Título: Economia sai do atoleiro
Autor: Cristino , Vânia
Fonte: Correio Braziliense, 18/08/2012, Economia, p. 16

A economia brasileira dá sinais de que está conseguindo sair do fundo do poço. E tudo graças ao consumo das famílias que, incentivadas pelo governo, não estão deixando de comprar. O Índice de Atividade do Banco Central (IBC-Br), divulgado ontem, mostrou uma boa recuperação da economia em junho. O índice fechou o mês retrasado com alta de 0,75% na comparação com maio. Foi a maior elevação mensal dos últimos 15 meses.

Conhecendo com antecedência o resultado, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, se sentiu à vontade para garantir, em discurso no 22º Congresso da Federação Nacional dos Distribuidores de Veículos Automotores (Fenabrave), que o crescimento econômico do país irá se acelerar ao longo dos próximos trimestres. Tombini observou para a plateia de executivos que os estímulos já introduzidos na economia ainda não se manifestaram plenamente sobre a atividade econômica e que, portanto, a tendência é que os bons resultados continuem aparecendo.

Mas, para garantir a aceleração da atividade, os programas já anunciados pelo governo, e outros ainda em gestação, têm que dar resultados no curto prazo. Para o economista André Perfeito, da Gradual Investimento, o resultado no IBC-Br foi bom, acima do esperado, mas ainda muito aquém do que o país necessita. "Esse resultado foi alcançado com o desempenho favorável das vendas do varejo em junho, que já havia surpreendido os analistas. A maioria esperava uma retração de 0,3%, mas veio uma alta de 1,5%", explicou o economista.

Perfeito chama a atenção para o fato de a variação anual estar ainda muito baixa. No acumulado do ano, o crescimento apontado pelo IBC-Br é de 0,87% e, nos últimos 12 meses, de 1,20%. "O governo, Banco Central principalmente, tem ainda muito a fazer para a atividade entrar nos trilhos", afirmou.

Para dar suporte ao crescimento sustentável, o Banco Central conta com o sucesso do programa de concessões de rodovias e ferrovias à iniciativa privada, anunciado nesta semana, que prevê investimentos de R$ 133 bilhões pelos próximos 30 anos. E também com a desoneração do preço da energia elétrica e outras medidas de simplificação e redução da carga tributária em estudo.

Decepção Jankiel Santos, do BES Investimento, acredita ser muito provável que a economia brasileira comece agora a responder aos incentivos dados pelo governo. Com retardo, o mercado de trabalho já mostrou uma tímida reação, assim como as vendas no varejo, dado o incentivo do desconto do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). Mas como o Produto Interno Bruto (PIB), calculado pelo IBGE, tem uma concentração maior do setor industrial que o IBC-Br, Jankiel acredita que o crescimento ainda pode decepcionar.

Diante de um IBC-Br mais robusto, os analistas do mercado financeiro podem começar a deixar o cenário mais sombrio para trás, mas o economista afirma que é muito pouco provável qualquer elevação das previsões de crescimento do PIB em 2012. Contrariando muitas avaliações, o BES mantêm a posição de que o Banco Central fará um último corte na taxa básica de juros na reunião deste mês, trazendo a Selic para 7,50%. A maioria dos economistas aposta em uma redução extra de 0,25 ponto percentual na reunião de outubro.

Termômetro dos negócios

O Índice de Atividade do Banco Central (IBC-Br) é uma tentativa da instituição de antecipar, com a menor defasagem possível, o resultado do Produto Interno Bruto ( PIB) do país, que só é divulgado trimestralmente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Embora com medidas diferentes, o IBC-BR serve como parâmetro para avaliar o ritmo mensal da economia brasileira.