Valor econômico, v. 19, n. 4597, 26/09/2018. Política, p. A6

 

Time econômico de Bolsonaro se fecha em copas após polêmicas tributárias

Daniel Rittner

Sergio Lamucci

26/09/2018

 

 

A duas semanas da eleição, a curiosidade e o mistério em torno da equipe econômica do candidato que lidera as intenções de voto no primeiro turno crescem, mas o grupo, sob comando do economista Paulo Guedes, vem se fechando em copas, evitando falas oficiais e entrevistas detalhadas após a polêmica suscitada na semana passada com o debate público sobre a eventual criação de uma contribuição sobre movimentação financeira, interpretada como uma recriação da CPMF.

Guedes, que vem cancelando suas participações em compromissos públicos na última semana, e já anunciado como superministro da Economia em um eventual governo Jair Bolsonaro (PSL), também se mostra reticente em fornecer mais detalhes sobre o grupo.

Segundo apurou o Valor, Guedes recebe semanalmente textos de 26 grupos temáticos com especialistas em áreas tão diversas como macroeconomia, contas públicas, previdência, comércio exterior, mercado de capitais, infraestrutura logística, energia elétrica, petróleo e gás, educação e saúde. Colaboradores do grupo, diz um interlocutor, se reúnem em caráter voluntário às quartas-feiras, no Rio de Janeiro, para discutir como seria uma futura gestão do capitão da reserva.

Guedes e o próprio Bolsonaro fizeram questão de deixar claro que a participação nas discussões não significa necessariamente assumir qualquer cargo no governo a partir de janeiro de 2019. Há um reconhecimento, no entanto, de que a falta de quadros na estrutura do PSL e no entorno de Bolsonaro transforma esses colaboradores em candidatos a ter funções relevantes no governo se ele sair vitorioso das urnas.

Adolfo Sachsida, doutor em economia pela Universidade de Brasília (UnB) e pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), seria um dos aglutinadores do grupo e mantém contato com diversos economistas. Ele fica em Brasília, onde está também uma parte do QG militar da campanha, que também se reúne semanalmente, na capital federal, sob a liderança dos generais Augusto Heleno Ribeiro Pereira e Oswaldo Ferreira, segundo uma fonte.

Por email, Sachsida, afirmou ao Valor que, sempre que pode, e "fora do expediente de trabalho", contribui "com ideias para a parte econômica" da campanha do candidato do PSL. "Creio que ele é a pessoa certa para o momento atual do país", diz Sachsida, atualmente diretor-adjunto de Estudos e Políticas Regionais, Urbanas e Ambientais do Ipea. Segundo ele, a sua participação se resume a propostas técnicas, decorrentes de estudos acadêmicos que produz "principalmente em macroeconomia e avaliação de políticas públicas. "Nem todas as propostas que faço são aceitas. Enfim, apenas tento dar minha contribuição ao país", afirma Sachsida, ressaltando "que a palavra final" sobre a área econômica é sempre de Paulo Guedes em conjunto com Bolsonaro.

O Valor apurou ainda que do Ipea vem também um colaborador que rascunha as políticas sociais. Alexandre Iwata, engenheiro graduado pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e doutor em estatística pela Northwestern University (EUA). Ele é o atual diretor de estudos e políticas regionais, urbanas e ambientais do Ipea. Seu elo, diz outra fonte, seria via Sachsida e a participação seria via reuniões de grupos menores e em situações mais informais.

Temas como redução da desigualdade e maior eficácia de programas sociais fazem parte das discussões. Uma delas é consolidar o processo já iniciado no governo Temer de unificação de cadastros do Bolsa Família e do Benefício de Prestação Continuada (BPC) e como viabilizar a proposta de imposto de renda negativo. Nessa parte social, sem ainda proposta concreta, estariam discussões de como fortalecer a educação pré-escolar (primeira infância).

O oncologista carioca Nelson Teich, fundador e presidente do grupo médico COI, seria um dos integrantes nas discussões sobre saúde. Já a área de educação tem participação de civis e militares. Fica com Stavros Xanthopoylos, especialista em ensino a distância e ex-diretor da área de cursos online da Fundação Getúlio Vargas (FGV), e o general da reserva Aléssio Ribeiro Souto. Xanthopoylos confirmou ser consultor do candidato, mas não quis dar entrevista.

Do setor elétrico, quem cuida é Luciano Castro, engenheiro brasileiro radicado nos Estados Unidos. Cearense, também graduado no ITA, ele leciona na Universidade de Iowa. Ele, que já fez trabalhos esporádicos para associações empresariais com forte atuação em Brasília, está previsto na agenda de hoje do ministro Moreira Franco, das Minas e Energia.

Nas questões de óleo e gás, diz uma fonte, o ponto focal seriam as ideias de Roberto Castello Branco, ex-diretor da Vale, que também atuou no Banco Central. Ao Valor, Castello Branco, que é economista da Fundação Getulio Vargas (FGV), diz não fazer parte da equipe de economistas do candidato do PSL. "Eu não colaboro na campanha do deputado Jair Bolsonaro", afirma ele. "Como conheço o Paulo Guedes há longo tempo, apresentei algumas ideias para ele sobre diversos assuntos, como privatização, petróleo, gás, mineração e comércio exterior. Não sei se as sugestões foram incorporadas ao programa, pois não participo da equipe."

O economista Carlos da Costa, que tinha um cargo de diretor do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) até abril e foi cotado para a presidência da instituição, tem sob sua responsabilidade três temas: produtividade, políticas de crédito e mercado de capitais. Ele tem feito a interlocução com grandes entidades do setor produtivo, como Abimaq e Abdib.

Alguns nomes da "velha guarda", com passagem pelo governo federal nos anos 1980, exercem papel importante nas discussões. Um deles é Rubem de Freitas Novaes. Ele foi diretor do BNDES e presidente do Sebrae. Novaes disse que tem colaborado com a campanha, mas segundo ele, não há uma área específica de colaboração. Já Carlos Von Doellinger, ex-secretário do Tesouro Nacional, seria o nome que lida com questões orçamentárias e de finanças públicas, conforme apurou o Valor.

Representantes já conhecidos do mercado na campanha de Bolsonaro são os economistas Marcos Cintra, professor da FGV-SP e atual presidente da Finep, e os irmãos Abraham e Arthur Weintraub, especialistas em assuntos previdenciários. Na semana passada, em entrevista ao Valor, Cintra afirmou que não integra a equipe de colaboradores de Bolsonaro, mas admitiu que mantém interlocução com Guedes.

Outros dois participantes nas discussões, diz uma fonte, têm sido Marcos Troyjo, diretor do BRICLab na Columbia University, e Paulo Coutinho, diretor do Centro de Estudos em Regulação de Mercado (Cerme) da UnB. Troyjo é especialista em temas de comércio exterior e política externa. Coutinho seria o principal estudioso de temas de infraestrutura logística no grupo.