À noite, ovos foram lançados sobre o palanque onde Lula discursava, gerando confusão. Coberto por guarda-chuvas para deixar o local, Lula se disse triste e chamou os agressores de canalhas. "O que aconteceu aqui foi um atentado. Poderia ter acontecido uma tragédia", disse o líder do PT na Câmara, Paulo Pimenta (RS). 

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Partido lança Luiz Marinho como 'azarão' em SP

Cristiane Agostine 

24/03/2018

 

 

"O PT vai disputar esta eleição para o governo de São Paulo como azarão. Quer cenário melhor do que este?", ironiza o ex-deputado federal Jilmar Tatto. Um dia antes de ser escolhido pelo PT para concorrer ao Senado, junto com o vereador Eduardo Suplicy, o ex-secretário analisa o cenário eleitoral a ser enfrentado por Luiz Marinho, lançado oficialmente pelo partido no sábado como candidato ao governo do Estado. O PT ainda não fez nenhuma aliança e até aliados históricos como PCdoB, PDT e PR negociam apoio ao vice-governador, Márcio França (PSB).

Em 2014, a legenda registrou seu pior resultado eleitoral no Estado e a bancada paulista caiu de 15 eleitos em 2010 para dez deputados na Câmara, e de 24 eleitos para 15 na Assembleia. Em 2016, as prefeituras petistas despencaram de 74 para oito no maior colégio eleitoral do país. Se antes o número de candidatos a deputado federal e estadual era tão grande que a sigla tinha que cortar postulantes, agora, depois dos escândalos envolvendo o PT e com a possível prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a sigla tinha poucos candidatos até o começo deste ano. No sábado, o PT paulista já teve uma baixa: o ex-líder do partido na Assembleia deputado João Paulo Rillo anunciou sua desfiliação para migrar para o Psol e apoiar a pré-candidatura presidencial de Guilherme Boulos, líder do MTST. "Vamos ver no que vai dar", diz Jilmar.

A poucos metros do ex-deputado, na sede do PT paulista, Luiz Marinho retruca a pecha de "azarão" e diz que o cenário mais difícil enfrentado pelo partido já passou: foi em 2014, quando a ex-presidente Dilma Rousseff estava no poder e disputou a reeleição. Em São Paulo, o petista Alexandre Padilha ficou em terceiro lugar, com 18,2% dos votos válidos, e o partido teve seu pior desempenho desde 1994. Padilha venceu em apenas uma das 645 cidades do Estado, em Hortolândia, com 209 mil habitantes. Em 2016, com o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, apenas 9% diziam ter o PT como partido preferido. Hoje, cita Marinho, são 19%.

Além da dificuldade eleitoral no Estado, o pré-candidato enfrenta a resistência dentro do próprio partido. Parte do PT preferia a candidatura do ex-prefeito Fernando Haddad, cotado como plano B para a disputa presidencial.

Marinho, no entanto, desconversa e diz que estará no segundo turno da disputa contra o "PSDB 1 ou PSDB 2", em referência aos pré-candidatos João Doria (PSDB) e Márcio França (PSB), ambos apoiados pelo governador do Estado, o tucano Geraldo Alckmin. "O PSDB governa São Paulo desde 1995. Qual o nó no Estado que o partido resolveu?"

O petista aposta na vinculação de sua imagem à de Luiz Inácio Lula da Silva para tornar-se conhecido no Estado e ganhar o apoio da militância, mesmo que o ex-presidente seja preso e impedido de disputar um novo mandato. "Vou achar ótimo me chamarem de lulista. Se falarem isso vou agradecer, vai me ajudar na campanha. Estou precisando me tornar conhecido", diz Marinho, que foi ministro do Trabalho e da Previdência na gestão Lula. "Se Doria me xingar de amigo de Lula é um favor que estará me fazendo."

O PT almeja a conquista de pelo menos uma cadeira no Senado, já que as duas vagas que irão à disputa nesta eleição são de Marta Suplicy (MDB), que foi eleita pelo partido em 2010, e de Aloysio Nunes Ferreira (PSDB). Nem Marta nem Aloysio tentarão a reeleição.

Marinho define como seus adversários o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), e o vice-governador, Márcio França (PSB), que vai assumir o governo do Estado no dia 7. O possível candidato do MDB, Paulo Skaf, nem é citado.

Ao criticar Doria, Marinho diz que o slogan usado pelo tucano na campanha de 2016, de "João Trabalhador", pode ser substituído por "João Enganador" e "João sem palavra", em referência à saída do prefeito do cargo um ano e três meses depois de ter vencido a eleição, apesar de ter prometido cumprir o mandato todo.

O pré-candidato petista, porém, centra os ataques a Márcio França, que tem atraído antigos aliados petistas e até mesmo parte do partido, que vê no futuro governador um candidato com chance de disputar o segundo turno contra Doria. "França não representa o PSB do Miguel Arraes, mas sim o PSDB de Alckmin. Ele está usurpando a caneta do governador para fazer alianças. Diz que vai mandar todo mundo do PSDB embora para lotear o governo. Está comprando apoio, chantageando prefeitos. Essa é a pior prática que existe", diz. "O futuro governador está prometendo fazer em meses o que Alckmin não fez em todo seu governo. Quem promete demais não cumpre e isso afasta os eleitores e apoiadores".

Marinho acredita que o descumprimento das promessas de França pode ajudá-lo a atrair partidos. O vice-governador já anunciou o apoio de nove legendas, além do seu partido, o PSB (PR, PPS, Solidariedade, PHS, Pros, Avante, Podemos, PSC e PPL). Na próxima semana deve aliar-se a PV, PRP e PMB e negocia também com PCdoB, PDT, DEM, PP e PRB. Doria tem o PSD, que deve indicar seu vice.

O petista ainda acha possível compor com o PDT. Nas conversas com o presidente nacional do partido, Carlos Lupi, ofereceu a vice ou uma das vagas para o Senado. França, no entanto, tem dito que as negociações com a legenda estão avançadas.

Marinho criticou a possível adesão do PCdoB à chapa encabeçada pelo vice-governador. "Se o PCdoB fizer isso estará cometendo um grande erro histórico porque as bases do partido não estão sendo partícipes dessa negociata. Poderá perder boa parte de sua militância histórica porque é quase uma traição histórica abandonar um barco da esquerda para aderir ao barco do PSDB", diz.