O globo, n. 31258, 07/03/2019. País, p. 5

 

Integrantes da CNBB criticam ações do governo

Patrik Camporez

07/03/2019

 

 

No lançamento da Campanha da Fraternidade, religiosos dizem que violência não vai diminuir ‘armando a sociedade’ e que o Planalto precisa ‘repensar’ esse tema; direitos dos povos indígenas também são cobrados

Reunidos na manhã de ontem para o lançamento da Campanha da Fraternidade de 2019, integrantes da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) criticaram publicamente políticas de governo anunciadas pelo presidente Jair Bolsonaro, dentre elas a liberação da posse de armas de fogo e a possível exploração de minério em áreas indígenas. Procurado, o governo não se manifestou.

Para o secretário-geral da CNBB, Dom Leonardo Ulrich Steiner, o governo federal precisar rever algumas de suas decisões.

— Nós temos preocupação, por exemplo, com a questão de armar a população. Realmente (o governo) precisa repensar algumas questões. Não é armando a sociedade que vamos diminuir a violência —disse.

Ainda segundo Ulrich, a CNBB tem destinado especial atenção à questão da exploração da mineração em áreas indígenas e quilombolas, assunto que mobiliza setores do governo Bolsonaro:

— Temos atenção à tentativa de abrir as terras indígenas para a mineração. Isso preocupa a igreja porque nós estamos nessas comunidades. Porque não estamos interessados, em primeiro lugar, no mercado, no dinheiro. Estamos interessados, e assim Jesus nos obriga, a pensar nas pessoas.

Respeito aos direitos

O tema da campanha católica para o período da quaresma é “Fraternidade e Políticas Públicas —Serás libertado pelo direito e pela Justiça”. O cardeal Sérgio da Rocha fez um chamado à defesa do “direito à vida, à terra, à cultura dos povos indígenas”, destacando que “situações novas” não irão desviar a igreja da defesa do “povo mais sofrido”.

— Nós reafirmamos, neste momento, que a igreja continua a insistir que a construção da paz aconteça por meio da justiça social, do respeito aos direitos do povo mais sofrido. Continuamos a defender o direito à vida, à terra, à cultura dos povos indígenas. Não é porque temos situações novas que nós vamos deixar de anunciar aquilo que tem sido critério orientador da ação e do pronunciamento da própria conferência episcopal — disse o presidente da CNBB.

Oficialmente, a CNBB não se manifestou sobre medidas adotadas pelo atual governo, ressaltando que a igreja não se envolve em assuntos partidários. O presidente da CNBB afirmou, porém, que é papel dos católicos, enquanto parcela da população, acompanhar a efetivação das políticas públicas e avaliar seus resultados.

— A igreja não pretende oferecer soluções técnicas, nem se deixa guiar por ideologias ou partidos, mas oferece o que tem de mais precioso, o evangelho, a fé. Tendo sempre como grande ponto a palavra de Deus. A campanha exige sempre muito diálogo, ações conjuntas e comunitárias. A construção de políticas públicas deve ser tarefa coletiva numa sociedade democrática e participativa — afirmou o cardeal Sérgio da Rocha.

A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, disse que o Ministério Público está de olho em temas do presente, como a violação de direitos de populações pobres:

— As politicas públicas devem zelar por todos, de modo que ninguém esteja fora do seu alcance de proteção. O MP está incumbindo de zelar para que as políticas públicas não discriminem.