Valor econômico, v. 18, n. 4492, 27/04/2018. Brasil, p. A2

 

Nível de reservatórios sobe e vazão do rio São Francisco aumenta depois de 5 anos

Marina Falcão

Camila Maia

27/04/2018

 

 

Pela primeira vez em cinco anos, a Agência Nacional de Águas (ANA) vai aumentar a vazão no rio São Francisco. Com melhora na situação dos reservatórios de Sobradinho, Três Marias e Itaparica, por conta das chuvas no período de fevereiro a abril e da acumulação nos anos que água foi poupada, a vazão será aumentada de 550 metros cúbicos por segundo para 600 metros cúbicos por segundo, a partir do dia 1º de maio.

O ajuste é pequeno e a vazão está longe dos níveis anteriores ao período de seca (de 1.200 metros cúbicos por segundo), mas indica uma "reversão de tendência", segundo Joaquim Gondim, superintendente de operações da ANA.

Segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), a elevação da vazão no rio vai permitir um aumento da geração hídrica na região da ordem de 380 megawatts (MW), reduzindo a geração de energia pelas termelétricas do Nordeste, que têm custo mais elevado.

O ajuste será possibilitado pela melhora na situação hídrica da região. Dados do ONS mostram aumento significativo no nível dos reservatórios na bacia do São Francisco, especialmente Sobradinho, que representa 58,26% do subsistema Nordeste. Hoje, Sobradinho tem 38,08% de seu volume útil, Três Marias tem 48,11% da capacidade total, e Itaparica, 21,22%. Com isso, o subsistema Nordeste chegou a 40,53% de capacidade.

No fim de abril do ano passado, os reservatórios do Nordeste tinham chegado a 21,49% da capacidade total, resultado de um verão de poucas chuvas. Três Marias tinha 31,92% de armazenamento, Itaparica, 18,65%, e Sobradinho, 15,61%.

Gondim diz que novos aumentos de vazão do São Francisco podem ocorrer até o fim do ano. Segundo ele, o mês de abril surpreendeu positivamente em termos de precipitação em quase todo o Nordeste. No caso da região dos reservatórios do São Francisco, é possível dizer que o período de chuvas "já está consolidado" e dá segurança para o aumento da vazão.

A vazão da hidrelétrica de Xingó será aumentada para 690 metros cúbicos por segundo no período de segunda a sexta-feira, entre 10h e 22h. Nos demais horários, a vazão continuará em 550 metros cúbicos por segundo. Com isso, a média semanal passará para 600 metros cúbicos por segundo.

O Nordeste enfrentou estiagem severa desde 2012 e, apesar das chuvas, não é possível dizer que a seca acabou. "Isso só será possível de avaliar depois de acabar o período chuvoso, em junho. Mas tudo indica que ele não será suficiente para recuperar completamente a baixa dos reservatórios dos últimos anos", diz. Ele ressalta que reservatórios importantes como o Castanhão, no Ceará, ainda está com apenas 8% da capacidade.

Dados do monitor de secas do Nordeste, elaborado pela Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), aponta que a região fechou março com 21,92% do seu território livre de seca relativa. O dado é alarmante, mas é melhor quando comparado a março de 2017, quando apenas 5,54% do Nordeste estava sem seca.

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Início do período seco deve acionar bandeira amarela

Camila Maia

Rodrigo Polito 

27/04/2018

 

 

Chuvas abaixo da média e o início do período seco do ano devem fazer com que a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) acione a bandeira amarela hoje, com um acréscimo de R$ 1 a cada 100 quilowatts-hora (kWh) consumidos em maio. Nesta semana, a agência reguladora atualizou as premissas do risco hidrológico (medido pelo fator GSF, na sigla em inglês) utilizadas para calcular as bandeiras. Se não fosse por isso, a bandeira tarifária deveria ser o primeiro patamar da vermelha, com custo adicional de R$ 3,00 a cada 100 kWh.

Estimativas de comercializadoras consultadas pelo Valor indicam que o preço de liquidação das diferenças (PLD), referência das operações do mercado à vista de energia, deve ficar acima de R$ 200 por megawatt-hora (MWh) na próxima semana. Antes, a bandeira tarifária refletia um número sempre muito semelhante ao PLD, que era o custo marginal da operação (CMO). Na prática, a sigla mede o valor mínimo necessário para geração de energia no período, de acordo com a hidrologia e o nível dos reservatórios.

Desde o fim do ano passado, a Aneel aprimorou o mecanismo das bandeiras, e passou a considerar também o nível dos reservatórios e o patamar de GSF em sua conta. Isso aconteceu porque muitas distribuidoras estavam expostas ao risco hidrológico, sem a remuneração adequada pelas bandeiras, causando um descasamento de caixa que eventualmente aumentava o custo dos consumidores com a conta de luz.

Nesta semana, as premissas foram atualizadas, e o déficit hídrico precisa ser maior para que a bandeira vermelha seja acionada.

A Comerc prevê um PLD de R$ 217/MWh a R$ 262/MWh para a próxima semana, disse o presidente da comercializadora, Cristopher Vlavianos. A projeção é semelhante com a feita pela Delta Energia. Segundo Débora Mota, gerente de gestão de clientes da comercializadora, a previsão de um maio mais seco deve elevar o preço de energia para acima de R$ 200/MWh. O déficit hídrico, por sua vez, deve ficar entre 5% e 6%. O GSF deve se acentuar mais no segundo semestre do ano, para uma faixa de 15%.

Para Rafael Bozzo, analista regulatório da Ecom Energia, a estratégia de sazonalização das hidrelétricas afeta muito o GSF e, consequentemente, as bandeiras tarifárias. "Vemos maior probabilidade de bandeira vermelha de julho a novembro", disse.

De acordo com um executivo de uma comercializadora de energia que pediu para não se identificar, os valores de PLD previstos para a próxima semana estariam dentro do primeiro patamar da bandeira tarifária vermelha. Com a mudança dos gatilhos, os valores de PLD se enquadrarão no patamar da bandeira amarela. Segundo ele, para um mesmo valor de PLD e um mesmo número de GSF, a nova metodologia da Aneel pode resultar em uma cor da bandeira tarifária diferente, com um custo inferior ao que seria obtido com a metodologia que a agência vinha utilizando desde setembro do ano passado. "A chance de termos bandeira vermelha no segundo semestre ainda existe, mas a chance é menor do que antes", explicou ele.

Coincidência ou não, na avaliação dele, a nova metodologia aprovada esta semana pela Aneel e com vigência já para maio resulta na possibilidade menor de acionamento de bandeiras tarifárias justamente em um ano eleitoral.