O globo, n. 31254, 03/03/2019. País, p. 13

 

Presidente da Vale se afasta do comando da empresa

Danielle Nogueira

Renan Setti

03/03/2019

 

 

Pressionado, Schvartsman apresenta carta ao conselho da mineradora para sair do cargo temporariamente

Em meio à pressão de promotores, o presidente da Vale, Fabio Schvartsman, decidiu se afastar temporariamente do cargo. O pedido foi feito em carta enviada ontem ao Conselho de Administração, um dia após integrantes da força-tarefa que apura as responsabilidades pela tragédia de Brumadinho recomendarem que Schvartsman e outros 13 funcionários de alto escalão da empresa fossem afastados. Mais três diretores da companhia também pediram para sair.

Os membros do Conselho de Administração se reuniram por teleconferência ontem e aprovaram o pedido. Um fato relevante foi divulgado pela companhia confirmando as mudanças. O diretor-executivo de metais básicos, Eduardo Bartolomeo, assumirá a empresa interinamente.

“Por absoluta convicção da retidão de minha conduta e do dever cumprido até aqui, e certo de que a percepção dos fatos que levou à recomendação de afastamento não corresponde absolutamente à sua realidade, tomei a decisão, nesta hora, em benefício da continuidade das operações da companhia e do apoio às vítimas e a suas famílias, de solicitar a esse Conselho, respeitosamente, que aceite o pedido de meu afastamento temporário das funções de diretor presidente da Vale”, diz Schvartsman.

Os outros três diretores que tomaram a mesma decisão são Gerd Peter Poppinga, diretor-executivo de Ferrosos e Carvão; Lucio Cavalli, diretor de Planejamento e Desenvolvimento de Ferrosos e Carvão; e Silmar Silva, diretor de operações do Corredor Sudeste.

A notícia sobre eles foi antecipada pelo colunista Lauro Jardim no site do GLOBO. Segundo uma fonte, além da pressão dos promotores, havia um conflito de interesses na diretoria, pois os executivos estariam mais preocupados em fazer sua defesa do que gerenciar a mineradora. Os investigadores também querem impedir que os citados tenham acesso a prédios onde funcionam atividades da mineradora.

A tragédia deixou 186 mortos e 122 desaparecidos, segundo balanço divulgado pela Coordenadoria Estadual de Defesa Civil de Minas na quinta-feira. Além do presidente e dos três diretores que decidiram deixar a mineradora, a recomendação do Ministério Público atinge também Alexandre de Paula Campanha (gerente executivo de Governança da Geotecnia Corporativa); Marilene Christina Oliveira Lopes de Assis Araujo (gerente de Gestão de Estruturas Geotécnicas); Joaquim Pedro de Toledo (gerente executivo de Planejamento e Programação do Corredor Sudeste); Cesar Augusto Paulino Grandchamp (geólogo vinculado à Gerência Executiva de Planejamento e Programação do Corredor Sudeste); e Rodrigo Artur Gomes de Melo (gerente Executivo do Complexo Paraopeba).

Empresa diz cooperar

A força-tarefa ainda recomendou o afastamento das funções de cinco outros funcionários, sem impedimento de que tenham acesso às instalações da empresa. O pedido foi entregue na sexta-feira aos advogados do Conselho de Administração da Vale. A mineradora tem dez dias para decidir se aceita ou não adotar as medidas. A força-tarefa de Brumadinho é composta pelo Ministério Público de Minas (MP-MG), Ministério Público Federal (MPF), Polícia Civil de Minas e Polícia Federal (PF).

Em nota enviada à TV Globo, a Vale afirma que as recomendações serão analisadas pelo conselho dentro do prazo estipulado.

“A diretoria da Vale coopera permanentemente com as autoridades encarregadas da investigação, fornecendo absolutamente tudo que lhe é demandado para instruir os procedimentos investigatórios em curso, tendo seus executivos e funcionários se colocado à disposição voluntariamente para prestarem depoimentos com o firme objetivo de auxiliar no esclarecimento das causas do lamentável rompimento da Barragem de Feijão”.