O globo, n. 31299, 17/04/2019. País, p. 8

 

Polícia mira general e outras seis pessoas

Gustavo Schmitt

Jailton de Carvalho

Juliana Castro

Victor Farias

17/04/2019

 

 

Agentes foram a endereços em São Paulo, Goiás e no DF com ordem para recolher celulares, tablets, computadores e bloquear acesso a redes sociais. Investigados reclamam de arbitrariedade e fazem protestos

Agentes da Polícia Federal (PF) cumpriram ontem ordens de busca e apreensão do ministro do STF Alexandre de Moraes em São Paulo, Goiás e no Distrito Federal. A determinação era para apreensão de celulares, tablets e computadores, além de bloqueio de contas nas redes sociais. Entre os sete alvos dos mandados de busca e apreensão na manhã de ontem estava o general da reserva Paulo Chagas, excandidato a governador do Distrito Federal.

Em sua decisão, Moraes apontou “sérios indícios da prática de crimes”, com “graves ofensas a esta Corte e seus integrantes, com conteúdo de ódio e de subversão da ordem”. Na maioria dos casos, os acusados publicavam em redes sociais manifestações repúdio a decisões do STF e convocações de protestos contra a Corte.

Paulo Chagas não foi encontrado em sua casa em Brasília. Ex-candidato pelo PRP ao governo do DF, ele estava em São Paulo visitando um neto. Foi sua filha, Luciana, quem recebeu os policiais às 5h40m da madrugada. Ferrenho crítico do Supremo nas redes sociais, o general da reserva disse ao GLOBO que mantém as críticas e disse que não espalhou mentiras.

— Como vou retirar as críticas? Se eu retirar as críticas vão dizer que sou um cagão. Eu não sou — disse Chagas, argumentando que usou um blog e contas nas redes sociais para expressar opiniões pessoais sobre assuntos de interesse público. — Fake news eu não faço. Minha opinião é minha opinião.

O general questionou o interesse da polícia em seu celular e computador, alegando que a investigação deveria se limitar ao que foi publicado na internet.

Em Ferraz de Vasconcelos, na região metropolitana de São Paulo, o alvo foi a jovem Isabella Sanches de Sousa Trevisani. Ela foi candidata a deputada estadual no ano passado pelo PRTB, partido do vice-presidente Hamilton Mourão, e recebeu 512 votos.

Após receber os agentes da PF em sua casa, ela fez uma transmissão pelo Facebook criticando a ação, e dizendo que manterá os ataques:

—Eles querem calar o povo brasileiro que luta contra eles nas ruas, eles querem impedir, censurar de todas as maneiras possíveis. Só tenho um recado a vocês: ministro Alexandre, ministros do STF, a vez de vocês está chegando. Vou tacar mais ovos nos carros, nos prédios, onde eu conseguir. Podem me aguardar, não vou me calar, isso não vai me intimidar.

Em Ribeirão Pires, também em São Paulo, o corretor de imóveis Carlos Antônio dos Santos, de 50 anos, admite que fazia muitas postagens sobre a Corte no Facebook. Temendo retaliações, afirma que vai parar de publicar sobre o STF. Ele se disse assustado com a presença da PF em sua casa por volta das 6h.

— Não pretendo mais postar. O que aconteceu foi uma arbitrariedade — disse Santos. — Os policiais foram educados e se mostraram solidários comigo. Mas me senti constrangido já que tiveram que acordar dois vizinhos para que fossem testemunhas da ação.

Em Anápolis (GO), as buscas foram na casa do policial civil Omar Rocha Fagundes. Em algumas publicações, ele afirmou que os ministros da Corte são “bolivarianos” e estão “alinhados com narcotraficantes e corruptos”. Um de seus posts citados pelo STF foi curtido por apenas quatro pessoas, com quatro compartilhamentos e nenhum comentário.

Os outros três alvos foram Gustavo de Carvalho e Silva, em Campinas (SP), Sérgio Barbosa de Barros e Ermírio Aparecido Nardini, ambos na capital paulista.

___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

‘Vão me prender? Prendam’, diz microempresário sobre operação

Sérgio Roxo

17/04/2019

 

 

Erminio Nadin diz que continuará a escrever contra integrantes do STF

O microempresário Erminio Nadin, de 67 anos, que produz roupas para cachorros, foi acordado às 6h de ontem, quando um delegado e três agentes da Polícia Federal chegaram à sua casa, um imóvel simples de esquina em uma rua pacata da Zona Leste de São Paulo. Ele se considera “injustiçado” por ter sido alvo da operação determinada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) contra supostos propagadores de “fake news”, mas afirma que não pretende abandonar as postagens contra a Corte.

—Tudo que eu falei é verdade. Se me chamarem lá (para prestar depoimento), vou reafirmar. Vão me prender? Prendam!

Nadin conta que os policiais federais ficaram cerca de uma hora em sua casa e estavam desarmados:

—O exagero foi do STF, do ministro Alexandre de Moraes. Agora virou a ditadura judicial, ditadura do STF. Sempre postei porque sou contra as atitudes deles, ali tem muita coisa errada.

Os agentes levaram apenas o seu computador. O empresário conta ainda que faz postagens de material que encontrou na própria rede social acrescido de um pequeno texto próprio.

A empresa de Nadin produz roupas para cachorros que são vendidas para petshops. No passado, já chegou a ter 200 funcionários, mas hoje ele trabalha sozinho. Eleitor do presidente Jair Bolsonaro, nega fazer parte de uma ação orquestrada contra o Supremo: —Ajo por minha conta. Nadin se sente revoltado com a corrupção do país:

—O dinheiro que pago de impostos é revertido em propina.