O globo, n. 31260, 09/03/2019. País, p. 11

 

Da ‘farra dos guardanapos’ à ‘pool party de Richa’

Daniel Gullino

09/03/2019

 

 

Delator entrega à Justiça fotos do ex-governador do Paraná em evento com empresários dentro de piscina num hotel de luxo de Miami; registro do encontro, regado a espumante e morangos, faz parte das investigações de corrupção contra o tucano

Uma das imagens mais marcantes dos últimos anos da política nacional é do episódio que ficou conhecido como “a farra dos guardanapos”: a festa em Paris da qual o então governador do Rio, Sérgio Cabral, participou com secretários e empresários. Agora, outro ex-governador, que já teve altos índices de popularidade mas caiu em desgraça por denúncias de desvios, é personagem de um episódio semelhante investigado pela Justiça: Beto Richa (PSDB), que comandou o Paraná entre 2011 e 2018. Um ex-funcionário de Richa, que fechou delação premiada com o Ministério Público do Paraná —homologada pela Justiça —, apresentou fotos que mostram o político com empresários, que tinham contratos com a sua gestão, na piscina do Hotel Delano, em Miami, onde as diárias vão de R$ 2 mil a R$ 14 mil. O registro da “pool party”, festa dentro da piscina, regada a espumante e morangos, foi entregue por Maurício Fanini, ex-diretor da Secretaria de Educação do Paraná, preso em 2017 na Operação Quadro Negro, que investiga desvio de R$ 20 milhões para construção e reforma de escolas. Os investigadores apuram se a confraternização em Miami seria uma forma de o grupo gastar as sobras do caixa clandestino que a gestão do tucano mantinha a partir da propina que recebia dos empresários e que financiou, entre outras coisas, a própria campanha de Richa. Amigo do tucano desde os anos 1980, quando os dois estudaram juntos, Fanini relatou em sua delação que o ex-governador determinou que ele deveria arrecadar dinheiro com empresários que tinham contrato com o governo. O dinheiro seria repartido entre os dois. A foto foi apresentada na negociação de acordo com a Procuradoria-Geral da República em 2017. Após o Supremo Tribunal Federal restringir o foro privilegiado em 2018, a negociação foi repassada ao Ministério Público. A viagem, que incluiu o Caribe, foi feita em novembro de 2014, após Richa ser reeleito. Entre os participantes estavam os empresários Carlos Gusso, que fornece marmitas a escolas e presídios, e Eron Cunha, dono da Empo Engenharia, além de Guilherme Michaelis, executivo de uma concessionária de pedágios. O advogado de Richa, Walter Bittar, disse que a viagem não foi organizada pelo tucano e que estava lá um grupo “de amigos” para “descansar”. Já Gusso afirmou ser um encontro familiar e que cada um pagou sua parte. Eron Cunha e Guilherme Michaelis não retornaram aos contatos.