O globo, n. 31253, 02/03/2019. País, p. 8

 

Justiça federal quebra sigilo de Cid Gomes e Camilo Santana

Ana Clara Costa

02/03/2019

 

 

Senador e governador do CE são investigados por supostos benefícios à JBS

A Justiça Federal do Ceará autorizou a quebra dos sigilos bancário e fiscal do senador Cid Gomes (PDT-CE) e do governador do Ceará, Camilo Santana (PT-CE), no âmbito do inquérito que apura a concessão de benefícios tributários a empresas do grupo J&F, dos irmãos Joesley e Wesley Batista, em troca de contribuição para campanhas políticas. O período do afastamento do sigilo vai de janeiro de 2011 a dezembro de 2017. O pedido foi feito pela Polícia Federal e validado pelo Ministério Público Federal (MPF). O inquérito foi aberto com base em depoimentos dos irmãos Batista sobre doações ilegais feitas ao grupo político de Cid Gomes quando este era governador do Ceará. Segundo informações que constam no processo, em 2010, Gomes teria pedido aos executivos da empresa doação de R$ 5 milhões em troca da liberação de créditos tributários em nome de empresas do grupo J&F. Em 2014, um novo pedido teria sido feito, porém, no valor de R$ 20 milhões, com o objetivo de irrigar campanhas no estado — incluindo a do petista Camilo Santana, apoiado por Cid Gomes. Diante da negativa da empresa dos irmãos Batista, o então deputado federal Antonio Balhamann Cardoso Nunes Filho (PDT-CE) teria interferido em favor de Gomes afirmando que o Ceará realizaria restituições tributárias da ordem de R$ 110 milhões ao grupo empresarial. Em 2014, o estado pagou à Cascavel Couros.

“Nós perguntamos quanto ele esperava de doação, ele falou que esperava de nós R$ 20 milhões. Eu falei ‘governador, impossível eu contribuir com R$ 20 milhões, enquanto o estado me deve R$ 110 milhões e não me paga. Difícil trabalhar no estado”, contou Wesley Batista, no termo de delação. “Ele não falou nada. Saiu, falou ‘tá bom, deixa eu ver o que posso fazer sobre esse assunto’”, prosseguiu o delator. Em 2014, o estado restituiu R$ 97,5 milhões em créditos de ICMS à Cascavel Couros, subsidiária da JBS. Segundo a investigação, pessoas jurídicas que trabalharam para a campanha de Santana receberam cerca de R$ 9,8 milhões do valor depositado pela J&F por meio de contratos fictícios entregues pelos irmãos Batista à Justiça, enquanto outros R$ 10,2 milhões foram repassados como doação ao PT e ao PROS, então partido de Cid e Ciro Gomes. Procurado, o governador Camilo disse que não tinha conhecimento da quebra de sigilo e disse que nunca foi notificado para esclarecer o caso. Cid Gomes não retornou.