Título: Após racha, UnB põe fim à greve
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Fonte: Correio Braziliense, 18/08/2012, Cidades, p. 29

As aulas na Universidade de Brasília serão retomadas na próxima segunda-feira. Depois de 89 dias de paralisação, os professores decidiram encerrar a greve em assembleia realizada na tarde de ontem. A votação foi apertada, 130 docentes levantaram as mãos para aprovar o fim da paralisação e 115 queriam a continuidade das negociações. Um novo calendário para o ano letivo deve ser aprovado três dias após a retomada das atividades. A decisão aconteceu em meio à confusão, com direito a boicote nos sistemas de iluminação e de som e gritos que acusavam a organização da reunião de ter aplicado um golpe no movimento grevista. O presidente da Associação dos Docentes da Universidade de Brasília (AdUnB), Rafael Morgado, chegou a ser ameaçado de agressão.

Os problemas começaram quando um grupo pediu para deliberar sobre a greve na reunião. A princípio, os professores haviam sido convocados para uma Assembleia Extraordinária de Pauta Única, com a previsão de discussão da possibilidade de adiamento da data das eleições. Isso mudou logo no início do encontro, quando a inclusão do assunto na pauta foi votada e aceita por ampla maioria. "Um grupo assaltou a assembleia, mudou com o apoio da diretoria da AdUnB. Tinha um encontro marcado para 21 de agosto sobre o assunto. Lá seria o momento oportuno para discutirmos a greve", afirmou o integrante do Comando Local de Greve (CLG) Perci Coelho. "Não considero a legitimidade política dessa decisão, isso é diferente de legalidade. Os professores agiram como um grupo de golpistas, deram um péssimo exemplo para os estudantes", atacou Coelho.

O presidente da AdUnB, no entanto, lembrou que a assembleia é soberana. "Há legitimidade, a paralisação está encerrada. Todos os votos foram contados utilizando a soberania do evento", disse. Cada voto foi somado um a um, com direito a boicote do microfone. Na hora de contabilizar a opinião de quem era favorável ao encerramento imediato da paralisação, a luz do Anfiteatro 17, no ICC Norte, foi desligada. A energia só voltou no momento em que os docentes contrários ao fim do movimento se manifestaram. Após a segunda proposta do governo de conceder um aumento de 25% a 40%, além dos 4% já oferecidos pelo Executivo federal em uma medida provisória, parte dos professores já estava satisfeita e defendia a suspensão da greve. Isso porque a proposta da União criava um plano de carreira para a categoria, diferenciando as faixas salariais e valorizando a progressão funcional dos docentes. O grupo ligado ao Andes era contra a proposta e defendia uma progressão linear de carreira para todos os professores (Veja no Entenda o caso). A divisão de opiniões ficou clara na reunião realizada em 30 de julho, quando foi registrado outro desentendimento. Na ocasião, Rafael Morgado queria fazer a consulta sobre a paralisação por meio de urna, mas o pedido foi negado. Somente após discussões acaloradas, o movimento foi mantido.

A retomada das aulas é imediata e já há um calendário previsto para a reposição dos dias parados. O decano de Graduação, José Américo, elaborou o documento com a previsão das datas dos próximos quatro semestres (Veja quadro). "A sugestão de reposição será submetida à votação no Conselho de Ensino, Pesquisa e Graduação na quinta-feira", explicou.

O Diretório Central dos Estudantes (DCE) reconhece a votação feita em assembleia e diz que convocará as instâncias cabíveis para deliberar sobre a greve estudantil. No entanto, ainda ontem havia começado nas redes sociais uma mobilização de professores dissidentes, alunos e funcionários — estes ainda em greve — contra o fim da paralisação dos docentes. O movimento organiza um protesto no câmpus, marcado para a próxima segunda-feira.

Primeira derrota

As reivindicações para melhoria na carreira dos professores das universidades federais são nacionais. A UnB é a primeira instituição da base do Andes a por um ponto final no movimento. O sindicato só havia perdido espaço no câmpus de Guarulhos da Unifesp. Até ontem, somente instituições na base da Federação de Sindicatos de Professores de Instituições Federais de Ensino Superior (Proifes) haviam decidido pelo fim da paralisação. Mesmo assim, 53 das 59 universidades federais continuam paradas. Na quinta-feira, parte dos professores da Universidade Federal de Santa Catarina decidiu retomar as aulas. Os docentes das Universidade Federal de São Carlos, do Rio Grande do Sul e do Instituto Federal de Educação Profissional e Tecnológica do Paraná também voltaram às salas de aula.

Novo calendário

Proposta de reposição das aulas formulada pelo Decanato de Graduação. A votação para aprová-la deve ocorrer na próxima quinta-feira.

2012

1º semestre: as aulas serão retomadas em 20 de agosto (segunda-feira) e o término está previsto em 6 de outubro.

2º semestre: começa em 22 de outubro. Em 22 de dezembro, inicia-se o recesso de fim ano. Os alunos voltam em 7 de janeiro e o período letivo será concluído em 8 de março.

2013

1º semestre: previsto para ser iniciado em 1º de abril e encerrado em 27 de julho.

2º semestre: as aulas recomeçam em 19 de agosto e segue até 20 de dezembro.

Entenda o caso

Propostas rejeitadas

A greve nacional dos professores universitários começou em 17 de maio. A Universidade de Brasília, no entanto, só aderiu ao movimento quatro dias depois. Desde então, a categoria recebeu duas propostas do governo federal. A primeira, recusada por toda a categoria, dava um reajuste mínimo de 12% e o máximo de 40%. A segunda, aumentou o mínimo para 25% e manteve o máximo com a garantia de não cortar os 4% concedidos por meio de medida provisória, publicada recentemente no Diário Oficial.

O impasse, no entanto, deu-se na progressão de carreira exigida pelos professores. Embora o governo tenha concordado em reduzir os níveis de ascensão de 17 para 13, os docentes mantinham a paralisação porque exigiam uma progressão de carreira linear, na qual aqueles que não realizam pesquisa ou publicam artigos científicos, por exemplo, consigam chegar ao cargo máximo das instituições. A exigência da categoria era que houvesse um degrau de 5% entre um nível e outro.

Os docentes a favor do fim da paralisação, no entanto, consideraram a proposta do Executivo interessante e de grande avanço. Boa parte era contra o pedido pela Associação Nacional dos Docentes do Ensino Superior, pois considerava que esse tipo de progressão não valoriza a produção além das salas de aula. O governo deu as discussões por encerradas depois de apresentar a última proposta, mas o Comando Nacional de Greve pretendia que as negociações fossem reabertas. Os servidores técnicos administrativos pedem reajuste salarial do piso de pelo menos 22,08%. O governo propôs 15,8%, valor até agora considerado insuficientes pela categoria. (MA)