Correio braziliense, n. 20394 , 23/03/2019. Política, p.3

Bolsonaro tenta minimizar crise

Leonardo Cavalcanti

 

 

Santiago — Aparentemente surpreso com a declaração do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), de que vai largar a negociação política em torno da reforma da Previdência, o presidente Jair Bolsonaro tentou esfriar os ânimos e manter o parlamentar ao seu lado. Depois de ser questionado por jornalistas que acompanham a visita de chefes de Estado sul-americanos à capital chilena, Bolsonaro comparou a relação com Maia com a de uma namorada, que ameaça deixar o caso amoroso, mas que é convencida a continuar depois de uma boa conversa.

“Eu não dei motivo para ele sair”, frisou. Questionado por um repórter sobre que argumentos usará no convencimento, o presidente disse: “Só conversando, não é? Você nunca teve uma namorada? Quando ela quis ir embora, você fez o quê? Não conversou?”. O presidente ainda perguntou: “Estou fora do Brasil. Eu quero saber qual o motivo pelo qual ele está saindo (da articulação)”.

Perguntado se um deles não seriam os tuítes de um dos seus filhos, o vereador Carlos Bolsonaro — que criticou Maia em apoio ao ministro da Justiça, Sérgio Moro, porque a tramitação do pacote anticrime ficou em segundo plano —, o presidente declarou: “Todo o Brasil está indignado com a demora da votação do projeto anticrime”. “Nós, no Brasil, não conseguimos mais viver com mais de 60 mil homicídios por ano. Se foi esse motivo, eu lamento, mas isso não é motivo.”

Bolsonaro disse que pretende conversar com Maia depois que voltar ao Brasil e que está aberto ao diálogo. Ele sabe que, independentemente da tensão criada, o presidente da Câmara é personagem fundamental na velocidade de tramitação da proposta de emenda à Constituição (PEC) da Previdência, que, além de ter prazos mais extensos, precisa de quórum qualificado para que o governo tenha vitória.

Reclamações

Parlamentares de siglas aliadas reclamam, nos corredores do Congresso, de falta de diálogo de interlocutores para negociarem emendas e votos no projeto da Previdência. “Nós, deputados do Centrão, estamos nos sentindo muito isolados. Não é questão de conseguir cargo nem de liberar dinheiro para os estados. Sabemos que o país está em crise. O que queremos é ser atendidos pelos ministros do governo, ao menos. Eles precisam do meu voto”, disse um líder.

Um congressista aliado a Maia afirmou que, até o momento, a articulação política do governo está “pior do que na era Dilma”. Isso porque o parlamento não tem uma referência do Executivo, “não sabe quem manda, quem fala ou, se quando fala, é aquilo mesmo”. “Estamos perdendo, inclusive, a confiança”, disse. De acordo com o parlamentar, falta Bolsonaro entender que ninguém na Casa quer a velha política, mas a boa política. “É como o Maia falou. Aqui se faz a boa política”, emendou.

Colaborou Gabriela Vinhal