Título: Ideb revela os desafios do ensino
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Fonte: Correio Braziliense, 16/08/2012, Opinião, p. 32

Embora avalie uma ínfima parte dos alunos matriculados, o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) é o melhor retrato de que dispõe o país sobre a qualidade do ensino entre o 1º e o 9º ano da vida escolar. Da sua quarta edição, referente a 2011, somente participaram 70 mil dos 2,2 milhões de estudantes das redes pública e privada. Portanto, antes mesmo de se falar da imagem produzida — certamente mais do que uma miragem, apesar dos intrínsecos riscos de distorções —, vale defender que o governo amplie os investimentos em sua realização para apurar o foco e poder avançar com consistência no que de fato precisa buscar: a qualificação do brasileiro para os desafios do mundo globalizado.

Dito isso, independentemente das mensurações existentes, salta aos olhos a formação precária oferecida por nossas escolas, com as exceções de praxe de uma ou outra ilha de excelência. Ou seja, a frustração do setor é um dos mais notórios gargalos do desenvolvimento nacional. Quanto à parte que cabe ao Ideb, apurou-se, no ano passado, que o ensino fundamental superou a meta estipulada em 0,4 ponto, batendo em 5,4 no primeiro ciclo (da 1ª à 5 série), e em apenas 0,2 ponto no segundo (da 6ª à 9ª), alcançando 4,1.

Comemorar conquista tão tímida — destaque-se que o ensino médio nem isso obteve, ficando estagnado em 3,7 pontos — seria fazer pouco da educação. Afinal, esse é o ritmo do Brasil do futuro, não o da nação que se coloca diante da humanidade como a sexta potência econômica do planeta e não tem um minuto a perder. Ponto, pois, para o ministro da Educação, Aloizio Mercadante.

Além de fugir do oba-oba e encarar a dura realidade da estabilização de uma situação ruim, ele apontou as lições certas a serem tiradas do Ideb. Propôs enxugar o currículo, hoje com 13 disciplinas obrigatórias, para centrar esforços no que de fato interessa. É indispensável que as prioridades recaiam sobre o português e a matemática. Foi mais longe, ao cravar como principal saída do atraso o investimento em escolas de tempo integral.

São medidas acertadas. Mas, no meio desse caminho, há a monumental pedra da distância entre o discurso e a prática. O ensino é destaque em toda propaganda eleitoral e em todo programa de governo. No Brasil, contudo, patina inclusive na rede privada, que, embora apresente médias nacionais no nível fundamental bem acima das do setor público (6,5 nos primeiros anos e 6 nos finais), ficou 0,1 ponto aquém da meta estipulada pelo MEC.

Ressalve-se que o ensino médio se manteve em 3,7 pontos. Não por acaso, no último Programa de Avaliação de Alunos (Pisa), da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), fomos o 53º entre 65 países. E a China, nossa companheira de Brics, a primeira. Passa da hora de acordar para o fato de que o grau de instrução dos cidadãos é o melhor espelho do patamar de desenvolvimento de um país.