Título: Damasco nega deserção de vice
Autor: Seixas , Maria Fernanda
Fonte: Correio Braziliense, 19/08/2012, Mundo, p. 24

Em meio a boatos de que o vice-presidente sírio, Farouq Al-Sharaa, teria desertado, especulações sobre novos massacres cometidos pelas forças leais ao ditador Bashar Al-Assad ganharam as páginas dos jornais. A informação sobre a deserção de Al-Sharaa, o sunita mais poderoso do país segue misteriosa. O governo nega com veemência que o vice de Al-Assad tenha se unido aos rebeldes.

Na sexta-feira, uma fonte do Conselho Superior Revolucionário assegurou que o político se refugiou na Jordânia. Membros do Conselho Nacional Sírio, organização oposicionista, afirmam que Al-Sharaa tentou abandonar o cargo e é mantido sob prisão domiciliar pelo governo. "Os relatórios iniciais mostram que houve uma tentativa de deserção, que fracassou", afirmou, por meio de nota, o Exército Sírio Livre.

Enquanto isso, organizações de direitos humanos buscam levantar informações sobre uma suposta nova chacina em Damasco. Na sexta-feira, 60 corpos carbonizados foram encontrados em um depósito de lixo no bairro de Qatna. Vídeos de ativistas que circularam pela internet mostram fileiras de corpos queimados com as mãos amarradas às costas. Alguns ainda pegavam fogo. Na sexta-feira, também na capital, outro vídeo divulgado pelo Syrian Network for Human Rights exibia 17 civis mortos com sinais de facadas. Os ativistas alegam que o Exército sírio seria o autor das chacinas. De acordo com o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH), 40 cadávares foram encontrados ontem na área de Al-Tel, na província de Reef Dimashq. "Al-Tel foi alvo de fortes bombardeios por vários dias, seguidos pela invasão terrestre de forças militares e de segurança", disse um representante da organização. Em Aleppo, a capital financeira do país, as tropas do regime atacaram bairros ocupados por revolucionários. Sob fogo cruzado, Damasco e Aleppo enfrentam surtos de diarreia e escassez de água, de alimentos e de ajuda médica.

Êxodo

De acordo com as Nações Unidas, o número de refugiados sírios fora das fronteiras já chega a 170 mil. O chanceler francês, Laurent Fabius, visitou campos de refugiados na Turquia e afirmou que o regime precisa ser imediatamente "esmagado". "Depois de ouvir os refugiados e suas histórias sobre as ações do regime, fica claro de Al-Assad não merece estar nesta Terra", disse. O diplomata argelino Lakhdar Brahimi, novo enviado especial da Liga Árabe da ONU, também se pronunciou, e afirmou que a tarefa de encontrar uma solução para o conflito exigia "muita determinação".