Valor econômico, v. 18, n. 4518, 06/06/2018. Política, p. A8

 

União do 'centro' é defendida em evento esvaziado

Raphael Di Cunto

06/06/2018

 

 

Num evento esvaziado, sem representantes dos principais partidos que o grupo pretendia atrair, aliados do pré-candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, lançaram ontem manifesto "por um polo democrático e reformista" com o objetivo de unir as candidaturas de "centro" em torno de um único nome já no primeiro turno da eleição.

O secretário-geral do PSDB, deputado Marcus Pestana (MG), principal articulador do movimento ao lado do senador Cristovam Buarque (PPS-DF), citou como candidatos do "centro" o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles (MDB), o senador Alvaro Dias (Pode-PR), a ex-senadora Marina Silva (Rede) e o empresário Flávio Rocha (PRB). No ato, contudo, não havia representante desses partidos.

A maioria dos 19 deputados presentes era do PSDB, com um parlamentar do PSD, três do PPS - incluindo seu presidente, Roberto Freire (SP), que já declarou apoio a Alckmin - e um do MDB, o deputado Jarbas Vasconcellos (PE). O MDB governista, ligado ao presidente Michel Temer, passou longe do lançamento.

Três deputados do DEM chegaram a participar da elaboração do documento, mas decidiram não aparecer no ato ontem e dizem que não assinaram o texto, apesar de aparecerem como signatários. "Participamos da ideia, mas não poderíamos fazer nada que gerasse atrito com o partido, que tem pré-candidato próprio", disse José Carlos Aleluia (BA).

O grupo lançará um site para que o manifesto receba adesões da sociedade e os pré-candidatos à Presidência serão procurados. Alguns, como Dias e Maia, já rejeitaram compor com o PSDB.

Pestana diz que há duas opções: que esses partidos se aliem no primeiro turno para evitar a fragmentação que poderia levar aos "extremos" - na visão do grupo, a esquerda e o deputado federal Jair Bolsonaro (PSL-RJ); ou que façam apenas um pacto não agressão, com promessa de apoio no segundo turno. "O problema dessa segunda opção é que, divididos, podemos não chegar lá", afirmou.

O ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso (PSDB), um dos signatários, mandou uma carta para defender que o manifesto "é um chamado à consciência" sobre as consequências profundas e duradouras que terão nossas ações e inações. "O Brasil precisa recuperar a confiança no futuro. Não chegaremos lá voltando ao passado do autoritarismo ou ao passado recente do lulopetismo", escreveu.

Os discursos seguiram o tom contra os "radicalismos". Roberto Freire acusou uma aliança entre a esquerda e Bolsonaro nos protestos dos caminhoneiros para desestabilizar o país e derrubar o governo. "Temos que ter clareza que, se não conseguirmos a união no primeiro turno, algo de importante sai daqui: o compromisso com a liberdade democrática e um pacto de não agressão", afirmou. Outros discursos fizeram referência ao movimento LGBT, crítico a Bolsonaro.

O manifesto faz acenos a eleitores dos dois grupos: defende o combate a corrupção e postura firme na segurança pública "baseada no princípio de tolerância zero com o crime organizado", a manutenção do Bolsa Família e soluções para moradia, "aprendendo com a experiência acumulada pelo Minha Casa, Minha Vida". Também sinalizou ao mercado com a promessa de equilíbrio fiscal, diminuição do Estado e de uma reforma do sistema previdenciário.

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Alckmin acena e Marina nega articulação para aliança

 Fernando Taquari

Daniela Chiaretti 

06/06/2018

 

 

De olho em uma eventual aliança na eleição presidencial, o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) fez ontem uma série de elogios à ex-senadora Marina Silva e sugeriu que uma aproximação com a pré-candidata do Rede Sustentabilidade seria bem-vinda. O tucano, porém, procurou ser cauteloso ao tratar da possibilidade de um acordo com a ex-senadora, cuja a premissa seria ter ele na cabeça de chapa.

"Não posso cometer uma indelicadeza dessas com um pré-candidato que está trabalhando [para se viabilizar]. Independentemente de disputar ou não, Marina é uma pessoa pela qual tenho até apreço pessoal. Eu gosto do estilo da Marina", disse Alckmin após encontro, na capital paulista, com empresários da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (ABDIB).

As declarações do tucano foram dadas no mesmo dia em que foi lançado, em Brasília, um manifesto suprapartidário pela união das candidaturas presidenciais de centro. Há especulações de que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, um dos signatários da iniciativa, estaria propondo, em conversas de bastidores, uma aproximação entre Alckmin e Marina.

Aliados do ex-governador avaliam que a aliança com a ex-senadora seria positiva. No entanto, não acreditam nesta hipótese. Argumentam que nenhum dos dois pré-candidatos ao Palácio do Planalto estão dispostos a abrir mão da cabeça de chapa.

Em meio aos rumores, o presidenciável do PSDB fez questão de ressaltar as qualidades da ex-senadora ao classificá-la como "idealista, correta e com espírito público". Alckmin disse, inclusive, que Marina amadureceu e parece mais disposta ao diálogo. "É uma pessoa lúcida, amadurecida. Tem convicções, mas não radicalismos", frisou.

Há duas semanas, em reunião com empresários do setor varejista, Alckmin afirmou, sem entrar em detalhes, que gostaria de ter uma mulher na vice. Marina, no entanto, não dá sinais de que possa se aliar ao PSDB. A ex-senadora negou conversas ou articulações neste sentido. "Não é verdade que fui abordada para discutir uma aliança de centro", disse em nota a pré-candidata do Rede.

"Desde 2010 que, em consonância com o desejo de mudança que perpassa diversos setores da sociedade brasileira, venho fazendo o esforço de quebrar a polarização que levou o país a essa grave crise", acrescentou numa referência ao PT e ao PSDB, que polarizam o cenário político desde 1994. "Nossa pré-candidatura em 2018 continua na mesma direção: de independência à polarização e a favor do Brasil", concluiu Marina.

Um eventual acordo com o Rede serviria como um contraponto para o presidenciável do PSDB no momento em que ele enfrenta um "quadro de maré baixa", como define um interlocutor. Acossado por investigações que apontam dinheiro de caixa dois em eleições passadas, Alckmin está sob pressão de dirigentes tucanos que apontam erros e lhe cobram um melhor planejamento na pré-campanha em meio aos resultados pífios nas pesquisas de intenção de voto.

Ontem, o tucano voltou a minimizar as sondagens e o potencial do adversário do PSL, o deputado Jair Bolsonaro (RJ), que aparece na liderança nos cenários sem o ex-presidente Lula. "Acho que ele [Bolsonaro] não chega no segundo turno. Vocês se impressionam com pesquisa antes da hora. A eleição vai começar depois que souberem quem são os candidatos, depois da Copa do Mundo e duas semanas depois que começar a campanha no rádio e na TV", ressaltou.