Correio braziliense, n. 20400 , 29/03/2019. Governo p.3

Bolsonaro: Crise é página virada

Simone Kafruni

Alessandra Azevedo

 

 

Tentando esfriar a temperatura política dos últimos dias, quando bateu de frente com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), o presidente Jair Bolsonaro classificou, ontem, o desentendimento com o parlamentar como “chuva de verão”. De acordo com o chefe do Executivo, o episódio é “página virada”. “As divergências eram uma chuva de verão, mas agora o céu está lindo”, comentou, após participar da cerimônia de celebração dos 211 anos da Justiça Militar da União, no Clube do Exército.

A declaração é uma tentativa de encerrar a troca de farpas entre os Poderes, que vem atrasando as discussões sobre a votação da reforma da Previdência. “Da minha parte, não tem problema nenhum”, garantiu o chefe de governo. Ele mandou até um abraço para o presidente da Câmara, que, no dia anterior, havia dito que Bolsonaro estava “brincando de presidir o país”. “Vamos em frente. Acontece”, disse o presidente.

Maia, entretanto, não foi ao evento, para o qual também foi convidado. “O motivo do não comparecimento, eu não sei. Para mim, isso foi uma chuva de verão, o sol está lindo e o Brasil está acima de nós”, reforçou Bolsonaro. Ele disse ter tido “um excelente diálogo” com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e afirmou estar à disposição do presidente da Câmara para conversar. “Como eu disse, o Brasil está acima de nós, tá ok?”, completou.

Segundo Bolsonaro, “a reforma continua”. O presidente lembrou que a votação da proposta de mudança no sistema previdenciário não é importante apenas para o governo, mas “para o Brasil”, e que os parlamentares são independentes e, por isso, podem fazer modificações no texto enviado pelo governo. “Eles vão decidir de acordo com o entendimento de cada um. É isso que faz a democracia ficar forte”, comentou.

Questionado sobre a possibilidade de se reunir com mais frequência com líderes partidários e outros parlamentares, Bolsonaro lamentou não poder atender mais, porque “o dia só tem 24 horas”. “Eu tenho cinco, seis horas para dormir; por isso, não atendo mais gente”, disse.

 

Otimismo

No início da noite, em transmissão pelo Facebook, Bolsonaro disse “ter certeza” de que os parlamentares vão aprovar a reforma, apesar das mudanças que devem ser feitas no conteúdo. “Com toda certeza, a Câmara e o Senado vão fazer as suas possíveis correções, porque nós não somos perfeitos. Contamos, obviamente, com os 513 deputados e os 81 senadores para que aperfeiçoem a proposta”, afirmou.

A reforma da Previdência, apesar de ser o tema mais importante da agenda econômica, ficou para o fim da conversa. O presidente estava prestes a encerrar a transmissão quando foi lembrado por um assessor de falar sobre o assunto. Em seguida, brincou que, por ele, os brasileiros se aposentariam mais cedo. “O homem, com 25 anos e a mulher, com 20. Seria o ideal. Mas, como a Previdência está posta, em 2022 ela quebra, ou antes disso; então, a reforma é para que o Brasil não quebre”, explicou.

Bolsonaro também cobrou celeridade dos parlamentares na tramitação da proposta, “para que o Brasil possa decolar”, e criticou a oposição. Quem está contra a reforma, segundo ele, são o PT, o PCdoB e o PSol. “Parece que esse pessoal não tem compromisso com o futuro do Brasil”, declarou.