Título: Ao passo do revisor
Autor: Luiz , Edson
Fonte: Correio Braziliense, 28/08/2012, Política, p. 2
O ministro Dias Toffoli estreou ontem no julgamento do mensalão acompanhando integralmente o voto do revisor, Ricardo Lewandowski, com a absolvição do deputado federal João Paulo Cunha (PT-SP) dos crimes de corrupção passiva, peculato e lavagem de dinheiro. Ao analisar o contrato da Câmara com a SMP&B, assinado em 2003, quando João Paulo presidia a Casa, Toffoli sustentou que não há provas de irregularidades e também considerou inocentes Marcos Valério e dois ex-sócios do empresário por supostos desvios de recursos públicos.
Em seu voto, Dias Toffoli usou provas da acusação em sentido inverso. Para o relator, Joaquim Barbosa, o envolvimento da mulher de João Paulo no episódio é uma evidência do crime. Márcia Regina Cunha foi pessoalmente buscar R$ 50 mil, dinheiro sacado da conta da SMP&B. Dias Toffoli sustentou que João Paulo jamais colocaria a própria mulher numa situação de exposição se o dinheiro tivesse origem ilícita. O ministro acatou a tese da defesa e disse que os recursos provinham do PT, e teriam sido enviados pelo então tesoureiro do partido, Delúbio Soares, para custear uma pesquisa de opinião em Osasco.
A presença de Dias Toffoli era dúvida até o início do julgamento. Havia uma expectativa de que o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, pedisse o impedimento ou a suspeição do magistrado. A namorada do ministro, Roberta Rangel, foi advogada do ex-ministro José Dirceu, apontado na denúncia como o líder da organização criminosa e mentor do mensalão. Dias Toffoli foi advogado-geral da União e subchefe de Assuntos Jurídicos da Casa Civil na gestão de Dirceu. Ele atuou na advocacia como representante do PT em processos judiciais. Gurgel, no entanto, preferiu não levantar a questão em plenário.