Valor econômico, v. 18, n. 4464, 17/03/2018. Política, p. A8

 

Alvaro Dias derruba intenção de voto em Alckmin na região Sul

Raymundo Costa

17/03/2018

 

 

Um personagem lateral da pré-campanha de 2018 permeou o almoço que o provável candidato do PSDB ao Palácio do Planalto, Geraldo Alckmin, teve na última semana com os senadores do PSDB, em Brasília: Alvaro Dias, ex-governador do Paraná e virtual candidato do Podemos à Presidência. Ex-tucano, Dias tira votos de Alckmin no Sul do país e engrossa um movimento que pode por um fim à hegemonia do azul (a cor do PSDB) na região.

À saída do almoço com Alckmin, dois senadores do PSDB cruzaram com Dias nos corredores do Senado. "Falamos muito bem de você", disse um deles, esboçando largo e irônico sorriso. "O Geraldo está preocupado com você", falou o outro, mais adiante. Não por acaso: o senador paranaense de fato passou a ser uma pedra no sapato de Alckmin na região, segundo pesquisas divulgadas este ano. A mais detalhada delas, o Datafolha, mostra Dias cinco pontos à frente do governador de São Paulo.

O Sul está deixando de ser azul, mas isso não quer dizer que se tornou vermelho do PT, a cor que predominou nas regiões Norte e Nordeste do país, nas últimas eleições. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva lidera na região, assim como nas demais divisões do país, com 23% das intenções de voto, mas pouco à frente de Jair Bolsonaro (PSL), o virtual candidato da extrema direita, que tem 19%, seguido de Alvaro Dias, que é o terceiro, com 11% - Alckmin fica em quinto, com 6%, atrás até de Ciro Gomes (PDT), com 7% no Datafolha.

Em pelo menos um dos cenários pesquisados pelo Datafolha no fim de janeiro, Alvaro Dias chegou a cravar 18% das intenções de voto, ante 9% de Alckmin - justamente o cenário sem a presença, provável, do ex-presidente Lula na eleição. A rejeição também é a metade da exibida por Alckmin. Nem por isso, até agora, Alckmin se moveu para tentar algum tipo de composição com o senador paranaense. Os maiores apelos que ouviu até agora para desistir em favor de Alckmin partiram do mercado financeiro. Nessas ocasiões sugere que Alckmin talvez devesse apoiá-lo. O PSDB mesmo, ao menos até agora, não fez contato formal. O senador paranaense, por seu turno, tenta sair do confinamento regional: Dias é o sexto no principal cenário nacional do Datafolha, embora nem tão distante de Alckmin, que é o quinto (4% ante 7% do paulista).

O lance mais ousado de Dias é a tentativa de filiar o vereador Mario Covas Neto, rompido com o PSDB, cujo avô, Mario Covas foi um dos fundadores. O pré-candidato do Podemos não tem certeza do êxito da iniciativa, mas já tem a promessa de palanque feita por outro dissidente formado no encontro das placas tectônicas do PSDB: Artur Virgílio, o prefeito de Manaus, dificilmente deixará o partido, mesmo depois de denunciar a prévia tucana para a escolha do candidato do partido. Mas estenderá o tapete para Dias na Zona Franca de Manaus, um território costumeiramente hostil ao PSDB.

O Podemos conta com uma bancada de 16 deputados. Pelos atuais critérios de distribuição do tempo no rádio e na televisão, Dias teria algo em torno de 15 segundos. Mal dá para dizer "Meu nome é Alvaro Dias". A bancada deve crescer na "janela partidária" de março, talvez para 20 deputados, mas isso não deve alterar o tempo de mídia do candidato. Mas o partido entrou com uma ação na Justiça tentando mudar o critério para a distribuição do tempo de TV, que leva em conta as bancadas eleitas em 2014. Mais fácil seria costurar alianças com outras pequenas siglas - mas a conversa com o PRB está congelada até o fim do prazo o troca-troca partidário.

O PRB seria o maior reforço para Dias, mas a sigla também é cobiçada por outros eventuais candidatos, caso do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Sem dinheiro, grandes bancadas e um robusto tempo de televisão, Dias pode ser uma presa fácil para os tubarões maiores nas águas de 2018. Ele já apostou, uma vez, em ser o candidato da renovação, em 1989, quando governava o Paraná e ostentava excelentes índices de aprovação popular. Dias, Valdir Pires (governador da Bahia) e Iris Rezende (governador de Goiás) resolveram desafiar o mito Ulysses Guimarães em prévias do PMDB para a escolha do candidato do partido às primeiras eleições diretas para presidente.

Foram massacrados (Valdir ainda arrumou um lugar na vice de Ulysses), mas o instinto de Alvaro estava certo: o eleitor queria renovação, rejeitou toda a nomenclatura política da época e mandou Fernando Collor e Luiz Inácio Lula da Silva para o segundo turno. O senador, hoje, vê semelhanças com 1989 "exatamente pelo que há de revolta popular diante da situação do país". Agora com 73 anos, Dias acredita que a população procura por um candidato que reúna "experiência e passado limpo".

Dias está em seu quarto mandato como senador da República, o terceiro consecutivo, e no oitavo partido de sua já longa trajetória - MDB, PMDB, PST, PP, PSDB, PDT, novamente PSDB, PV e agora o Podemos. "Nunca mudei de partido, mudei de sigla para encontrar um partido que não encontrei". No Senado, Alvaro Dias tem pautado sua atuação pelas denúncias de corrupção. Bem antes dos procuradores do Paraná entrarem na história, ele já denunciava as falcatruas na Petrobras em 2009. Mas os contatos que tem com os procuradores da Operação Lava-Jato e o juiz Sergio Moro no máximo podem ser classificado de protocolares.

Dias resume sua atuação numa publicação intitulada "Alvaro Dias - os 10 mil dias de corrupção", na qual relata sua atuação em dezenas de CPIs, nos governos de Fernando Henrique Cardoso, com o qual rompeu no segundo mandato do presidente, e de Luiz Inácio Lula da Silva até Dilma Rousseff e Michel Temer. A publicação leva a grife da Gráfica do Senado Federal.