O globo, n. 31252, 01/03/2019. País, p. 7

 

Bolsonaro diz que filhos não mandam no governo

01/03/2019

 

 

Presidente afirmou, em café da manhã com jornalistas, que passou a ‘filtrar’ as declarações de Carlos que possam ter relação com sua gestão; ele foi o pivô da queda do ministro Gustavo Bebianno da Secretaria-Geral

O presidente Jair Bolsonaro afirmou ontem, durante um café da manhã com jornalistas no Palácio do Planalto, que seus filhos não mandam no governo, após o vereador Carlos Bolsonaro (PSCRJ) ter um papel fundamental na crise que resultou na demissão de Gustavo Bebianno da Secretaria-Geral da Presidência. Além de Carlos, o presidente tem outros dois filhos políticos: o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).

— Nenhum filho meu manda no governo, não existe isso —disse o presidente.

A declaração de Bolsonaro foi divulgada pelo Jornal Nacional. Nenhum repórter dos três maiores jornais do país —O GLOBO, “Folha de S.Paulo” e “O Estado de S. Paulo” —foi convidado para o encontro. O café da manhã contou com a presença de jornalistas de 13 veículos.

De acordo com Bolsonaro, ele passou a “filtrar” as declarações de Carlos que possam ter relação com o governo. Carlos chamou Bebianno de mentiroso, em uma rede social, após o então ministro dizer que tinha conversado três vezes com Bolsonaro. O objetivo do ex-ministro era mostrar que não havia crise entre os dois, em meio às suspeitas de candidaturas laranjas no PSL.

O ex-ministro presidiu o partido durante a campanha eleitoral do ano passado. Posteriormente, mensagens de áudios divulgadas mostraram que Bebianno havia, de fato, conversado com o presidente, enquanto ele estava internado no Hospital Albert Einstein, em São Paulo.

— Tudo passou a ter um filtro da minha parte —afirmou Bolsonaro, no encontro de ontem.

Divórcio

O presidente lamentou a demissão do ministro, que foi seu homem de confiança durante a campanha eleitoral, mas comparou a situação a um “casamento” que terminou prematuramente e disse que não havia alternativa a não ser exonerá-lo.

— Lamento o ocorrido, mas não poderia ter tomado outra decisão. É quase um casamento que infelizmente prematuramente se desfez — disse Bolsonaro, de acordo com o portal UOL.

O presidente também disse que não há mal-estar com a ala militar do governo. Durante a crise que culminou na queda de Bebianno, esse núcleo —o de maior confiança do presidente — mostrou preocupação com a interferência de Carlos em assuntos do governo.

—Não há nenhum problema com os militares — disse Bolsonaro ontem.

No café da manhã, o presidente ressaltou a importância da imprensa para o processo democrático. Ele admitiu que já deu “caneladas”, mas afirmou também que a imprensa já cometeu erros, e disse que isso faz parte de um processo de amadurecimento.