Valor econômico, v. 18, n. 4465, 20/03/2018. Empresas, p. B4

 

Novo conselheiro da Petrobras é contra megaleilão

Rodrigo Polito

20/03/2018

 

 

Recém-eleito representante dos funcionários no conselho de administração da Petrobras, Christian Queipo sinaliza que será um contrapeso no colegiado, caracterizado por um perfil mais liberal. Contrário à realização do megaleilão do excedente da cessão onerosa, ele defende a retomada da visão de empresa integrada e sustentável e propõe a revisão dos planos de negócios e de venda de ativos.

"Gostaria que a Petrobras assumisse o excedente da cessão onerosa, na medida, no ritmo da necessidade do Brasil", afirmou o futuro conselheiro, em entrevista ao Valor. "Minha opinião é que deve respeitar-se o compromisso de estender o direito da Petrobras de explorar o excedente da cessão onerosa", completou, ressaltando que não está a par das negociações entre a petroleira e a União.

Queipo contou que não deverá dar mais entrevistas após assumir o cargo no conselho, o que deve ocorrer na assembleia geral ordinária (AGO) da companhia, ainda sem data marcada, mas que provavelmente será em abril. Enquanto não assume o mandato de dois anos, o engenheiro químico e diretor da Associação dos Engenheiros da Petrobras (Aepet) pretende divulgar suas ideias e convicções.

Filiado ao Sindicato dos Petroleiros do Rio de Janeiro (Sindipetro-RJ), mas sem ocupar cargos sindicais, Queipo é o quarto nome a ocupar a cadeira destinada ao representante dos funcionários no conselho da Petrobras, desde a criação da vaga, por meio da lei 12.353/2010. Transmitindo tranquilidade e adotando tom ameno, o engenheiro defende seus pontos de vista com argumentos que buscam fundamentos técnicos.

Argentino naturalizado brasileiro, Queipo se diz favorável à retomada de uma visão integrada da Petrobras, do poço ao posto, e com atenção especial às fontes renováveis. "Para termos um plano sustentável de negócios, temos que focar em energia. Temos que ter no horizonte do plano um retorno das atividades de energias renováveis, seja biocombustíveis, seja outro tipo de renováveis, solar, eólica, etc".

"Não tem muita lógica vender malha de gasodutos e depois pagar para utilizá-la", diz Queipo sobre NTS

Ele diz que a Petrobras, ao vender ativos de biocombustíveis, vai na contra-mão das demais petroleiras no Brasil. O futuro conselheiro citou como exemplo o programa Renovabio, criado pelo governo e pelo qual as distribuidoras de combustíveis deverão adquirir créditos de descarbonização. Segundo ele, a Shell saiu na frente nesse sentido e formou, em parceria com a Cosan, a Raízen, uma das principais fabricantes de etanol e exportadoras de açúcar do país.

Para Queipo, o problema da estatal na área de biocombustíveis foi justamente não fazer uma operação integrada. "Carregamos a imagem de que a PBIO [Petrobras Biocombustíveis] dá prejuízo porque não se soube integrar a cadeia de negócios. No biodiesel, tínhamos a operação das usinas, mas não tínhamos a produção de matéria-prima. No etanol, tínhamos o contrário. Tínhamos a produção de matéria-prima, só que não participávamos da operação [das usinas]. Não detínhamos a expertise técnica para produção de etanol".

Nessa linha, Queipo quer rever o programa de venda de ativos da Petrobras. "A primeira coisa que tem que se perguntar é se precisamos ou não vender. E, se precisamos vender, vamos vender o que?", disse ele, criticando a alienação de 90% da Nova Transportadora do Sudeste (NTS), responsável por uma rede de gasodutos no Sul e Sudeste, para a Brookfield. Ele ressaltou que a Petrobras terá que pagar uma quantia para utilizar os dutos no futuro.

"Não podemos vender ativos estratégicos que agregam valor à nossa cadeia, mesmo porque, se eu vendo uma malha de gasodutos e depois preciso pagar pela utilização dela, não tem muita lógica do ponto de vista de plano de negócios", afirmou o engenheiro.

Perguntado sobre sua opinião a respeito da operação Lava-Jato e dos atos de corrupção envolvendo contratos da estatal, Queipo diz entender que a empresa foi vítima de um cartel de empreiteiras. A saída, propõe ele, é que a Petrobras reforce sua área de engenheira para desenvolver internamente o projeto básico e, depois, o projeto detalhado do empreendimento.

Sem revelar suas preferências políticas, o futuro conselheiro da Petrobras defende que "quem for que assuma o governo tenha uma postura nacionalista e defenda os interesses da Petrobras como a maioria dos brasileiros apoia".