Título: Da ribalta política às sombras da coxia
Autor: Aberu, Diego; Mader, Helena
Fonte: Correio Braziliense, 14/08/2012, Política, p. 2
Sete ex-deputados que viram a carreira declinar com o escândalo iniciam defesas no Supremo
O julgamento do mensalão deve acabar em pouco mais de um mês, quando os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) decidirem pela culpa ou inocência dos 38 réus e quais as respectivas penas a serem impostas nos casos de condenação. Mas, para sete ex-deputados — incluindo três petistas que serão defendidos hoje — cujos advogados revezam-se no púlpito do STF, o escândalo do mensalão significou o alijamento do cenário político nacional. Diferentemente de nomes conhecidos, como os ex-deputados José Dirceu e Roberto Jefferson, esses personagens desapareceram da mídia e, alguns deles, abandonaram a vida pública.
Desse grupo, o exemplo mais emblemático é o do ex-deputado professor Luizinho (PT-SP). Ele foi vice-líder do PT no Congresso entre 1999 e 2003, vice-líder do governo na Casa no primeiro ano de gestão Lula e líder do governo quando foram publicadas as primeiras reportagens sobre o mensalão. Divulgou nota afirmando que o episódio era lamentável e "certamente será marcado como mau jornalismo".
Flagrado no esquema sob acusação de ter recebido R$ 20 mil, professor Luizinho escapou da perda do mandato de deputado, mas não se elegeu no ano seguinte. Sem espaço no partido, tentou concorrer ao cargo de vereador nas eleições municipais de 2008, mas, novamente, não obteve êxito. Ex-professor de matemática, voltou a lecionar a disciplina que ensinava antes de despontar no cenário político nacional.
Paulo Rocha (PT-PA) é outro integrante desse grupo. Líder do PT na Câmara no início do governo Lula, Rocha sempre teve uma vida política em seu estado natal. Apontado como participante do mensalão, justificou que os recursos que pegou — R$ 820 mil, em oito parcelas — teriam sido usados para o pagamento de dívidas de campanha do PT e do PSB nas eleições municipais de 2004.
Temendo a cassação e a consequente perda dos direitos políticos, Paulo Rocha renunciou ao mandato de deputado. Conseguiu ser eleito para um novo mandato de deputado federal em 2006. Em 2010, concorreu ao Senado. Não foi eleito e, mesmo se fosse, teria que ter a posse analisada pelo STF, por ter sido enquadrado na Lei da Ficha Limpa.
Pizza João Magno (PT-MG) era deputado federal e foi apontado como beneficiário do esquema de repasse de recursos — ele recebeu R$ 360 mil por intermédio de assessores. Magno também reconheceu a participação no caso, mas, a exemplo de Paulo Rocha, declarou que as verbas serviram para a quitação de dívidas da campanha na disputa pela prefeitura de Ipatinga, em 2004. Parlamentar do baixo clero, ele conseguiu escapar da cassação. Foram 207 votos a favor da cassação e 201 contra. Mas Magno não perdeu o mandato porque não foi atingido o mínimo de 257 votos necessários para a cassação ser consumada. Mesmo assim, o processo gerou outra cena emblemática do mensalão. Sua colega de bancada, a deputada Angela Guadagnin (PT-SP), comemorou dançando a absolvição do correligionário, episódio que ficou conhecida como a "dança da pizza" e a "dança da impunidade". Ela não conseguiu retomar a vida pública. Nem ele. Professor, Magno atualmente é consultor na área de educação em Minas Gerais.
Romeu Queiroz, que foi defendido ontem pelo advogado Ronaldo Garcia Dias, é acusado de ter recebido R$ 102 mil como doação da empresa Usiminas à campanha de 2004. Ex-presidente do PTB em Minas, mudou de partido e hoje é deputado estadual pelo PSB mineiro. A situação de Bispo Rodrigues é ainda mais radical: o ex-deputado deixou a vida pública, o partido (antes PL e hoje PR) e a Igreja Universal, perdendo o título de bispo e passando a ser chamado apenas de Carlos Rodrigues.
José Borba também passou a militar no interior e trocou de partido. Ele já havia sido chamado de "deputado pianista" — que vota projetos de lei em nome de outros colegas de plenário. Líder do PMDB na época do mensalão, é apontado como beneficiário de R$ 200 mil do esquema. Renunciou para não perder o mandato e hoje é prefeito de Jandaia do Sul (PR), pelo PP.
No banco dos réus Veja quem são os sete deputados acusados de envolvimento no mensalão que hoje estão afastados dos holofotes nacionais
Professor Luizinho 2005: deputado pelo PT-SP, líder do governo na Câmara 2012: não tem mandato eletivo
Romeu Queiroz 2005: deputado federal pelo PTB de Minas Gerais 2012: deputado estadual pelo PSB
Carlos Rodrigues 2005: deputado federal pelo PL-RJ 2012: abandonou a carreira política e a carreira religiosa ligada à Igreja Universal
Paulo Rocha 2005: deputado federal pelo PT-PA 2012: não conseguiu se eleger para o cargo de senador
João Magno 2005: deputado federal pelo PT-MG 2012: não exerce cargo público
Pedro Corrêa 2005: deputado por Pernambuco e presidente nacional do PP 2012: foi cassado e perdeu os direitos políticos
José Borba 2005: deputado federal do Paraná, líder do PMDB na Câmara 2012: prefeito de Jandaia do Sul (PR) pelo PP