O globo, n. 31254, 03/03/2019. País, p. 11
Lula deixa prisão para acompanhar velório de neto
Sérgio Roxo
03/03/2019
Segurança tinha até policiais armados com fuzis. Emocionado, ex-presidente diz que levará para o céu seu ‘diploma de inocente’
Sob forte esquema de segurança, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixou ontem a sede da Polícia Federal (PF), em Curitiba, onde está preso, para acompanhar o velório e a cerimônia de cremação de seu neto Arthur, de 7 anos, em São Bernardo do Campo, no ABC paulista. O menino morreu vítima de uma meningite meningocócica na sexta-feira, cinco horas após dar entrada no hospital.
O ex-presidente voltou para Curitiba às 15h30. Lula ficou uma hora e 50 minutos no Cemitério da Colina. Ao prestar homenagens a seu neto, muito emocionado, o petista atacou os responsáveis por sua condenação na Lava-Jato, disse que provará sua inocência nos processos a que responde e lembrou que o garoto sofria bullying na escola por ser seu neto.
O ex-presidente chegou ao cemitério às 11h07 cercado por agentes federais. Dezenas de policiais militares também ocuparam o cemitério. A principal preocupação das forças de segurança era a possibilidade de haver confusão entre manifestantes, mas não houve incidentes durante todo o período em que Lula ficou fora da prisão. O próprio PT evitou convocar sua militância para fazer atos.
Lula desceu do carro já bastante emocionado e acenou para centenas de apoiadores que estavam dentro do cemitério, mas na área externa do prédio onde ocorria o velório. Lula entrou no local chorando, segundo relatos de quem também estava no local. No caminho até o caixão de Arthur, ele abraçou familiares, amigos e lideranças petistas. Participaram da cerimônia o ex-prefeito Fernando Haddad, a ex-presidente Dilma Rousseff, o governador da Bahia, Rui Costa, e a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, entre outros.
Depois dos cumprimentos, Lula sentou-se ao lado do caixão e fez carinho no neto, que era seu xodó. Depois da morte da ex-primeira-dama Marisa Leticia, em fevereiro de 2017, Arthur e seus pais se mudaram para o apartamento de Lula em São Bernardo para não deixá-lo sozinho. A proximidade com o neto fez com que Lula também ficasse ligado aos amigos de Arthur, tanto que passou parte do velório abraçado ao garoto Pedro.
— As pessoas que me condenaram... duvido que elas possam olhar para os netos como eu olhava para você — disse Lula durante o velório, de acordo com relatos, dirigindo-se ao corpo do neto.
Lei autoriza
Do lado de fora, seis agentes da PF armados com fuzis protegiam a porta por onde Lula entrou. Simpatizantes que não puderam acompanhar a cerimônia gritavam palavras de apoio. Ainda durante a cerimônia, o ex-presidente prometeu provar a inocência em memória de Arthur:
— Você sofreu muito bullying por ser meu neto. Eu vou provar minha inocência e vou levar para o céu o meu diploma de inocente. Vou provar quem é ladrão e quem não é.
Depois do velório, o corpo de Arthur foi levado para a cremação. Um padre e dois pastores fizeram uma celebração religiosa. Antes do corpo ser baixado, Lula falou algumas palavras. Agradeceu a solidariedade de quem estava presente e disse que não se conformava de ver um neto ir embora antes do avô. — Vai encontrar a Marisa e espera pelo vovô — afirmou Lula, em referência à sua mulher, a ex-primeira dama Marisa Leticia, que morreu há dois anos.
O Código de Execução Penal permite que condenados saiam da prisão em caso de “falecimento ou doença grave do cônjuge, companheira, ascendente, descendente ou irmão”. Só no primeiro semestre de 2016, 88.564 presos foram autorizados a deixar a cadeia para acompanhar enterros ou tratamento de familiares.