Valor econômico, v. 19, n. 4616, 24/10/2018. Política, p. A5

 

Aliados de Bolsonaro governarão mais Estados

Raphael Di Cunto 

24/10/2018

 

 

A "onda" que impulsionou Jair Bolsonaro (PSL) como favorito na eleição presidencial e seu partido como segunda maior força da Câmara dos Deputados deve eleger apoiadores para comandar a maioria dos Estados, inclusive três candidatos do PSL até então desconhecidos e que ganharam força pela associação ao nome do presidenciável, mostra levantamento do Valor nas pesquisas de intenção de voto.

As disputas regionais também devem ser marcadas por um forte sentimento de mudança e ruptura: de cada cinco Estados, três elegerão um governador de oposição ao atual grupo que comanda o Executivo local. Dos 21 governadores que tentam a reeleição, só oito deverão ter sucesso, a maioria no Nordeste, que resistiu ao "tsunami Bolsonaro".

O candidato do PSL deverá contar com aliados em 14 Estados, apontam as pesquisas. Já os apoiadores de Fernando Haddad (PT) devem comandar 10 governos a partir de 2019. Nos outros três Estados os candidatos decidiram ficar neutros, caso dos eleitos Renato Casagrande (PSB), do Espírito Santo, e Mauro Carlesse (PHS), do Tocantins. No Pará, os dois candidatos (do MDB e DEM) não declinaram apoio a ninguém por conta de questões regionais.

O grupo de governadores aliados do PT, que seria formado pelos nove governadores do Nordeste e o do Amapá, pode se configurar como uma das principais forças de oposição a Bolsonaro, caso ele confirme o favoritismo na eleição presidencial. Juntos, eles deverão governar 27% do eleitorado nacional.

A tendência natural dos eleitos, mesmo os de partidos de oposição, é adotar uma relação "republicana" com o presidente por causa da dependência de dinheiro do governo federal, mas os governadores do Nordeste já atuaram numa linha de confronto ao governo Temer, acionando o Judiciário em busca de mais verbas e liberação de empréstimos.

O levantamento do Valor considerou, para fazer o balanço dos prováveis eleitos, as pesquisas dos institutos Ibope e Datafolha realizadas desde o fim do primeiro turno. Como a maioria dos Estados têm apenas uma sondagem nesse período, o que impede detectar movimentos de queda ou crescimento dos candidatos, foram checadas também outras pesquisas de institutos menores de cada região, que mostraram as mesmas tendências.

O quadro parece mais consolidado em 10 Estados onde há segundo turno. Outros quatro Estados estão em situação de empate técnico, com disputas mais apertadas: São Paulo (PSDB x PSB), Rio Grande do Norte (PT x PDT), Amapá (PSB x PDT) e Mato Grosso do Sul (PSDB x PDT).

Esses cenários mais incertos ainda podem alterar um pouco o quadro de governadores aliados de cada presidenciável e da força regional de cada partido. No Rio Grande do Norte, a senadora Fátima Bezerra (PT) lidera no limite da margem de erro. Carlos Eduardo (PDT), que está em segundo, contrariou o "apoio crítico" de seu partido a Haddad e declarou voto em Bolsonaro.

Em São Paulo, João Doria (PSDB) lidera numericamente e pede votos para Bolsonaro, que não o apoia. O governador Márcio França (PSB), que tenta a reeleição, ficou neutro. No Amapá é o inverso: Camilo Capiberibe (PSB) declarou voto em Haddad enquanto o governador Waldez Góes (PDT) não faz campanha por ninguém.

No Mato Grosso do Sul, o governador Reinaldo Azambuja (PSDB) alinhou-se a Bolsonaro ainda no primeiro turno, enquanto o ex-juiz Odilon Guedes (PDT) só declarou apoio na segunda etapa da campanha. O Estado é um dos locais onde podem ocorrer surpresas até domingo: o tucano lidera com 48% dos votos, contra 42% do pedetista, que é mais desconhecido e menos rejeitado que o adversário. Os indecisos são 5%.

Outro é o Rio de Janeiro, onde Eduardo Paes (DEM) reduziu, em uma semana, a diferença para o ex-juiz Wilson Witzel (PSC) de 17 para 10 pontos percentuais. O cenário local mostra um ponto fraco da "onda Bolsonaro": candidatos desconhecidos que cresceram no fim de semana do primeiro turno apoiados na popularidade do presidenciável e que ficaram alheios aos ataques dos adversários agora são alvo por suas contradições, o que pode levá-los a perder apoio. Das cinco pesquisas divulgadas ontem, isso só ocorreu no Rio.

Viradas, como a que Haddad e Paes tentam conseguir no segundo turno, por enquanto só devem ocorrer em três dos 14 Estados onde a eleição ainda não acabou, segundo as pesquisas. E os principais favorecidos serão aliados do candidato do PSL. É o caso, por exemplo, de Santa Catarina e Rondônia onde os candidatos que terminaram o primeiro turno em desvantagem agora lideram as pesquisas de intenção de votos. Nesses Estados, contudo, ainda é preciso aguardar novas sondagens para saber se não há um movimento reverso como no Rio de Janeiro. Além disso, há uma virada no Amapá, mas dentro da margem de erro.

Em Santa Catarina, o "comandante Moisés" (PSL), que é bombeiro militar e nunca tinha concorrido a cargo público, começou a campanha com 1% das intenções de voto, alcançou 12% na véspera do primeiro turno e terminou com 29% dos votos válidos. Agora, já aparece à frente do deputado estadual Gelson Merisio (PSD), com 51% a 39% dos votos.

Em Rondônia, o coronel Marcos Rocha (PSL), ex-policial militar, passou a campanha toda em quarto lugar, com 8% dos votos. Abertas as urnas, teve 24%, contra 22,7% do candidato do governador. As pesquisas o apontam agora como franco favorito, contra o ex-deputado e ex-senador Expedito Júnior (PSDB), que disputa pela terceira vez o governo.

Outro dos "desconhecidos" que deve ser eleito por Bolsonaro é Antônio Denarium (PSL), empresário de Roraima que registra quase 60% dos votos nas pesquisas. Confirmada a vitória, ele derrotará duas forças da política local, os ex-governadores José de Anchieta (PSDB), com quem disputa o segundo turno, e Neudo Campos (PP), marido da atual governadora Suely Campos (PP), que tentava a reeleição.

Além deles, Bolsonaro, caso realmente eleito, deverá contar com aliados ou apoiadores de outros partidos no comando da maioria dos Estados do Sudeste, Sul, Centro-Oeste e Norte.

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MDB perde força e fragmentação partidária é recorde

Raphael Di Cunto 

24/10/2018

 

 

Com a perda de espaço de MDB e PSDB e o crescimento do PSL e de siglas de direita, os governos estaduais serão governados pelo maior número de partidos desde a redemocratização, segundo levantamento do Valor com base nas pesquisas de intenção de voto nos Estados. Ao todo, de 12 a 13 partidos governarão os 26 Estados e Distrito Federal.

A disputa para ver qual será o partido que governará o maior número de pessoas passa por São Paulo, onde o ex-prefeito da capital João Doria (PSDB) e o governador Márcio França (PSB) disputam o segundo turno em situação de empate técnico, com o tucano numericamente a frente. Com 33 milhões de eleitores, o Estado é o fiel da balança e a vitória deixará o PSDB ou PSB à frente de um terço dos eleitores do país.

Desde 1990, os Estados brasileiros são comandados por sete a nove partidos. A exceção foi em 2010, quando foram eleitos governadores de seis legendas. Agora, a tendência é que até 13 partidos saiam representados - o número depende do sucesso do PDT em pelo menos um dos quatro Estados em que disputa o segundo turno: a situação é de empate técnico em três deles.

O principal motivo da fragmentação maior é o movimento de direita que tomou o país com a ascensão da candidatura presidencial de Jair Bolsonaro (PSL). Além do partido do presidenciável, que deve eleger três governadores no domingo, também "surfaram" nessa onda o empresário Romeu Zema (Novo) em Minas Gerais e dois aliados dele no PSC, o ex-juiz Wilson Witzel no Rio de Janeiro e o apresentador de TV Wilson Lima no Amazonas.

Também teve peso a altíssima rejeição do governo Temer, que ajudou o MDB a encolher. O partido nunca elegeu menos de cinco governadores em 36 anos, mas agora, mesmo mudando de nome para tentar escapar do desgaste, deve ficar com apenas três. A legenda também perdeu relevância na Câmara dos Deputados, mas continuará a maior do Senado.

Outro que deve sair menor das urnas é o PSDB, que neste ano teve seu pior resultado na eleição presidencial desde sua fundação. A sigla perdeu Estados importantes para o DEM já no primeiro turno, com a eleição de Ronaldo Caiado em Goiás e de Mauro Mendes no Mato Grosso, e está praticamente derrotada em três dos seis Estados onde disputa no domingo. As chances de vitória residem em Doria, Eduardo Leite (RS) e na reeleição do governador Reinaldo Azambuja (MS).

A força do PT ficará restrita ao Nordeste, onde o partido reelegeu seus três governadores e disputa o segundo turno no Rio Grande do Norte. O PSB pode ter São Paulo como maior Estado, mas também é na região onde está a maioria dos seus eleitos.

Dois governadores de partidos menores podem se sentir estimulados a mudar de legenda por causa da cláusula de barreira: o empresário Mauro Carlesse (PHS), que se reelegeu em Tocantins, e Flávio Dino (PCdoB), que ficará mais um mandato no Maranhão. Sem ultrapassarem a cláusula de barreira, PHS e PCdoB ficarão sem direito ao fundo partidário e a propaganda na TV e rádio, o que pode atrapalhar futuros planos políticos. Como governadores, ambos podem trocar de sigla a qualquer momento sem perderem o mandato por infidelidade partidária.