O globo, n. 31257, 06/03/2019. País, p. 6

 

Mourão diz que ‘perde o Brasil’ com recuo em nomeação de Ilona

Patrik Camporez

06/03/2019

 

 

Por pressão de apoiadores de Bolsonaro, cientista política deixou de integrar Conselho Nacional de Política Criminal

O vice-presidente da República, Hamilton Mourão, criticou a decisão do governo de anular a nomeação da cientista política Ilona Szabó para o Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP). Na avaliação de Mourão, a saída da especialista, após pressão da ala de apoiadores mais fiel ao governo, significou uma derrota para o país.

Em entrevista ao “Valor”, o vice-presidente afirmou que o país precisa aprender a conviver com as diferenças de opinião.

— Eu acho que perde o Brasil. Perde o Brasil todas as vezes que você não pode sentar numa mesa com gente que diverge de você —disse Mourão.

Ilona havia sido convidada para o cargo pelo ministro da Justiça, Sergio Moro. Menos de 24 horas após o convite, Moro recebeu telefonema do presidente Jair Bolsonaro pedindo que Ilona não fosse mais para o CNPCP. O ministro atendeu o pedido do presidente.

Questionado se não seria um enfraquecimento de Sergio Moro, que é, ao lado de Paulo Guedes (da Economia), apontado como um “superministro”, Mourão destacou que o recuo faz “parte da política”.

—A política é isso aí, você não consegue impor, senão vira ditadura —disse.

Após a informação do cancelamento de sua nomeação, Ilona, que é fundadora do Instituto Igarapé — dedicado a estudar e elaborar propostas de políticas públicas para a redução da violência —, disse ao GLOBO que se sentia decepcionada.

— Senti uma certa decepção ao ver que a opinião de grupos extremos tem um impacto tão grande na opinião do presidente da República, que é o presidente de toda a população.

Ilona é uma crítica ao projeto de liberação de armas à população, uma das principais bandeiras dos grupos de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro. O senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) foi um dos que fez uso das redes sociais para manifestar insatisfação contra a escolha de Ilona e fazer pressão contra a permanência dela no conselho. “Meu ponto de vista é como essa Ilona Szabó aceita fazer parte do governo Bolsonaro. É muita cara de pau junto com uma vontade louca de sabotar, só pode”, postou Flávio, filho de Bolsonaro.

Após a saída de Ilona Szabó, outro filho do presidente da República, o deputado Eduardo Bolso n aro( PSL-SP),u sou as redes sociais para comemorara exoneração da cientista política. Fazendo ouso da hashtag #GrandeDia, o deputado federal também citou a saída do desarmamentista Renato Sérgio de Lima, que decidiu se desligar do cargo no conselho após Moro ceder à pressão e excluir Szabó do Conselho Nacional de Política Criminal.

No documento em que formaliza sua exoneração, Lima critica a decisão de Moro de revogara nomeação de Ilona. Segundo ele, a pesquisadora “foi colocada em uma situação constrangedora”.

Ontem, por meio de sua página no Twitter, Bolsonaro voltou a defender que policiais em serviço, em situações específicas, tenham assegurado o direito de atirar para matar. “(...) é urgente que o Congresso aprecie matérias para que os agentes de segurança pública ou não, usem da letalidade para defendera população, caso precisem e estejam amparados por lei para que possamos resgata rapaz diante do terror que vivemos em todo Brasil”, disse.

O CNPCP funciona como órgão consultivo, tendo co moumadas poucas atribuições executivas elaborara primeira minuta de decreto de indulto presidencial, que pode ou não ser considerada pelo governo.