O globo, n. 31297, 15/04/2019. País, p. 5

 

Irritado, Bolsonaro fala em deixar PSL no futuro

Bruno Góes

Amanda Almeida

15/04/2019

 

 

Em reunião com dirigentes do PR na semana passada, presidente reclamou de confusões criadas por integrantes do partido e deixou em aberto a possibilidade de mudar de legenda se não conseguir pacificar seus aliados

Fonte de problemas para o governo, o PSL passou a irritar o presidente Jair Bolsonaro que, em conversa com líderes partidários na última semana, chegou a confidenciar o desejo de deixar a sigla no futuro.

Bolsonaro se filiou ao PSL em março do ano passado, para disputar a Presidência. Até então, era um partido nanico, com apenas oito deputados, nenhum senador e pouca expressão nacional. Na prática, o presidente “manda” na sigla, em acordo com seu presidente, Luciano Bivar.

Mas a expansão do partido sob Bolsonaro, agora com 54 deputados e 4 senadores, colocou o PSL nos holofotes, e a sigla vive uma sucessão de problemas e conflitos internos. Na conversa da semana passada, Bolsonaro afirmou que, se vier a disputar a reeleição, deve ser por outro partido.

Com a eleição de 2022 distante e o governo ainda buscando deslanchar as reformas na pauta do Congresso, as reclamações de Bolsonaro numa reunião com líderes do PR foram entendidas pelos interlocutores mais como um desabafo do que como um plano na iminência de se concretizar.

Estavam presentes na conversa o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, o líder do PR no Senado, Jorginho Mello (SC), o senador Wellington Fagundes (MT), o líder do PR na Câmara, Wellington Roberto (PB), e o exministro de Dilma Rousseff Alfredo Nascimento. O desabafo de Bolsonaro foi relatado ao GLOBO por dois participantes do encontro que disseram que o presidente afirmou que “não dava para continuar no partido” e que seria “muita confusão” para administrar.

Procurado para esclarecer as declarações, o Planalto disse que não iria comentar o assunto. Na reunião, Bolsonaro não teria detalhado a quais “confusões” se referia. Desde que assumiu o cargo, o presidente teve que lidar com a repercussão do escândalo de candidaturas-laranja, investigado pelo Ministério Público. O episódio deixou em saia justa o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, e o ex-ministro Gustavo Bebbianno (Secretaria-Geral), ambos do PSL, além de deixar em evidência o papel do presidente nacional da sigla, Luciano Bivar, na distribuição suspeita de recursos do fundo eleitoral.

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Bebianno lamenta ‘falta de consideração’ de presidente

Jussara Soares

15/04/2019

 

 

Ex-ministro, que é advogado, deixou processos em que defendia Jair Bolsonaro na Justiça Eleitoral na última semana

Quase dois meses após ser demitido, o ex-chefe da Secretaria-Geral da Presidência Gustavo Bebianno começou a cortar os últimos laços que mantinha com o presidente Jair Bolsonaro. Advogado por formação, ele deixou na semana passada os processos em que defendia Bolsonaro na Justiça Eleitoral. Ainda seguem com Bebianno ações criminais e cíveis, embora ele diga que “quer passar tudo”.

Ao longo de todo o trabalho em favor da família presidencial, Bebianno diz ter reunido 40 advogados que trabalharam de graça sob sua coordenação para defender o clã Bolsonaro na Justiça. Mesmo depois de sua demissão, o ex-ministro contratou uma perícia no processo contra Adélio Bispo para demonstrar que o autor das facadas no presidente tem condições mentais de responder por seus atos. Todo seu esforço, na avaliação de Bebianno, não foi reconhecido.

— Apesar de ter sido chamado de mentiroso, e não ter tido uma gota de consideração depois de tudo que fiz, minha posição profissional continua a mesma — disse Bebianno ao GLOBO.

A psiquiatra forense Paula Campozan foi contratada por Bebianno para fazer uma nova avaliação sobre a sanidade de mental do esfaqueador, considerado inimputável pela Justiça. A perita cobrou R$ 15 mil pelo trabalho. A primeira parcela de R$ 5 mil foi paga pelo próprio Bebianno e depois reembolsada pelo presidente.

— Enquanto muita gente fica dando ataque histérico e fazendo gracinha na internet, quem tomava as providências efetivas era eu — declarou o ex-ministro.

Bebianno diz que pediu a Bolsonaro que indicasse advogados para substituí-lo em todas as ações, após o presidente mostrar preocupação, em conversa divulgada pelo GLOBO, com o valor que o exaliado poderia cobrar em honorários. Na ocasião, em conversa com o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, Bolsonaro disse que teria que “vender uma casa para poder pagar” Bebianno. A conversa ocorreu dois dias depois da demissão de Bebianno, após atritos do então ministro com o presidente e um de seus filhos, Carlos Bolsonaro.

Na última semana, Bebianno foi substituído pela advogada Karina Kufa em 30 ações eleitorais. A advogada afirmou que também deve assumir processos civis e criminais, mas ainda faz o levantamento das causas que tramitam na Justiça.

— Acho que cada um tem que seguir com a sua vida — afirmou Bebianno.