Correio braziliense, n. 20394 , 23/03/2019. Política, p.3

Ex-reitor da UnB é cotado para "número 2" do MEC

Ingrid Soares
Marina Torres
 
 
 

Pouco mais de uma semana depois de ter sido anunciada pelo ministro Ricardo Vélez Rodríguez como secretária executiva do Ministério da Educação, Iolene Lima foi exonerada. Antes dessa proposta, ela ocupava o cargo de secretária substituta da Secretaria de Educação Básica do MEC. Iolene ainda largou o emprego de direção de uma escola para aceitar a nomeação que nem chegou a ocorrer. Essa é a terceira vez que ocorre mudança para o mesmo cargo.


Um dos cotados para assumir o posto de “número dois” do MEC é o ex-reitor da Universidade de Brasília (UnB) Ivan Camargo, nome próximo de militares da cúpula do governo que mantêm influência na pasta. Entre outras funções, ele comandou a Superintendência de Regulação dos Serviços de Distribuição da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Ao Correio, o professor de engenharia elétrica disse que ainda não foi procurado. “Estou chegando agora ao país, estava morando na França. Vi essa questão, fiquei honrado de ter meu nome cotado, mas ninguém entrou em contato comigo, nada oficial. Se me chamarem, teria de entender o que está acontecendo.”

Camargo preferiu não comentar pautas do governo, como a militarização nas escolas, mas disse que, no geral, “é indispensável alguma disciplina e é inaceitável qualquer tipo de violência em qualquer nível escolar”. Entre as pautas prioritárias, ele destacou a educação básica.

O vice-presidente Hamilton Mourão comentou, ontem, em entrevista à Rádio Gaúcha, os desencontros no MEC. “O Ministério da Educação tem de tomar um freio de arrumação, como a gente diz. Eu julgo que o presidente (Jair Bolsonaro) já conversou com o ministro Vélez, e vai ser organizado isso nos próximos dias”, ressaltou.

Apesar de Bolsonaro jurar que Vélez Rodríguez continua à frente da pasta, fontes internas dizem que há uma pressão pela troca do ministro, que estaria atuando na “prorrogação”. Nomes como o de Mendonça Filho, que ocupou o cargo no governo Temer, começaram a surgir. Outro cotado seria Anderson Correia, presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

“100% alinhado”

Por meio das redes sociais, Vélez afirmou que está “100% alinhado ao Planalto”, que a “Lava-Jato da educação está a pleno vapor”. Ele também escreveu que “a retomada do foco no Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação) e a implementação do modelo cívico-militar em escolas selecionadas estão entre as prioridades”.

O professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP) Ocimar Alavarse avaliou que as discussões acerca de ideologias não respondem aos problemas da educação brasileira e o que se tem é uma lacuna que persiste em quase três meses de governo. “Muitas coisas estão sem resposta. O Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica), que demanda tempo e de difícil execução, ninguém sabe o que vai acontecer, tem de ter uma logística grande. O financiamento do Fies (Fundo de Financiamento Estudantil) está com crise”, ressaltou. “Nos 5º e 9º anos também há problema em relação ao conteúdo de ciências. Tem escola que nem recebeu livros didáticos ainda. O secretário executivo é pessoa-chave e ainda não se sabe ao certo quem vai ser. O foco do governo deve ser na aprendizagem, na falta de material didático, nas escolas sem estrutura, mas, pelo que estamos assistindo, o MEC virou coluna social.” Outros programas que aguardam a sinalização e a atenção do governo é a reforma do ensino médio e o Plano Nacional da Educação (PNE), considerado o carro-chefe para erguer a educação no país.

*Estagiária sob a supervisão de Cida Barbosa

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Ministério sem rumo

O MEC se vê envolto em uma briga ideológica e numa disputa entre militares e técnicos. Em meio a frequentes reuniões com o presidente Bolsonaro, o ministro Ricardo Vélez Rodríguez foi obrigado a demitir auxiliares, após um embate inflamado com o filósofo Olavo de Carvalho, considerado o guru do presidente e responsável pela indicação do próprio ministro.

No último dia 12, o então “número dois” da pasta, o secretário executivo Luiz Antonio Tozi foi exonerado. Inicialmente, estava prevista a transferência do cargo para Rubens Barreto da Silva, também nomeado recentemente para o cargo de secretário executivo adjunto. No entanto, pressões internas não o deixaram sequer assumir o cargo. No dia 14, após voltar de uma viagem, Vélez Rodríguez confirmou, por meio das redes sociais, que o cargo ficaria com a pastora Iolene Lima. A nomeação dela também não foi chancelada pela Casa Civil. Outros seis funcionários do alto escalão do Ministério da Educação acabaram exonerados.