Valor econômico, v. 18, n. 4458, 09/03/2018. Política, p. A6

 

Ciro anuncia Mangabeira, Marconi e Benevides para programa de governo

Vandson Lima

09/03/2018

 

 

Confirmado ontem como pré-candidato à Presidência da República pelo PDT, Ciro Gomes afirmou que a equipe que lidera a elaboração de seu plano de governo conta com três nomes principais: Roberto Mangabeira Unger, professor da Universidade de Harvard (EUA) e ex-ministro de Assuntos Estratégicos dos governos de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff; Nelson Marconi, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV); e Mauro Benevides Filho, secretário de Fazenda do Ceará.

"Vou apresentar o desenho de uma reforma fiscal, uma previdenciária e uma tributária. Um detalhado plano de reindustrialização, com quatro blocos: complexo de óleo e gás, da saúde, do agronegócio e defesa. Vou indicar como criaremos alguns milhões de empregos a curto prazo via construção civil. E o sentido superior de nossa presença na eleição é a educação, basta olhar para o Ceará", prometeu o pré-candidato.

Ciro também disse que apresentará um plano para a segurança pública. Criticou a intervenção federal no Rio de Janeiro, mas disse entender porque a medida tem boa aceitação da população. "A intervenção é politiqueira, mal intencionada, não foi planejada e não tem orçamento. Mas não somos adeptos do quanto pior melhor. Sentimos o pulso da rua".

O pré-candidato fez uma avaliação do cenário eleitoral. Em sua opinião, a tendência é que ele e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), disputem o segundo turno. "Vamos afunilar para cinco candidaturas. Por um lado progressista, Lula (PT) e eu. Num campo mais ou menos isolado, Marina Silva (Rede). E no campo da direita, Jair Bolsonaro (PSL) e Alckmin", apontou. "Aí você tem Bolsonaro tamponando este candidato real da direita civilizada, que é Alckmin. E Lula tamponando a minha evolução. Na medida em que um e outro não estejam no processo, eu e Alckmin estaremos no segundo turno", previu.

Ciro relembrou sua fidelidade a Lula, mas disse acreditar que as circunstâncias impulsionarão sua candidatura. O ex-presidente foi condenado em segunda instância pelo TRF-4, o que o torna inelegível. "Ao longo dos últimos 16 anos, ajudei Lula sem lhe faltar nenhuma vez. Isto é história e não há intriga que desfaça isso. Mas vejo o que acontece no país e vejo uma responsabilidade muito grande crescer nas minhas costas".

Questionado se espera o apoio do PT com um impedimento de Lula, Ciro disse que a sigla não tem tradição de apoiar candidatos de outras legendas. Mas voltou a elogiar o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, que, considera, seria seu "vice dos sonhos" na chapa presidencial. "Haddad foi um extraordinário ministro da Educação e fez uma governança em São Paulo que respeito".

O anúncio coincidiu com o dia marcado pela sigla para reinaugurar o auditório Neuza Goulart Brizola, como forma de lembrar o Dia Internacional da Mulher. Ciro não escapou de questionamentos sobre o episódio, quando foi candidato ao Planalto em 2002, no qual afirmou que o papel de sua então esposa, a atriz Patrícia Pillar, era o de "dormir" com ele. A controvérsia abalou fortemente à candidatura e minou suas chances.

Ciro admitiu ter cometido um grande erro e disse que, agora, será mais cuidadoso no que fala.

"Eu, que sou feminista, fiz uma piada de extremo mau gosto com a mulher da minha vida, o amor da minha vida, alguém por quem tenho respeito intelectual, e por isso pedi desculpas. Desta vez tomarei muito mais cuidado".

O episódio trouxe um duro aprendizado ao novamente candidato, disse. "Não adianta nada ser brilhante se eu próprio, por uma piadinha, reproduzia cultura machista. Aprendi que minha tarefa é não só não ser machista, mas não reproduzir essa cultura".

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Pedetista depende de apoio de Lula, opina cientista político

Estevão Taiar

09/03/2018

 

 

A participação de um outsider na eleição presidencial não está descartada, embora seja menos provável do que há um mês, diz o cientista político Fernando Abrucio. Ele próprio tem sido chamado para conversar com personagens de fora do meio político, embora não revele os nomes.

"As próximas pesquisas eleitorais vão mostrar que candidatos mais ao centro não terão tempo de decolar" antes do prazo de desfiliação partidária, em 7 de abril, o que deve acelerar a busca por algum nome de fora da política. "Tem muita gente desesperada", afirma. Abrucio participou ontem do I Seminário de Análise Conjuntural, promovido pelo Ibre-FGV.

Segundo Abrucio, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), é o favorito para ganhar a eleição, desde que chegue no segundo turno. "Alckmin é o candidato mais forte do segundo turno", diz. "A questão é ele chegar lá", afirma o cientista político, para quem a estratégia do governador é "do pescador que senta à beira do rio e diz: calma que o peixe está chegando". Mesmo assim, Abrucio diz que a experiência joga a favor de Alckmin. "Dos candidatos de centro, é o com maior chances de ganhar."

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por sua vez, parece inviabilizado juridicamente de concorrer, mas pode colocar Ciro Gomes (PDT) no segundo turno, se decidir apoiá-lo. "Se isso ocorrer, Ciro já está no segundo turno", diz, citando também o grande número de eleitores que o ex-governador do Ceará tem no Nordeste. "Mas Ciro só tem chance de ter voo maior com Lula", afirma.

Se Lula é "o eleitor positivo", o presidente Michel Temer é "o eleitor negativo". Para Abrucio, vários fatores jogam contra o presidente: a lentidão da recuperação econômica, o foco quase exclusivo na economia ("depois de dois anos ele descobriu a segurança pública") e as denúncias de corrupção ("é o que está colado na testa do presidente, mesmo que economia melhore, é difícil tirar"). Bolsonaro "é o candidato que todos [os adversários] querem no segundo turno". "Ele vai ser atacado de todos os lados", diz.

Abrucio afirma que Marina é "uma candidata em decadência política", que, sem algum "acontecimento imponderável", deve ter algo em torno de 5% dos válidos. O senador Alvaro Dias (Pode-PR) deve ter patamar semelhante, enquanto qualquer chance de candidatura competitiva do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, "morreu" com a intervenção federal no Rio de Janeiro. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), tem mais chances de concorrer, embora falte densidade eleitoral. "Se concorrer ao governo do Rio, fica em quarto", diz.

Abrucio afirma que o cenário mais provável no segundo turno, por enquanto, é de duas candidaturas polarizadas, como a do eventual dono do apoio de Lula e Bolsonaro. Mas não descarta uma disputa do centro com um candidato polarizado, à direita ou à esquerda, nem a de um outsider com um polarizado.