O globo, n. 31296, 14/04/2019. País, p. 9

 

Deputada acusa ministro de ameaça de morte

Vinicius Sassine

14/04/2019

 

 

Alê Silva (PSL-MG) denuncia que pessoas enviadas por Álvaro Antônio mandaram que ela ‘ficasse quieta’ sobre caso de laranjas no partido, porque ele teria ‘ódio mortal’; titular do Turismo nega e diz estar sendo difamado por disputa política

A deputada federal Alê Silva (PSL-MG) acusou o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antonio, de ameaçá-la de morte em duas ocasiões, com transmissão do recado sobre a ameaça por parte de políticos do mesmo partido. O ministro respondeu que ela faz “campanha difamatória” contra ele e que as acusações “não têm correspondência” com sua história de vida.

Alê Silva fez a acusação ontem ao jornal “Folha de S.Paulo”. Em entrevista ao GLOBO, à tarde, a deputada reiterou a denúncia, disse que o ministro comunicou por via indireta sentir “ódio mortal” por ela e afirmou já ter sido xingada por Álvaro em ligação feita na madrugada. Segundo Alê disse ao GLOBO, o ministro “usa” o presidente Jair Bolsonaro, que resiste em demiti-lo.

— Eu de fato me sinto ameaçada pelos últimos acontecimentos. Ele (o ministro) não fala diretamente comigo. Essas pessoas não usam mais telefone, têm medo de estar grampeadas. Então mandam interlocutores. Um viajou 216 quilômetros para me falar pessoalmente, pedir para eu não levar adiante mais nada, que o ministro já estava ciente que fui eu que entreguei informações para denúncia ao Ministério Público. E que ele estava com ódio mortal de mim, que se eu soubesse de mais alguma coisa, que era para ficar quieta —afirmou a deputada.

Segundo a acusação feita por Alê, a ameaça feita pelo ministro do Turismo é uma reação às acusações relacionadas ao suposto esquema de candidaturas laranjas de mulheres pelo PSL. A deputada reuniu informações sobre o caso e entregou a uma associação de sua região, para que fossem repassadas ao Ministério Público. O titular do Turismo comanda o PSL em Minas Gerais.

Janaina cobra demissão

A Polícia Federal (PF) passou a investigar um suposto esquema de candidaturas laranjas do partido no estado. Bolsonaro já declarou que vai aguardar a conclusão do inquérito para decidir sobre a permanência ou não de Álvaro no ministério. A notícia repercutiu no partido do presidente. A deputada estadual Janaina Paschoal (PSL-SP) cobrou pelo Twitter a demissão do ministro. Janaina é uma das principais aliadas de Bolsonaro. “E agora, presidente? O ministro do Turismo fica? A deputada federal eleita também estaria mentindo? Exijo a demissão do ministro! Não tem que esperar conclusão de inquérito nenhum!”.

Alê afirmou à reportagem já ter sido xingada pelo ministro numa ligação: — Teve uma noite que ele ligou aqui em casa, já era 0h13m, para me xingar, porque me queixei de Robertinho Soares (ex-assessor de Álvaro), sobre mantê-lo no diretório do partido, mesmo todo enrolado. Ele me xingou, falou que eu não tinha nada a ver com isso. A deputada disse que ficaria feliz se fosse expulsa do PSL: —Não posso sair do partido, senão perco o mandato. Se acaso eles me expulsarem, confesso que no fundo eu ficaria feliz.

Alê avalia que Bolsonaro é tão “enrolado” pelo ministro quanto ela foi até então.

—Espero que o presidente acorde a tempo e identifique essa pessoa que está ao lado dele, que não gosta dele, que só está usando ele. O ministro do Turismo afirmou que a deputada move uma “campanha difamatória” contra ele, em razão da disputa pelo controle de diretórios municipais em suas bases eleitorais em Minas.

À “Folha”, o ministro disse que ameaças e agressões “não têm nenhuma correspondência com a minha história de vida”. As acusações da deputada do PSL são motivadas por uma “frustração pessoal”, segundo o ministro, uma vez que sua ida para o ministério levou à convocação do suplente Enéias Reis (PSLMG), garantindo ao suplente a prerrogativa de compor os diretórios do PSL nas cidades da região.