O globo, n. 31305, 23/04/2019. País, p. 6

 

Para FH, Bolsonaro ‘tem ideias muito atrasadas’

23/04/2019

 

 

Durante entrevista à rádio CBN, ex-presidente tucano afirma que não é favorável à ‘direitização’ do PSDB

Em entrevista à rádio CBN, o ex-presidente Fernando Henrique criticou ontem o presidente Jair Bolsonaro, a quem atribuiu “ideias muito atrasadas”. Em uma autoavaliação sobre seu partido, o PSDB, FH declarou não ser favorável a uma “direitização” da legenda.

—Todo mundo sabe que eu não votei no Bolsonaro, me opus ao Bolsonaro, acho que as ideias dele são muito atrasadas. O governo é muito diversificado, mas as ideias que eu vejo da família Bolsonaro (são atrasadas) — afirmou FH, que é contrário a qualquer possibilidade de o PSDB tomar um caminho político mais à direita.

— Ele (Bolsonaro) tem uma visão que não coincide com a minha. O país tem muita gente pobre, tem que ter políticas sociais, ativas. Eu sou favorável ao mercado, sempre fui, mas você não pode fechar os olhos e achar que o mercado resolve tudo, porque não resolve. Não sou favorável à “direitização” do PSDB —disse FH, que voltou a afirmar que não tem poder no partido, só influência.

O tucano recomendou que o governo transmita ao país as informações sobre a proposta de reforma da Previdência em uma linguagem que a população entenda. Para isso, disse ele, o governo tem que mostrar dados.

Ao comentar a recente polêmica sobre a decisão do Supremo Tribunal Federal de censurar reportagens que criticavam os ministros, FH considerou que houve “exagero” de parte da Corte. Para ele, a democracia “não é dada, mas construída permanentemente.”

—Sempre há risco, e qual é o jeito de evitar que o risco prospere? É deixar a crítica aberta e deixar as pessoas tomarem conhecimento do que acontece —analisou.

Questionado sobre o movimento para impedir a entrada da política em sala de aula, formalizado no projeto Escola Sem Partido, FH disse que o papel do professor é “abrir a cabeça do aluno”, ensiná-lo a pensar, mas não incutir nele “suas próprias ideias”. Para o ele, não adianta combater o ensino de um pensamento de esquerda e, ao mesmo tempo, tentar doutrinar os estudantes para a direita:

— A escola não deve ter partido, mas não pode substituir um partido por outro.