O globo, n. 31312, 30/04/2019. País, p. 4

 

Carlos: comunicação do Planalto está ‘falha’ há meses

30/04/2019

 

 

Crítica do filho do presidente ocorre no momento em que a ala ideológica tenta diminuir a influência do ministro Santos Cruz

O vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), filho do presidente Jair Bolsonaro, criticou ontem a comunicação do Palácio do Planalto. Carlos é alinhado à ala ideológica do Planalto, que disputa influência no governo com os militares. Como informou reportagem publicada ontem pelo GLOBO, o grupo já pede abertamente para que Bolsonaro diminua o poder do ministro Carlos Alberto dos Santos Cruz , da Secretaria de Governo (Segov), à qual a Secretaria de Comunicação (Secom) é subordinada.

“Vejo uma comunicação falha há meses da equipe do Presidente. Tenho literalmente me matado para tentar melhorar, mas como muitos, sou apenas mais um e não pleiteio e nem quero máquina na mão. É notório que perdemos oportunidades ímpares de reagir e mostrar seu bom trabalho”, escreveu, no seu Twitter. Carlos também escreveu ontem que seu pai poderia convidá-lo para comandar um ministério se ele quisesse, negando ter interesse em comandar a Secretaria de Comunicação.

No fim da tarde de ontem, Santos Cruz se reuniu com o presidente Jair Bolsonaro. Oficialmente, o tema da audiência era a publicidade do governo e de empresas estatais, que deverão ter diretrizes estabelecidas pelo chefe do Executivo, segundo informou o porta-voz da Presidência, Otávio do Rêgo Barros.

— Essa diretriz, vamos imaginar que seja de um plano político mais alto, que é o presidente. Essa diretriz em consórcio com a Segov/Secom é confirmada (...). Na ponta da linha, essas empresas e ministérios estabelecerão, em cima dessas diretrizes, os pressupostos para contratação das suas propagandas —disse Rêgo Barros.

O porta-voz admitiu que a polêmica envolvendo as divergências sobre a intervenção do Planalto nas propagandas das estatais não está superada, mas negou que seja motivo de preocupação:

— Não diria como página virada (a questão da propaganda) porque agora neste momento nós temos o general Santos Cruz a conversar com ele sobre esse tema. Agora, não é um tema que esteja a nos incomodar.

Na semana passada, um comercial do Banco do Brasil que explorava o tema da diversidade foi retirado do ar após reclamação do presidente. A peça era estrelada por atores e atrizes brancos e negros, jovens tatuados usando anéis e cabelos compridos. Em seguida, um e-mail foi enviado pela Secom às estatais informando que todas as peças de publicitárias deveriam ser aprovadas pelo Planalto. Na sexta-feira, a Secretaria de Governo, chefia por Santos Cruz, emitiu nota admitindo que a interferência do Executivo na publicidade mercadológica das estatais não respeitou a legislação vigente.