Título: Delator quer dividir a responsabilidade
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Fonte: Correio Braziliense, 23/08/2012, Política, p. 2

A poucos dias de ser submetido ao crivo dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), o presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson, que responde por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, espera que os magistrados considerem uma de suas principais argumentações: de que ele tentou avisar autoridades, mas houve omissão. Segundo Jefferson, ele teria conversado com Ciro Gomes, Aldo Rebelo, Walfrido dos Mares Guia e Miro Teixeira, à época ministros, e com o próprio ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ao petista, Jefferson teria contado a história pelo menos duas vezes, na esperança de que alguma medida fosse tomada. Os advogados do petebista sustentam que nada foi feito e, sete anos depois, 37 réus estão sob julgamento.

O primeiro a ouvir o relato, segundo Jefferson, foi Miro Teixeira (PDT-RJ). Quando ainda era ministro das Comunicações, Miro foi procurado no prédio do ministério. O presidente do PTB estava acompanhado pelo então líder do partido na Câmara, José Múcio Monteiro — hoje ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) — e pelo deputado João Lyra (PTB-AL). Ele queria convidar o pedetista para ingressar no PTB, lembrou a história de parceria da legenda com o brizolismo e disse que a visita fazia parte de um trabalho para crescimento da legenda.

Por fim, quando já se levantava para deixar o gabinete ministerial, Jefferson jogou a isca: "E no PTB não recebemos o mensalão". Miro se assustou: "Como é que é?". O presidente do PTB revelou que havia uma história no Congresso de parlamentares recebendo dinheiro para votar com o governo. "Você tem que avisar o presidente sobre isso, se quiser eu vou com você", prontificou-se Miro. Jefferson disse que faria isso oportunamente.

Os dois se encontraram novamente quando Miro já era líder do governo no Congresso, em aproximadamente abril de 2004. A sós, no corredor que desemboca na liderança do governo na Casa. "Eu propus a ele que fosse à tribuna fazer um discurso sobre o mensalão", declarou Miro ao Correio. "Falei que iria com ele até o plenário, mas que eu não poderia discursar porque a história não era minha, era dele", justificou-se. Jefferson acabou esperando mais de um ano para denunciar o esquema.

Antes, porém, o petebista bateu em outra porta. Foi ao Ministério da Integração Nacional, comandado na época por Ciro Gomes. O ministro disputara as eleições presidenciais de 2002 pelo PPS, tendo o PTB em sua chapa — o vice era Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força. A exemplo do que fizera com Miro, Jefferson foi ao ministério para uma audiência normal e reclamou que o Congresso estava "esquisito", com um esquema de compra de apoio parlamentar com base em pagamentos regulares.

Assim como fez Miro, Ciro encorajou o presidente do PTB a avisar imediatamente o presidente Lula, pois ele, provavelmente, não sabia o que estava acontecendo no Congresso. O escândalo do mensalão serviu para aproximar Ciro de Lula. O ex-presidente considera que tanto Ciro quanto o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), foram vozes constantes em defesa do governo e dele próprio, algo que muitos petistas foram incapazes de fazer na época. Procurado pelo Correio, Ciro disse que tudo o que deveria dizer sobre o mensalão já havia sido dito no depoimento que concedeu à Justiça.