O globo, n. 31301, 19/04/2019. País, p. 5

 

Bolsonaro elogia recuo e faz aceno à imprensa

19/04/2019

 

 

Presidente parabeniza Moraes por revogação de censura a reportagem. Mais cedo, disse que estava de ‘namoro’ com a cobertura jornalística. ‘Precisamos de vocês para que a chama da democracia não se apague’

Após a suspensão da censura imposta à revista “Crusoé” e ao site “O Antagonista”, por reportagem que cita o presidente da Corte, Dias Toffoli, o presidente Jair Bolsonaro parabenizou o ministro Alexandre de Moraes, que recuou da decisão. Bolsonaro fez o comentário durante transmissão na internet na noite de ontem.

— O próprio ministro Alexandre de Moraes revogou aquela ação, aquele inquérito que foi aberto para investigar pessoas que por ventura estivessem fazendo “fake news” e também aquela matéria na revista “Crusoé” sobre o presidente do Supremo. Se for verdade isso, parece que é, parabéns ao Alexandre de Moraes —disse Bolsonaro.

O inquérito, no entanto, não foi revogado. Apenas a decisão que censurava a publicação da reportagem. Na transmissão, feita com a ajuda do filho Carlos Bolsonaro diretamente do Guarujá (SP), onde passa o feriado prolongado no Forte dos Andradas, o presidente defendeu o trabalho da imprensa.

— É aquela velha história: melhor uma imprensa capengando, que não ter imprensa. Então, logicamente, da minha parte quero sim conversar com a imprensa —disse Bolsonaro, afirmando que está de “namoro” com a cobertura jornalística. — Imprensa brasileira, “tamo junto” hein? Tenho certeza que esse namoro, esse braço estendido, estará sempre à disposição de vocês —disse o presidente.

"Pequenas diferenças"

Mais cedo, em discurso na cerimônia de comemoração do Dia do Exército no Comando Militar do Sudeste, em São Paulo, o presidente já havia feito a defesa do trabalho da imprensa para que “a chama da democracia não se apague”.

— Que pese alguns percalços entre nós, nós precisamos de vocês para que a chama da democracia não se apague — disse Bolsonaro, sem mencionar o episódio do STF.

No evento,Bol sonar o defendeu a publicação de“palavras, letras e imagens que estejam perfeitamente emanados coma verdade” e disse crer ser necessário trabalhar por isso para “um Brasil maior, grande e reconhecido em todo cenário mundial”.

—Que as pequenas diferenças fiquem para trás — disse o presidente, que não quis dar entrevista após a cerimônia.

Bolsonaro deve ficar no Forte dos Andradas até domingo. 

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Lava-Jato reage a insinuação de vazamento para desgastar STF

Thiago Herdy

19/04/2019

 

 

Para procuradores, há uma tentativa de ‘desviar o foco dos fatos noticiados’

Procuradores da força-tarefa Lava-Jato em Curitiba divulgaram nota ontem para rechaçar a acusação de que informações sobre a suposta relação do presidente do STF, Dias Toffoli, com a Odebrecht tenham sido vazadas pelo Ministério Público. Para os procuradores, trata-se de uma “tentativa leviana” de vínculo e um esforço para “desviar o foco do conteúdo dos fatos noticiados”.

A força-tarefa afirma que os procuradores acessaram o processo onde constava o documento que originou a reportagem da revista digital “Crusoé” apenas às 22h04m do último dia 11, duas horas após a publicação da reportagem da revista, o que provaria que não houve vazamento por parte do MPF.

No documento mencionado pela reportagem, Marcelo Odebrecht, ex-presidente da empresa e colaborador da Justiça, esclarece à Polícia Federal que a pessoa chamada de “amigo do amigo do meu pai” em email a outros executivos da empresa é Toffoli.

“A acusação direcionada aos procuradores levanta suspeita sobre a isenção de quem a realiza e sobre a real intenção de quem os persegue”, afirmaram os procuradores.

No início da semana, logo após a decretação da medida restritiva por Moraes, o representante do Senado no Conselho Nacional do Ministério Público, Luiz Bandeira de Mello, defendeu investigação sobre a hipótese de o MPF ter vazado documentos no caso.

Toffoli fala sobre e-mail

O documento que provocou a censura da reportagem afirmava que, em um e-mail de 13 de julho de 2007, enviado por Marcelo Odebrecht a um diretor da empreiteira, Marcelo cobrava informações sobre um contato coma Advocacia Geralda União( A GU) sobre o projeto de hidrelétrica do rio Madeira, na época em que T off o li ocupava o cargo. Ao revisar antiga declaração prestada ao MPF,  o empresário informa que a expressão “amigo do amigo dome upai ”, mencionada na mensagem, é o presidente do STF, Dias Toffoli.

Antes do recuo de Alexandre de Moraes, Toffoli, em entrevista ao jornal “Valor Econômico”, afirmou “não se lembrar” se trocou e-mail diretamente comaáre aju rídica da Odebrecht. Acusou a revista de orquestrar “uma narrativa inverídica” para constrangê-loe emparedar o STF às vésperas de a Corte tomar uma decisão sobre prisões após julgamento em segunda instância. O tema, contudo, foi retirado da pauta uma semana antes da publicação da reportagem.

“Eu sinceramente nem me lembro. Isso foi 12 anos atrás. Todo mundo que me procura eu atendo. São dezenas de pessoas por dia. Sempre fui assim. Atendia na AGU, atendia na Subchefia de Assuntos Jurídicos”, afirmou Toffoli ao Valor.

Esta não foi a primeira vez em que a menção a Toffoli em relatos de executivos investigados gerou tensão. Em 2016, o então procurador-geral da República Rodrigo Janotsuspen deu as tratativas de negociação de acordo de colaboração premiada de executivos da OAS, depois que a revista “Veja” publicou reportagem sobre suposta participação de executivos da empreiteira em reforma realizada na casado ministro em Brasília. Toffoli negou ter havido irregularidades. Na época, a acusação foi classificada pelo próprio MPF como frágil.