Título: Aposta para levar disputa ao segundo turno
Autor: Caitano , Adriana
Fonte: Correio Braziliense, 19/08/2012, Política, p. 8
A 50 dias para o primeiro turno das eleições municipais, na maioria das cidades o clima eleitoral ainda é discreto e não mobiliza a população. Até aqui, os espaços que os candidatos poderiam utilizar eram restritos aos debates em emissoras de menor audiência e ao corpo a corpo nas ruas. A partir desta terça-feira, porém, estará liberada a propaganda na televisão e no rádio %u2014 arma que poderá garantir a chance de chegar ao segundo turno a quem tem números incipientes nas pesquisas.
É no horário eleitoral gratuito, ou guia, como é conhecido em Pernambuco, que as alianças e os apoios ficarão mais claros aos eleitores. Em São Paulo, por exemplo, a aparição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da presidente Dilma Rousseff ao lado de Fernando Haddad (PT) poderá alçar o ex-ministro da Educação à disputa pelo segundo lugar, o que garante a ida para o segundo turno.
Com o mesmo tempo de tevê que o líder de intenções de voto de São Paulo, José Serra (PSDB), o petista poderá ter mais chances que Celso Russomano (PRB), que vai aparecer por um período mais de duas vezes menor. Para ir para a segunda etapa da disputa, porém, Haddad, que teria hoje por volta de 603 mil votos, precisará tornar-se conhecido o suficiente para chegar à marca de cerca de 1,7 milhão de eleitores, caso Russomano se mantenha estável ou perca votos.
Dúvidas
A realização de segundo turno na disputa da prefeitura de Belo Horizonte (MG) ainda é uma incógnita. Patrus Ananias (PT) precisa segurar o crescimento do prefeito e candidato à reeleição, Márcio Lacerda (PSB), que lidera as pesquisas com mais de 40% das intenções de voto e tem quase o dobro dos votos do petista, além de manter seus próprios eleitores. Para vencer o atual prefeito, Patrus, hoje com pouco mais de 440 mil votos, terá que lutar para ultrapassar os 800 mil eleitores que preferem Lacerda.
O cientista político e professor do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper) Carlos Melo alerta que a estratégia a ser adotada na reta final precisa ser bem mensurada, para não resultar em perda de apoio no futuro próximo. %u201CPara o segundo e terceiro colocados nas pesquisas normalmente é mais interessante focar os ataques no adversário que está brigando com ele para ir ao segundo turno, em vez de mirar o líder%u201D, pondera. %u201CÉ necessário ter cuidado, porém, porque esse mesmo adversário pode representar um aliado importante no segundo turno. Então, deve-se bater, mas sem sepultar a possibilidade de diálogo mais adiante.%u201D
Carlos Melo acrescenta que, além do tempo de tevê, os recursos disponíveis aos candidatos e o apoio de uma figura popular são determinantes para o sucesso de uma candidatura. O professor compara o caso de Haddad e Patrus Ananias (PT) com a situação de Marcelo Freixo (PSol), que tenta ser prefeito do Rio de Janeiro (RJ), mas que tem desvantagem nas pesquisas de até 41 pontos percentuais em relação ao prefeito, Eduardo Paes (PMDB). O atual gestor do município do Rio de Janeiro deve se reeleger no primeiro turno.