O Estado de São Paulo, n. 45763, 02/02/2019. Política, p. A4

 

Reeleito, Maia faz alerta ao governo sobre Previdência

02/02/2019

 

 

Legislativo. Deputado do DEM vai cumprir o terceiro mandato consecutivo no comando da Câmara e diz que “no curto prazo não há 308 votos para aprovar reforma da Previdência

 

Marcação cerrada. Senadores Katia Abreu e Renan Calheiros pressionam Davi Alcolumbre: durante mais de sete horas, ele não levantou da cadeira

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), reeleito ontem com 334 votos, criticou a articulação política do governo Jair Bolsonaro logo após a votação. Disse que “no curto prazo” não há 308 votos necessários para a aprovação da reforma da Previdência, a principal aposta para colocar em equilíbrio as contas públicas. Visto pela equipe econômica como um aliado na votação de medidas importantes, Maia expôs divergências com o principal articulador político do Palácio do Planalto, o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, que também é do DEM.

“A nova forma de Bolsonaro trabalhar pode não gerar 308 votos no curto prazo”, afirmou Maia. Ele ainda acusou Onyx de ter trabalhado contra sua reeleição e ironizou: “Se ele tivesse interferido com sucesso aqui, o resultado seria outro. Não creio que tenha atuado, porque é muito competente”. Em seguida, elogiou o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gustavo Bebianno: “Foi muito correto comigo”.

Reconduzido ao comando da Casa com o apoio do PSL, de Bolsonaro, e de mais 15 partidos, também fez questão de agradecer a dois governadores petistas, Wellington Dias (PI) e Camilo Santana (CE). “Me deram aulas de gestão”, afirmou.

O presidente da Câmara disse que a proposta que endurece as regras de aposentadoria deve levar, “no mínimo”, dois meses de debate na Casa e avaliou que apenas um “pacto” de governadores e prefeitos pode fazer avançar. O prazo frustra a expectativa do governo, que quer acelerar a aprovação. Segundo Maia, é preciso saber os detalhes da proposta e a data de envio do texto ao Congresso.

Por meio de rede social, Bolsonaro parabenizou a eleição de Maia. “Este cargo é de extrema responsabilidade para conduzir a votação dos projetos que o brasileiro tanto almeja”, declarou o presidente, que está internado em São Paulo, se recuperando da cirurgia para retirada de bolsa de colostomia.

 

Recondução. Maia assume seu terceiro mandato no comando da Casa, depois de ter obtido o maior número de votos das três eleições. Ontem, derrotou outros seis candidatos. Seu principal adversário, Fábio Ramalho (MDB-MG), que não teve o apoio do próprio partido, conseguiu apenas 66 votos. Ele derrotou ainda Marcelo Freixo (PSOL-RJ), que conquistou 50 votos, JHC (PSB-AL), com 30, Marcel Van Hattem (NOVO-RS),

com 23, Ricardo Barros (PP-PR), com quatro, e General Peternelli (PSL-SP), com dois.

Depois de costurar alianças desde o fim do ano passado, o demista renovou sua permanência na cadeira fechando acordos em troca de cargos e benefícios para os parlamentares.

Na construção da sua candidatura, Maia cedeu ao PSL a segunda-vice-presidência da Casa. O presidente nacional da sigla, Luciano Bivar (PE), ficou com a vaga no segundo turno de outra votação, ao derrotar Charlles Evangelista (MG). Entre as comissões, a de Constituição e Justiça (CCJ), a mais importante da Casa, também deve ficar com o PSL.

A aliança quase levou Maia a perder apoios como o do PDT e do PCdoB, mas ontem as duas siglas de oposição a Bolsonaro encontraram um jeito de apoiálo sem estar no mesmo bloco partidário. Mesmo entre seus adversários, Maia é visto como alguém que sabe negociar politicamente e dialogar com todos os partidos na Câmara. No cargo, terá de enfrentar a pressão das bancadas para colocar em votação projetos da agenda de costumes e de segurança, como Escola sem Partido e flexibilização que permite o porte de armas.

No dia da votação, Maia também contou com articuladores de peso ao seu lado: Gilberto Kassab (PSD), o governador João Doria (PSDB) e o presidente do DEM, ACM Neto, que circularam pelos corredores do Congresso.

Ao ver o resultado no painel eletrônico do plenário, Maia se emocionou e chorou. Ele foi abraçado por seus colegas e, da cadeira do presidente, fez um breve discurso. “A Câmara precisa de modernização na nossa relação com sociedade, simplificar leis e comandar reformas de forma pactuada com prefeitos e governadores”, afirmou ele.

Ontem, Maia teve seu melhor desempenho, com os 334 votos. Ao assumir a Casa pela primeira vez, em julho de 2016, quando Eduardo Cunha (MDB-RJ) foi afastado por determinação do Supremo Tribunal Federal, ele obteve 285 votos.

MESA DIRETORA

1ª vice-presidência

Marcos Pereira (PRB-SP)

 

2ª vice-presidência

Luciano Bivar (PSL-PE)

Secretarias 1ª: Soraya Santos (PR-RJ)

2ª: Dr. Mário Heringer (PDT-MG)

3ª: Fábio Faria (PSD-RN)

4ª: André Fufuca (PP-MA)