Valor econômico, v. 19, n. 4618, 26/10/2018. Política, p. A10

 

Paes tenta superar fardo emedebista

Rodrigo Carro

26/10/2018

 

 

Escaldado pela sucessão de escândalos de corrupção e prisões que dizimaram a elite política do Rio de Janeiro, o eleitor fluminense balança no segundo turno entre a renovação e, de certa forma, a continuidade no poder vinculado à máquina emedebista que governou o Estado nos últimos 15 anos.

Favorito nas pesquisas de intenção de voto até a véspera do primeiro turno, o candidato ex-MDB e agora do DEM ao governo do Rio, Eduardo Paes, teve em 7 de outubro menos da metade dos votos do até então desconhecido Wilson Witzel, do PSC. De lá para cá, a candidatura de Witzel - um ex-juiz federal sem experiência política anterior - vem sentindo o desgaste provocado pela divulgação de episódios controvertidos de sua trajetória política, profissional e até pessoal.

Levantamento divulgado ontem pelo Datafolha mostrava Witzel à frente de Paes, com 56% dos votos válidos contra 44% do ex-prefeito do Rio. A vantagem do candidato do PSC, no entanto, diminuiu drasticamente em relação à pesquisa divulgada pelo instituto em 18 de outubro. Caiu de 22 pontos percentuais (61% a 39%) para 12. No primeiro turno, Witzel derrotou Paes na capital por uma diferença de 15 pontos percentuais. Obteve 39,03% dos votos válidos contra 24,01% do ex-prefeito. Já na pesquisa eleitoral do Datafolha, Paes aparecia em primeiro, com 45% dos votos válidos, enquanto o adversário tem 42%.

A redução da distância entre Witzel e Paes já havia aparecido na pesquisa divulgada pelo Ibope na terça-feira. "A queda de Witzel se deu mais em função de que agora os eleitores estão conhecendo ele melhor", diz Márcia Cavallari, CEO do Ibope Inteligência. "O foco nos debates estava disperso antes por outros candidatos."

A ausência de uma trajetória política e o fraco desempenho nas pesquisas até quase a véspera da eleição mantiveram Witzel praticamente fora da mira de seus adversários na campanha do primeiro turno. "Ele cresceu mesmo em cima do 'Efeito Bolsonaro'", explica o cientista político Felipe Borba, professor da Unirio. O presidenciável do PSL foi vitorioso em todos os 92 municípios fluminenses. Witzel teve desempenho similar. Venceu em 84 cidades.

Embora no primeiro turno tenha feito campanha ao lado de Flávio Bolsonaro, filho do candidato ao Palácio do Planalto e agora senador eleito, Witzel não conseguiu o apoio formal do presidenciável do PSL em nenhuma das duas etapas da disputa. Jair Bolsonaro optou por se manter neutro.

"O PSL oficializou, sim o apoio à candidatura de Witzel", minimizou o ex-juiz na segunda-feira, depois de participar de debate promovido pela Rádio CBN. "Aqui no Estado do Rio de Janeiro, toda a bancada estadual, os 13 deputados estaduais do PSL, já fizeram um documento assinando o apoio à minha candidatura e isto se refletirá na governabilidade. Outros partidos também já assinaram apoio, como o PSD."

Ao contrário do adversário, Paes vem se declarando neutro na disputa presidencial, mas um dos partidos de sua coligação - o PHS - encomendou adesivos de campanha nos quais os nomes do ex-prefeito do Rio e de Bolsonaro aparecem juntos. A neutralidade de Paes não impede o apoio de parte da esquerda, analisa Borba. "Há uma aliança natural de forças de esquerda em torno de Paes, sacrificando suas crenças ideológicas para se opor a uma figura ligada à Bolsonaro", justifica.

Na política há mais de 25 anos, Paes privilegiou na campanha e em debates a divulgação de informações desfavoráveis a Witzel veiculadas na mídia. O item mais recente na lista é uma reportagem da revista "Veja" que apontou ligações entre o ex-magistrado e o advogado Luiz Carlos Cavalcanti Azenha, preso em 2011 ao tentar subornar policiais que descobriram o traficante Antônio Bonfim Lopes, o Nem da Rocinha, escondido no porta-malas de seu carro. Witzel negou qualquer participação de Azenha em sua campanha.

Em debates, Paes chegou a citar um empréstimo que Witzel contraiu junto a sua ex-sogra, Mariasita de Souza Marques, hoje com 86 anos, e que não teria sido pago. O candidato do PSC, por sua vez, explora a proximidade de Paes com figuras-chave detidas em operações originadas da Lava-Jato, como o ex-governador Sérgio Cabral e o presidente afastado da assembleia legislativa, Jorge Picciani. "O eleitor do Rio vive uma dicotomia: 'Será que esse candidato novo é bom ou eu prefiro alguém mais experiente?", sintetiza o publicitário André Torreta, especialista em marketing político. A associação de Paes com caciques do MDB e do PT caídos em desgraça se traduz em altos índices de rejeição (52% no Datafolha e 46% no Ibope).

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Barbalho amplia apoios para evitar nova virada no PA

Murillo Camarotto 

26/10/2018

 

 

O ex-ministro Helder Barbalho (MDB) ampliou o leque de alianças para garantir a vitória na disputa pelo governo do Pará no domingo e, assim, evitar a repetição da virada sofrida em 2014, quando ficou perto de ganhar no primeiro turno e acabou derrotado pelo atual governador, Simão Jatene (PSDB).

Principal herdeiro político do clã Barbalho - que protagoniza a política paraense há 40 anos -, o candidato recebeu 47,7% dos votos válidos no primeiro turno, contra 30,21% do deputado Márcio Miranda (DEM), presidente da Assembleia Legislativa do Pará e seu adversário no domingo.

Terceiro colocado no pleito, com 17% dos votos válidos, o senador Paulo Rocha (PT) manifestou apoio ao candidato do MDB quatro dias após o primeiro turno, como já era esperado. A manifestação reforçou a postura de Barbalho de neutralidade na disputa pela Presidência da República.

A pesquisa mais recente do Ibope mostrou o candidato do MDB com 58% das intenções de votos válidos, contra 42% de Miranda. O candidato do DEM tem dito que o mesmo instituto apontou vitória de Barbalho no primeiro turno e que a distância entre os dois está cada vez menor.

Oficialmente, Miranda é o candidato da situação, mas ele tem evitado defender o governo Jatene, que apresenta elevados índices de rejeição. Uma das principais propostas do candidato do DEM, o corte na alíquota do ICMS sobre o diesel, foi rejeitada pelo governo durante a última greve dos caminhoneiros. "Eu não era o governador", justifica Miranda.

Barbalho aproveitou os resultados do primeiro turno para dizer que seu governo terá mais força política para aprovar projetos e atrair recursos para o Pará. Dos 43 deputados estaduais eleitos, 25 participam da aliança que apoia o candidato emedebista.

Em Brasília, os dois senadores eleitos - Jader Barbalho (MDB) e Zequinha Marinho (PSC) - apoiam o emedebista, assim como Paulo Rocha, que tem mais quatro anos de mandato. Na Câmara, 13 dos 17 deputados da bancada paraense são considerados aliados.

Barbalho pretende usar essa influência na capital federal para, entre outras coisas, reduzir as tarifas da conta de luz no Pará, que é um dos maiores produtores de energia elétrica do país. "Temos que ter força política em Brasília para garantir condições melhores para os Estados produtores", tem dito o candidato do MDB.

Ele também promete construir pelo menos três hospitais no Pará, um novo pronto-socorro em Belém e sete policlínicas.

Além da redução dos impostos sobre o combustível, Miranda tem prometido abrir concurso para 5 mil policiais militares. A segurança pública é um dos principais temas da campanha no Pará. A principal promessa de Barbalho na área é convocar a Força Nacional para o Estado.

Acusações de corrupção também permeiam a campanha. Enquanto o emedebista é apontado pelo adversário de estar envolvido na Operação Lava-Jato, Miranda responde por irregularidades envolvendo um instituto ligado à sua família na cidade de Castanhal, seu berço político. Ele também foi acusado de receber ilegalmente aposentadoria do tempo em que integrava a Polícia Militar.

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Clãs Alves e Maia definem futuro no RN

Marina Falcão

26/10/2018

 

 

Com a derrota dos senadores Garibaldi Alves (MDB) e de Agripino Maia (DEM) nas disputa por vagas no Senado e na Câmara, a eleição para governador no Rio Grande do Norte será tudo ou nada para os clãs Alves e Maia, que dominam a política no Estado há 60 anos. Eles estão apostando todas as fichas no ex-prefeito Carlos Eduardo (PDT), que declarou apoio ao candidato Jair Bolsonaro (PSL) para enfrentar a senadora Fátima Bezerra, do PT.

Candidata mais bem votada do primeiro turno, com 45% dos votos, a petista chegou à reta final com um discreto favoritismo, segundo as pesquisas. No mais recente levantamento do Ibope, ela aparece com 54% dos votos válidos, contra 46% do pedetista, que teve 32% na primeira etapa da disputa.

Contratada pela InterTV Costa Branca, o levantamento foi feito entre 14 e 16 de outubro, com 812 pessoas. Está registrado no Tribunal Superior Eleitoral sob protocolo BR-08202/2018.

Mesmo considerando a margem de erro de três pontos percentuais, Fátima ainda estava na frente de Carlos Eduardo, segundo o Ibope. No entanto, pesquisas feitas na última semana por institutos locais mostram uma situação de empate técnico entre os dois candidatos.

"O quadro está aberto. Vai ser uma disputa palmo a palmo, muito acirrada, que está se definindo nos últimos dias. Os reflexos da campanha presidencial podem se fazer sentir aqui", afirma Antônio Spinelli, cientista político da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

Contrariando a orientação do seu partido, o apoio de Carlos Eduardo a Bolsonaro é o que está propiciando o seu crescimento, na avaliação de Spinelli. Em Natal, onde Bolsonaro liderou no primeiro turno com 44% dos votos, o candidato do PDT está a frente da petista, apontam as pesquisas. No interior do Estado, no entanto, Fátima volta a liderar.

Um dos Estados mais violentos do país, o Rio Grande do Norte viveu dias de terror no início do ano passado, quando um massacre no presídio de Alcaçuz, na região Metropolitana, deixou 26 mortos. O episódio manchou a gestão do governador Robinson Faria (PSD), cuja mandato também ficou marcado por atraso no pagamento de salário do funcionalismo decorrente de uma crise fiscal sem precedentes. Ex-aliado do PT no Estado, Faria acabou ficando com apenas 15% dos votos no primeiro turno, em terceiro lugar.

O tema da violência ganhou espaço nas campanhas dos dois candidatos nas últimas semanas, com promessas de ambos os lados. "Esse tema da segurança não é tradicionalmente uma agenda do PT, por isso tem colado melhor no candidato do PDT", avalia Spinelli.

Primo do ex-presidente da Câmara Henrique Alves (MDB), preso Operação Lava-Jato, Carlos Eduardo já foi prefeito de Natal três vezes. O PT, por sua vez, nunca comandou nem o Estado, tampouco a capital, apenas algumas cidades pequenas no interior.

Nestas eleições, o PT tem a sua melhor chance de mudar esse quadro e derrotar as forças que há décadas dominam a política no Estado. Algumas vitórias importantes já foram conquistadas: a jovem vereadora Natália Bonavides (PT) elegeu-se como deputada federal mais votada, a frente até do veterano Fernando Mineiro (PT), que também conquistou uma vaga na Câmara.

Fátima Bezerra já foi deputada estadual duas vezes e federal por três mandatos. A petista, bastante ligada ao movimento sindical de professores, foi uma surpresa na eleição de 2014, quando se elegeu para a única vaga ao Senado. Ela já disputou a Prefeitura de Natal duas vezes, mas ficou em segundo lugar em ambas tentativas.

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Chapa de PSD e PT é favorita para o governo de SE

Marina Falcão

26/10/2018

 

 

O governador em exercício Belivaldo Chagas (PSD) chega ao fim do segundo turno como favorito na disputa contra o deputado federal Valadares Filho (PSB) em Sergipe. Se o cenário projetado pelas pesquisas de intenção de voto se confirmar, será oficializada a dupla derrota para a família Valadares e para o PSB estadual, já que o senador Antônio Carlos Valadares (PSB), pai do deputado pessebista, não conseguiu se reeleger.

Em uma chapa que traz a viúva do ex-governador Marcelo Déda, Eliane Aquino (PT), como vice, Belivaldo conseguiu se distanciar da crise administrativa do ex-governador Jackson Barreto (MDB), marcada por problemas como atraso na folha de pagamento dos servidores, desentendimentos com sindicatos e aumento da violência. Barreto afastou-se do cargo em março para disputar uma vaga ao Senado, mas não conseguiu se eleger.

Durante a campanha, Belivaldo atribuiu ao adversário Valadares Filho a pecha de inexperiente, e a de que, se eleito, seria apenas uma "marionete" do pai. O pessebista retruca tentado associar a crise fiscal do Estado a Belivaldo, mas a máquina do governo pode estar desequilibrando a balança a favor do PSB.

"No Nordeste, quem está no governo tem um poder muito grande. A sociedade é muito dependente do Estado, sobretudo nos rincões. A regra aqui é a reeleição. Se olharmos o resultado dos outros Estados da região no primeiro turno atestamos isso", afirma sociólogo Rodorval Ramalho, professor da Universidade Federal de Sergipe (UFS).

No primeiro turno, Belivaldo teve 40,84% dos votos e Valadares Filho, 21,49%. Por muito pouco, o candidato do PSB não ficou fora do segundo turno por conta do tucano Eduardo Amorim, que teve 20,5%.

Na mais recente pesquisa do Ibope, Belivaldo aparecia com 58% dos votos válidos, contra 42% de Valadares Filho. O levantamento foi realizado entre 15 e 17 de outubro com 812 eleitores. A margem de erro é de três pontos percentuais e o nível de confiança é de 95%. A pesquisa foi encomendada pela TV Sergipe e está registrada sob protocolo BR-00435/2018.

A disputa local desvinculou-se da polarização nacional, com ambos os candidatos que chegaram ao segundo turno apoiando a candidatura de Fernando Haddad (PT). No entanto, muito embora não tenha tido palanque no Estado, Jair Bolsonaro (PSL) conseguiu ganhar espaço entre os eleitores sergipanos.

Uma militância bolsonarista dispersa e desorganizada emergiu de forma espontânea e foi às ruas, motivada pelas redes sociais. Vencendo na capital Aracaju, Bolsonaro teve 27,21% dos votos válidos no Estado, contra 50,09% de Haddad.

Embora a eleição para o Senado em Sergipe tenha retirado de cena políticos tradicionais como Jackson Barreto e Antônio Carlos Valadares, o sentimento de busca por renovação no cenário nacional não se estendeu ao estadual, obedecendo uma lógica ainda não totalmente esclarecida.

"Uma das variáveis é a ideia de que o presidente forte resolve tudo. E de fato o presidencialismo no Brasil é muito centralizador. Se Bolsonaro ganhar, os governadores do Nordeste vão ter que rodar com o chapéu nas mãos pelos ministérios", comenta o sociólogo.