Correio braziliense, n. 20397 , 26/03/2019. Política, p.2

Reforma dita o retorno ao diálogo

Rentao Souza

Claudia Dianni

Simone Kafruni

 

 

O presidente da República, Jair Bolsonaro, está em uma corrida contra o tempo para garantir a tramitação da reforma da Previdência. O objetivo é terminar as animosidades com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, depois de alguns dias de troca de críticas. Uma das primeiras ações veio logo pela manhã, com uma reunião entre o chefe do Executivo e os ministros. Segundo participantes do encontro, a ordem é acalmar os ânimos entre os poderes em nome da PEC da Previdência. O ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, foi um dos primeiros a começar o trabalho, ao almoçar com Maia e com Davi Alcolumbre, presidente do Senado, a fim de “pacificar” a relação com o Congresso. Em um pedido direto de Bolsonaro, Onyx se encontrará também com os líderes dos partidos.

No fim do dia, o porta-voz da Presidência da República, general Otávio do Rêgo Barros, foi bastante questionado sobre o abalo nas relações institucionais, mas seguiu a cartilha combinada. Falou do almoço entre Onyx, Maia e Alcolumbre e reforçou que a “nova Previdência está estruturada em quatro pilares fundamentais: combate às fraudes e redução das ações judiciais; modernização do processo de cobrança de dívidas; equidade e criação de novo regime de capitalização para as novas gerações”. E garantiu: “O nosso presidente se coloca ao lado do Congresso para trabalhar em prol da aprovação da reforma”.

Até outra “briga” entrou na ordem do dia, a fim de diminuir a temperatura entre Planalto e Congresso. O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, foi questionado sobre a discórdia com Maia em relação ao projeto anticrime. “Nós temos um bom relacionamento. Houve algumas declarações ásperas, mas isso é absolutamente superável, isso é normal. Como se diz, depois da tempestade vem a bonança e há plenas condições de dialogar e construir juntos uma agenda sobre a liderança do presidente Jair Bolsonaro”.

A Câmara retoma hoje a rotina, com grande suspense para os próximos passos em relação à reforma. O presidente se mantém irredutível e diz, para integrantes da equipe, que não vai se render à velha política do toma lá dá cá. A expectativa é de que o relator da proposta que altera as regras previdenciárias na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara (CCJ) seja escolhido até o fim desta semana. O próprio Maia segue um discurso de reconciliação. Em entrevista ao blog da jornalista Andréia Sadi, ele afirmou que a reforma previdenciária está “acima do governo” e que está decidido a “blindar” a PEC para que ela seja aprovada. Afirmou que defenderá na Casa a manutenção do decreto anunciado por Bolsonaro que libera o visto para turistas norte-americanos e de outros países.

 

Envolvimento

O secretário especial de Previdência e Trabalho, Rogério Marinho, rebateu, ontem, em um encontro com prefeitos, em Brasília, as críticas em relação à organização do governo. “A articulação política é da Casa Civil. Vários deputados ajudarão neste processo, e o próprio ministro Paulo Guedes. O presidente Bolsonaro já está envolvido. Ele tem repetido e reiterado seu compromisso com o projeto. Ele tem liderado, dentro do governo, essa situação de aprovar a nova Previdência”, disse.

Marinho alegou que Bolsonaro está engajado com a reforma e que leva mensagens sobre a importância da aprovação ao Congresso. “O presidente da República anunciou publicamente o seu compromisso com a reforma da Previdência, inclusive a essencialidade desse projeto. Tem colocado e reiterado a sua disposição. Isso tem sido comum, inclusive, nos agentes públicos do próprio parlamento. Ouvimos o presidente da Câmara também se comprometer com esse projeto. Essa é uma pauta essencial para o país. Não é apenas do governo: é da sociedade”, disse (Leia mais sobre o encontro com os prefeitos na página 3).

Bolsonaro participou, no início da noite de ontem, da cerimônia de assinatura de contratos de concessão de linhas de transmissão, no Palácio do Planalto. Mas evitou comentários sobre o desgaste com o Congresso. Fez um discurso protocolar de pouco mais de três minutos, no qual disse que o leilão, realizado no ano passado, ainda no governo de Michel Temer, só foi exitoso graças a ações do seu governo, e deixou o Salão Leste. Ele também falou sobre as viagens aos Estados Unidos e Chile, na semana passada. “Viajei para aprofundar as relações, além de trazer mais confiança para expandir os investimentos. É neste cenário que entra a nossa proposta de uma nova Previdência, mais justa e mais igualitária, que possibilitará o equilíbrio das contas públicas dos governos federal, estaduais e municipais. É o Brasil voltando a crescer”, finalizou.