Valor econômico, v. 19, n. 4519, 07/06/2018. Brasil, p. A2

 

Brasil sobe para 4º no ranking de atração de investimento da Unctad

Assis Moreira

07/06/2018

 

 

O Brasil passou de sétimo a quarto país a mais atrair Investimento Direto Estrangeiro (IDE) em 2017, superado apenas por Estados Unidos, China e Hong Kong, segundo o Relatório Mundial de Investimentos publicado pela Agência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad).

A entidade destaca a entrada significativa de capitais chineses no setor de energia do país e mostra que o crescimento de 8% de IDE no Brasil no ano passado foi ainda mais importante porque contrastou com a queda de 23% no fluxo global. Em 2017, o país atraiu US$ 62,7 bilhões de IDE, representando 40% do fluxo total para a América Latina.

Nove das 10 maiores aquisições por companhias estrangeiras na região ocorreram no Brasil. Sete envolveram compradores chineses. Os investimentos foram sobretudo em eletricidade, petróleo, infraestrutura (distribuição de gás) e em companhias do agronegócio.

A Unctad aponta "um boom de IDE no setor de energia" no Brasil, onde o capital estrangeiro mais que triplicou, para US$ 12,6 bilhões. Em transportes e armazenamento, os investimentos estrangeiros quadruplicaram, chegando a US$ 6,6 bilhões. No setor industrial, fluxos de IDE para produtos químicos e industria de alimentos dobraram, atingindo US$ 3,2 bilhões e US$ 2,6 bilhões respectivamente. No setor de metalurgia, os investimentos externos cresceram 45% e alcançaram US$ 3,1 bilhões.

Tudo isso compensou o declínio de 40% do investimento estrangeiro no setor automotivo, de 33% nas indústrias extrativas, de 20% a 25% nos setores financeiro e imobiliário, e de 12% na área de petróleo.

No total, a América Latina atraiu US$ 151 bilhões (+8%), a primeira alta de IDE em seis anos. A Unctad projeta, porém, ligeira queda para 2018, para algo próximo de US$ 140 bilhões. A agência estima que o crescimento econômico na região continua débil e os desafios são muitos, incluindo incertezas políticas com eleições no Brasil, México e Colômbia, e possíveis impactos negativos com a alta de juros nos EUA.

O volume de IDE em 2017 representou 17,2% da formação bruta de capital fixo no Brasil. Mesmo com as turbulências periódicas, entre 2012 e 2017, o país atraiu US$ 388,4 bilhões de investimento estrangeiro. O estoque total de IDE aumentou 14% entre 2010 e 2017, alcançando agora US$ 778,3 bilhões, equivalentes a 36,4% do PIB.

A Unctad mostra o Brasil como o último entre 25 países nas cadeias globais de valor, ou seja, de bens e serviços importados incorporados nas exportações do país.

Globalmente, o fluxo de IDE declinou para US$ 1,43 trilhão, comparado a US$ 1,87 trilhão em 2016, em forte contraste com os sinais de crescimento da economia e do comércio mundial.

A queda é atribuída principalmente à baixa de 22% nas fusões e aquisições internacionais. Também preocupante é o valor anunciado de investimentos "greenfield", um indicador de futuras tendências, com baixa de 14%. Para 2018, a expectativa é de ligeira melhora, mas ainda abaixo da média dos últimos dez anos.

A Unctad alerta que uma escalada das tensões comerciais afetará negativamente investimentos externos e cadeias globais de valor. Também observa que a reforma tributária nos EUA deve ter efeito significativo no fluxo de investimentos globais, com companhias americanas sendo estimuladas a voltar a investir mais no país.

A queda nas taxas de retorno é um dos principais fatores para a baixa do fluxo de IDE globalmente, na avaliação da Unctad.

No Brasil, a taxa de retorno, segundo a agência, ficou em cerca de 5,1% para 2017, estável desde 2012. Ficou abaixo da global, que é agora de 6,7% e em queda comparado aos 8,1% em 2012.

O retorno sobre o investimento está em declínio em todas as regiões, com as maiores baixas ocorrendo na Africa e na América Latina. Na Africa, a taxa caiu de 12,3% em 2012 para 6,3 em 2017. Na América Latina, baixou de 7,9% para 5,6%.

Para a Unctad, isso pode ser parcialmente explicado pela queda nos preços de commodities durante o período.

"O menor retorno de ativos externos pode afetar as perspectivas de longo prazo de IDE", destaca a agência da ONU.