Título: BC vê crescimento e inflação na meta
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Fonte: Correio Braziliense, 18/08/2012, Economia, p. 16

Animado com os indicadores positivos mais recentes, o governo reforçou ontem o tom otimista sobre a recuperação da atividade econômica, apesar de analistas do mercado financeiro estarem ainda céticos sobre o ritmo de crescimento. O tom otimista foi usado em declarações da presidente Dilma Rousseff, do ministro da Fazenda, Guido Mantega, e do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, a quem coube o recado mais importante (leia mais sobre indicadores de retomada econômica nas páginas 18 e 19).

O comandante do BC afirmou que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) vai acelerar nos próximos meses, mas com preços sob controle. Segundo Tombini, os estímulos dados pelo governo já obtiveram uma resposta positiva da atividade econômica, mas ainda não produziram plenamente seus efeitos. Por isso, a tendência é de recuperação mais à frente, sem que exista, na sua avaliação, risco de a inflação fugir da meta de 4,5% estabelecida para este ano e o próximo.

"As estimativas do mercado e de organismos internacionais apontam para a aceleração do crescimento nos próximos trimestres. E esse cenário irá se materializar em ambiente de inflação convergindo para a meta, embora esse não seja um processo linear", afirmou o presidente da autoridade monetária, durante evento do setor automotivo, em São Paulo.

O aumento das vendas no varejo em junho, os dados mais favoráveis do emprego formal em julho e o anúncio de que o Índice de Atividade do Banco Central (IBC-Br) subiu 0,75% no mês retrasado dão respaldo ao otimismo do governo. A inflação, porém, tem sido pressionada nas últimas semanas pela elevação do preço dos alimentos, que provocou um salto de 0,43% do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) no mês passado. Tombini afirmou que o BC aguarda informações adicionais para fazer uma avaliação mais precisa da intensidade e duração do choque de oferta sobre os preços.

Cautela Analistas de mercado preferem avaliar o cenário econômico com cautela. O economista-chefe da WestLB, Luciano Rostagno, concorda que há indícios de que as ações do governo estão produzindo resultados, mas buscou conter a animação. "É um primeiro sinal de que as medidas de estímulo estão começando a fazer efeito. Mas precisamos de mais sinais para ver se isso se mantém", afirmou. Para os analistas, o aumento do IBC-Br, apesar de forte, mostra que a atividade registrou crescimento pífio no segundo trimestre, depois de ter avançado apenas 0,2% nos três primeiros meses do ano.

"A elevação do PIB do segundo trimestre deve ficar entre 0,2% e 0,3%. Os indicadores antecedentes sinalizam que o terceiro trimestre será melhor que o segundo, mas só esperamos que a economia vá crescer a um ritmo de 4% no último trimestre", disse o economista-chefe da PlannerProsper, Eduardo Velho. Tombini buscou minimizar a fragilidade da atividade econômica, dizendo que o Brasil segue um curso natural de um ciclo econômico, o que significa que, nos próximos trimestres, o crescimento virá mais forte.

Crédito em expansão

O presidente do BC, Alexandre Tombini, disse ontem que a autoridade monetária está atenta à sustentabilidade do crescimento do mercado de crédito no Brasil e "não hesitará em adotar medidas quando identificar qualquer tipo de risco à estabilidade do sistema financeiro e da economia". Mesmo assim, avaliou que há espaço para maior crescimento. "Uma análise atenta pelo lado da oferta e da demanda por crédito sugere haver espaço para que este continue se expandindo de forma sustentável nos próximos anos." Na visão do economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Rosa, Tombini deixou claro que o BC não permitirá que se repita o cenário de 2010, quando o crédito cresceu de maneira acelerada, sobretudo nos financiamentos automotivos. Isso levou a autoridade monetária a adotar medidas macroprudenciais para segurar essa expansão. Para o presidente do BC, o nível mais baixo de endividamento das famílias brasileiras, em comparação com outros países, a queda da inadimplência e o aumento do emprego e da renda vão sustentar a elevação dos empréstimos e financiamentos.