Valor econômico, v. 18, n. 4520, 08/06/2018. Empresas, p. B1

 

Petrobrás vence leilão e mantém força na exploração do pré-sal

André Ramalho

Cláudia Schüffner

Rodrigo Polito 

08/06/2018

 

 

Valendo-se da lei que lhe dá preferência na aquisição de blocos ofertados sob o regime de partilha, a Petrobras foi a grande protagonista da 4ª Rodada do pré-sal, ontem, ao arrematar, como operadora e líder de consórcio, todas as áreas leiloadas. A estatal desembolsará cerca de R$ 1 bilhão pelos ativos. Ao todo, a licitação negociou três dos quatro blocos ofertados e gerou uma arrecadação de R$ 3,15 bilhões à União, em bônus de assinatura.

Por duas vezes, a Petrobras apresentou oferta original abaixo da concorrência e optou por acompanhar as melhores propostas e, assim, assumir a operação dos consórcios vencedores. Foi a primeira vez que isso aconteceu desde a regulamentação, em 2017, da lei que acabou com a exclusividade da operação da estatal no pré-sal - mas criou um mecanismo que permite à empresa optar por integrar o consórcio vencedor.

Foi assim que aconteceu no bloco de Uirapuru, que recebeu propostas de quatro consórcios diferentes. A Petrobras entrou originalmente numa sociedade com BP e Total, ofereceu um excedente em óleo (percentual da produção que vai para a União) de 72,45%, mas perdeu. A Petrobras optou, então, por acompanhar a oferta vencedora (75,49%) e assumiu a liderança do consórcio, ao lado da Petrogal, Equinor (ex-Statoil) e ExxonMobil.

Resultado do certame mostra que não existe espaço para petroleiras fora das chamadas "majors" nessa área

A história se repetiu no leilão de Três Marias, onde o consórcio Petrobras/BP/Total apresentou um excedente de 18%. A estatal brasileira decidiu acompanhar a proposta vencedora (49,95%) e assumiu a operação do consórcio, que conta com a Chevron e Shell.

O presidente da Petrobras Ivan Monteiro, disse que os resultados da companhia no leilão são positivos e estão em linha com a premissa da empresa de ampliar seu portfólio exploratório, dentro do orçamento previsto para o ano.

"A avaliação é muito positiva. Somos operadores das três áreas. Temos um longo histórico de relacionamento com as empresas com as quais vamos participar nos consórcios. Estamos extremamente satisfeitos", afirmou.

Ao todo, desde 2017, a Petrobras adquiriu 20 novos ativos nos leilões de blocos exploratórios, por R$ 6,1 bilhões. O foco está no pré-sal, área de negócios que a estatal elegeu como "core business". Uirapuru, Dois Irmãos e Três Marias somam cerca de 12 bilhões de barris 'in situ', segundo a Agência Nacional de Petróleo (ANP). Os recursos representam estimativa preliminar do volume de óleo originalmente contido nos reservatórios, mas ainda não comprovado e não necessariamente recuperável.

A única área que não recebeu ofertas foi a de Itaimbezinho. O diretor-geral da ANP, Décio Oddone, explicou que o ativo não fazia parte do leilão, inicialmente, mas que o governo decidiu incluir o bloco na rodada a pedido de uma das empresas inscritas, mas que acabou não confirmando o interesse pelo ativo. Para Oddone, a falta de ofertas pela área de Itaimbezinho é "uma pena, mas não frustra" o resultado da 4ª Rodada do pré-sal.

"Em qualquer aspecto, [o leilão] foi um sucesso", afirmou Oddone, citando o ágio médio de 202,3% em excedente em óleo e a presença das principais petroleiras do mundo na licitação.

Nas três áreas arrematadas, a Petrobras será sócia de seis empresas diferentes: Chevron, Shell, Petrogal, Exxon, Equinor e BP. O leilão confirmou expectativas e contou com a presença apenas das grandes operadoras. Onze das 16 empresas inscritas na rodada fizeram propostas, e só sete ganharam.

O presidente da Equinor no Brasil, Anders Opedal, disse que a empresa saiu do leilão muito bem posicionada. A norueguesa adquiriu Dois Irmãos (Bacia de Campos), próxima da concessão BM-C-33, que concentra quatro descobertas de gás (dentre elas Pão de Açúcar e Gávea), da ordem de 1 trilhão de pés cúbicos. Já Uirapuru (Bacia de Santos) fica próximo de Carcará, também operada pela norueguesa. "Temos duas áreas agora e estamos muito bem posicionados nas bacias de Campos e Santos", disse.

Já a Exxon classificou Uirapuru como um ativo de "altíssimo valor" e que o Brasil continua sendo um investimento chave para a empresa. Petroleira mais atuante nos leilões do país desde o ano passado, a Exxon elevou sua carteira exploratória de duas para 25 concessões em menos de um ano.

Destaque também para a Chevron, que pela primeira vez adquiriu uma área num leilão de partilha. A companhia produz nos campos de Frade e Papa-Terra, no pós-sal da Bacia de Campos. Na 15ª Rodada, de março, a empresa já havia comprado quatro blocos com potencial para o pré-sal, mas que estão fora do polígono e foram contratadas sob concessão.

O presidente da Shell no Brasil, André Araujo, avalia que o resultado vai consolidar a posição do país como um dos principais destinos dos investimentos da petroleira em águas profundas. A meta da empresa é de chegar a 2020 produzindo mais de 900 mil barris diários extraídos no Brasil, Golfo do México, Nigéria e Malásia. Ele afirmou, ainda, que a empresa avalia "com carinho" participar da 5ª Rodada do pré-sal, em novembro.

Um executivo que ficou de fora do leilão disse que o resultado mostra como não existe espaço para as não "majors" no pré-sal. A fonte destaca que a participação governamental (excedente em óleo, royalties e impostos) no regime de partilha ultrapassa os 90% da renda dos projetos. "Ainda não consegui fechar essa conta [como uma empresa média]", afirma o executivo.