Título: Brasileiros justiçados
Autor: Luna , Thais de
Fonte: Correio Braziliense, 16/08/2012, Mundo, p. 35

Começa hoje a missão do Brasil em San Matías (extremo leste da Bolívia) para apurar o assassinato de dois brasileiros, queimados vivos, na noite de terça-feira, a apenas cinco metros do posto policial onde estavam detidos. O grupo, comandado pela equipe do Consulado Geral do Brasil em Santa Cruz de la Sierra, contará com agentes da Polícia Federal (PF) e com um funcionário do Itamaraty. De acordo com a imprensa local, as vítimas seriam Rafael Max Dias, 27 anos, e Jefferson Castro de Lima, 22, presos na tarde de terça-feira por supostamente terem matado a tiros três bolivianos. A execução dos dois jovens, naturais de Várzea Grande (MT), foi feita por cerca de 300 moradores furiosos, que retiraram ambos à força do posto, jogaram gasolina em seus corpos e atearam fogo. O local dos assassinatos fica na fronteira com o Brasil, próximo a Cárceres (MT).

O ministro Manuel Montenegro, adido de imprensa da Embaixada do Brasil em La Paz, explicou ao Correio que a missão verificará, com detalhes, as circunstâncias dos cinco assassinatos. %u201CEm seguida, pretende-se identificar os restos mortais, a fim de entrar em contato com os familiares para que sejam tomadas as providências de repatriamento%u201D, descreveu. Os oficiais devem colaborar com as autoridades locais nas investigações. Montenegro ponderou que é preciso confirmar a identidade dos jovens, já divulgada pelos jornais bolivianos, porque %u201Cnão necessariamente eles usavam os nomes verdadeiros%u201D. %u201CAlém disso, não existe confirmação se há o registro da entrada deles no país%u201D, advertiu.

A dupla foi enterrada ontem em uma vala comum, o que dificultará o processo de repatriação dos corpos. A polícia de San Matías informou à imprensa que, devido ao calor intenso e à falta de familiares que reclamassem os cadáveres, foi necessário sepultá-los. Com isso, a repatriação dos restos mortais dependerá da exumação. %u201CÉ um processo bem burocrático. Caso os parentes desejem, devido ao estado dos corpos, eles podem ficar enterrados na Bolívia mesmo%u201D , admitiu o diplomata.

Segundo o sargento Gróver Ramos, a morte dos brasileiros foi inevitável. %u201COs dois foram queimados a cinco metros da porta da delegacia. Quando a população tomou conhecimento do crime que eles tinham cometido, invadiu o local e arrancou os homens à força%u201D, descreveu ao jornal Diario El Deber, de Santa Cruz. %u201CEra impossível controlar essa gente. Temos sete policiais, nada mais%u201D, explicou o membro da Força Especial de Luta contra o Narcotráfico (FELCN). Em toda a cidade, existem apenas 10 policiais.

Relatos dão conta de que, antes de atear fogo aos dois brasileiros, os moradores os espancaram no meio da rua. A justifica dos cidadãos de San Matías para o linchamento é de que estão cansados de tantos assassinatos na cidade e da inoperância da Justiça. Os 300 integrantes da ação apedrejaram a delegacia local, que ficou danificada.

Crime

Rafael e Jefferson eram suspeitos de ter matado a tiros, na segunda-feira, os bolivianos Paulino Parabá Ramos, 33 anos, Banderley Costas Parabá, 27, e Edgar Suárez Rojas, 26. Os brasileiros teriam discutido com os bolivianos a respeito da venda de duas motos que ambos teriam roubado no Brasil e levado para a Bolívia. Rafael seria o autor do triplo homicídio e Jefferson, seu cúmplice. Sergio Ramos Poñé, um dos sobreviventes da chacina, relatou ao Diario El Deber que só se salvou porque fingiu-se de morto, depois de levar um tiro no braço. Samuel Carvajal Salvatierra, o outro ferido, está internado num hospital de Cáceres. Uma das versões do tiroteio é de que os brasileiros estariam tentando vender a moto para o grupo de San Matías, enquanto outra dá conta de que todos eram delinquentes e festejavam a venda já realizada.

A dupla fugiu e só foi encontrada no dia seguinte. O policial Ignacio Lara Orellana, do comando do departamento de Santa Cruz, contou ao Correio que os oficiais da cidade capturaram os brasileiros depois de um tiroteio. %u201CEles foram encontrados em um morro, em Fátima, por onde tentavam fugir%u201D, recordou. %u201CHouve, então, uma troca de tiros com a polícia de San Matías. Em seguida, os oficiais conseguiram levá-los à delegacia%u201D, descreveu Orellana. Os três bolivianos supostamente assassinados pelos brasileiros foram enterrados ontem.

Os dois foram queimados a cinco metros da porta da delegacia. Era impossível controlar esta gente%u201D

Grover Ramos,policial de San Matías