Correio braziliense, n. 20397 , 26/03/2019. Política, p.3

Paulo Guedes: Não há caos

Bruno Santa Rita

 

 

O ministro da economia, Paulo Guedes, afirmou que não há crise política no governo. Durante a Reunião-Geral da Frente Nacional de Prefeitos (FNP), realizada ontem, ele disse não haver “caos nenhum” nos recentes embates políticos entre o governo e o poder legislativo. Para ele, as discussões e as discordâncias são um processo natural da democracia e da gestão de um novo governo que vai contra a política do “toma lá dá cá”. E afirmou que espera a PEC da Previdência aprovada em “três ou quatro meses”.

Guedes amenizou as recentes trocas de farpas entre o presidente da República, Jair Bolsonaro, e o presidente da Câmara dos deputados, Rodrigo Maia (DEM). Segundo o economista, Maia sabe a importância da reforma, mas discorda de alguns pontos. “Há dois anos, quando foi eleito presidente da Câmara, no discurso de posse, ele disse que apoiaria e que precisava fazer a reforma”, ressaltou. O ministro da economia reforçou que também há apoio no Senado. Segundo ele, Davi Alcolumbre (DEM), presidente da Casa, é a favor da reforma. No entanto, também teria ressalvas quanto ao texto proposto. “Ele é a favor. Isso não quer dizer que ele é 100% a favor do que está lá”, informou.

O economista pediu atenção às gerações futuras e fez um apelo às pessoas que hoje votam a reforma previdenciária. “Quando se vota contra a reforma, está se votando contra nossos filhos e netos. Então, estamos ao lado das gerações futuras. Quem votar contra (a reforma) está contra elas e a favor do colapso”, afirmou.

O momento político brasileiro, com divergências de ideias e discussões, refletem um país mais crítico, segundo Guedes. “Agora, temos de tudo. O Brasil está revigorado nas pautas políticas. Está enriquecendo politicamente, mas estamos vendendo a história ao contrário, que há uma crise terrível”, disse. “O que eu vejo é algo perfeitamente normal”, refletiu.

Os privilégios do funcionalismo público na aposentadoria também foram abordados por Guedes. “Tem sete ou oito milhões de pessoas que se beneficiam dessa face da desigualdade que se tornou o sistema previdenciário brasileiro. Vamos ter que decidir se quem tem privilégios poderá mantê-los. A primeira coisa que acontece com a não reforma é a interrupção do pagamento de salários”, avisou. Como o rombo previdenciário é um problema nas contas públicas do país, quem quebrará é o governo. “Então, se quebrar, os primeiros que perdem são os setores públicos”, completou.

Após a reforma da Previdência, o próximo passo do governo é descentralizar o orçamento da União e dividi-lo pelos estados e municípios por meio da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) do pacto federativo. Com essa mudança, será possível combater a violência e as crises fiscais em cada unidade federativa, segundo Guedes. “O problema é avançar nisso e morrer com colapso da previdência”, disse.

 

Alerta ao governo

O prefeito de Campinas (SP) e presidente da FNP, Jonas Donizette (PSB), reforçou que a desestabilização do governo na articulação da aprovação da reforma da Previdência não é oportuna para o momento. “Há boa vontade nossa de ajudar, mas preciso ter a responsabilidade de passar para o senhor (Paulo Guedes) a nossa preocupação com a condução política desse processo”, ressaltou. Para Donizette, Guedes “amenizou” as turbulências políticas no governo Bolsonaro durante o discurso na Reunião-Geral. O político reafirmou publicamente o apoio dos prefeitos à reforma da Previdência. “A gente sabe que, para criar uma atmosfera de geração de empregos, precisa criar uma frente. Números do Ministério da Economia mostram que, se aprovada, em quatro anos, a reforma vai gerar economia de R$ 32 bilhões para os municípios e, em 10 anos, de R$ 150 bilhões”, afirmou.