O globo, n. 31312, 30/04/2019. Economia, p. 19

 

Bolsonaro pede redução de juro do Banco do Brasil

Gustavo Schmitt

Geralda Doca

Jussara Soares

Ana Paula Ribeiro

30/04/2019

 

 

Em evento voltado para o agronegócio, presidente faz apelo, em tom de brincadeira, a executivo do BB por taxas menores para o crédito agrícola. Ações da instituição chegaram a recuar 1,8%, mas fecharam com leve alta de 0,04%

Em evento com o setor do agronegócio, o presidente Jair Bolsonaro pediu ontem, em tom de brincadeira, ao presidente do Banco do Brasil (BB), Rubem Novaes, que reduza ainda mais os juros dos empréstimos cobrados do setor agrícola.

O comentário chegou a afetar o desempenho das ações do banco. Após os comentários, os papéis caíram 1,8% na mínima do dia. No encerramento, porém, as ações -fecharam com leve alta de 0,04%.

—Vocês do campo precisam de ajuda em alguns setores. Não apenas que o governo atrapalhe. Agradeço aqui o nosso prezado Rubem Novaes, presidente do Banco do Brasil, que traz R $1 bilhão para investir nessa área. Eu apenas apelo,Rub em, me permite fazer uma brincadeira aqui... Eu apenas apelo para o seu coração, para o seu patriotismo, para que esses juros, tendo em vista que você parece um cristão de verdade, caiam um pouquinho mais. Tenho certeza que as nossas orações tocarão seu coração — disse o presidente durante a Agrishow, feira em Ribeirão Preto (SP).

'Presidente não intervirá'

O comentário levou o governo a reafirmar que não tem intenção de intervir em empresas públicas.

— Obviamente que o presidente não quer e não intervirá em aspectos que estejam relacionados a juros dos bancos que estão, em tese, sob o guarda-chuva do governo — afirmou o porta-voz da Presidência, Otávio do Rêgo Barros.

Novaes reiterou que Bolsonaro estava brincando:

— A imprensa está perdendo o senso de humor. Revejam o tom da fala do presidente Bolsonaro.

Perguntado sobre críticas ao comentário, o porta-voz da Presidência disse que o pedido de Bolsonaro a Novaes foi feito num “ambiente agradável”:

—Sinceramente, se foi criticado, é uma falta de oportunidade de evitar a crítica. Eu estava lá, me encontrava quando o presidente fez esse comentário com o presidente do Banco do Brasil. Foi um comentário num ambiente muito amigável.

Novaes, que assumiu o comando do banco defendendo redução da participação do BB nos subsídios ao setor agrícola, destacou o anúncio feito por Bolsonaro de que a instituição vai liberar R$ 1 bilhão para o agronegócio para financiara aquisição de máquinas e equipamentos. Novaes citou ainda que 150 pessoas farão o atendimentoà clientela ,“comas melhores taxas de mercado ”.

— Praticamente, a sede do banco foi transferida para Ribeirão Preto, junto aos produtores rurais —disse Novaes.

Fontes ligadas ao BB disseram que as declarações de Bolsonaro causaram preocupação no banco ao provocarem queda no valor das ações da instituição pela manhã. A diretoria chegou apensarem divulgar no tapara explicar o episódio. No entanto, como os papéis começaram ase recuperara olongo da tarde, a ideia foi abandonada. O plano é, se necessário, tocar no assunto somente no dia 9 de maio, quando está prevista a divulgação do balanço do BB.

As operações de crédito rural respondem por cerca de 30% da carteira de crédito do Banco do Brasil. Uma redução nos juros dessas operações poderia afetar os resultados, num momento em que abusca por maior rentabilidade está no discurso da diretoria.

—O mercado financeiro fica apreensivo com sinais de ingerência. O banco vem, desde a gestão anterior, tentando focar nos negócios essenciais e, assim, aproximar sua rentabilidade daquela registrada pelos bancos privados — disse Lucas Carvalho, analista da Toro Investimentos.