Valor econômico, v. 19, n. 4618, 26/10/2018. Política, p. A12
No DF, novato tem ampla margem sobre Rollemberg
Carla Araújo
26/10/2018
"Quem conhece, não vota". A frase, usada também pelos marqueteiros da campanha presidencial, foi bastante citada na propaganda eleitoral do atual governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg (PSB), para atacar o adversãrio. Parece ter surtido efeito contrário.. Isso porque o até então desconhecido na política Ibaneis Rocha (MDB), que fez fortuna como advogado, primeiro colocado no primeiro turno, aparece nas intenções de voto com ampla margem de vantagem no segundo turno que será disputado domingo.
A despeito das surpresas que surgiram no primeiro turno das eleições em Estados como Minas Gerais e Rio de Janeiro - em que "zebras" foram para o segundo turno - apenas uma virada histórica dará a Rollemberg a chance de governar a Capital Federal por mais quatro anos. Pesquisa Datafolha divulgada ontem mostra Ibaneis com 74% dos votos válidos contra 26% do atual governador. Além disso, a última pesquisa mostrou um voto praticamente consolidado no emedebista e alta rejeição ao atual governador, o que matematicamente o tira do jogo.
Os dois candidatos tinham encontro marcado ontem à noite no debate na TV Globo, mas o líder nas pesquisas resolveu não comparecer. Segundo sua assessoria, ele decidiu não ir pois "Rollemberg se recusou a assinar documento para debater propostas e a agenda de agressões não interessa ao Ibaneis". O atual governador, por sua vez, ainda pretendia ir e poderia ser entrevistado por alguns minutos pela emissora, graças a um acordo assinado por todos os candidatos no primeiro turno.
Ao Valor, Ibaneis afirmou que seu plano de governo já está colocado e que a ideia é "propor um governo mais voltado às necessidades da população e que possa preparar um futuro melhor". "Problemas de gestão fizeram o Distrito Federal recuar no tempo; hoje há falhas em todas as áreas em que o governo está presente", disse. "Minhas propostas foram colocadas e depois de participar de vários debates decidi não ir mais, porque o adversário partiu para ataques pessoais que não interessam ao eleitor. Não quero fazer parte dessa forma antiga de fazer política. Acredito no povo, acredito que posso fazer diferente e melhor", completou.
Já o atual governador, mesmo muito abaixo nas pesquisas, disse ao Valor que ainda tinha a expectativa de que os brasilienses optassem por um governador com "responsabilidade, com seriedade e honestidade". "Minha expectativa é a de que Brasília não retrocederá nas práticas danosas que colocaram a cidade nas páginas policiais da mídia nacional", declarou.
No primeiro turno, Ibaneis, que havia começado a disputa com menos de 2% dos votos, conquistou 41,97% dos votos e Rollemberg ficou com apenas 13,94%. Esta é primeira eleição do emedebista que gosta de se apresentar como um "outsider"..
Para concorrer pela legenda, que tem o presidente Michel Temer como um dos principais caciques, Ibaneis garantiu ao partido que bancaria a sua campanha. Apesar de dividir o espaço da propaganda eleitoral com o presidente regional do MDB e ex-assessor especial de Temer Tadeu Filippeli, que chegou a ser preso acusado de integrar um esquema de desvio de verbas nas obras do Estádio Mané Garrincha, Ibaneis parece ter conseguido se desvincular da imagem negativa da legenda.