Valor econômico, v. 19, n. 4517, 05/06/2018. Empresas, p. B2

 

Enel paga R$ 5,5 bi por controle da Eletropaulo

Rodrigo Rocha

05/06/2018

 

 

Com negócio, Enel adiciona a seus ativos no país cerca de 17 milhões de unidades consumidoras da Eletropaulo e se torna a maior distribuidora de energia do país

A elétrica italiana Enel garantiu ontem o controle da Eletropaulo ao adquirir 73,38% do capital social no leilão de oferta pública de ações (OPA) da distribuidora paulista de energia. A companhia desembolsou R$ 5,55 bilhões pela fatia, pagando R$ 45,22 por papel. A operação torna a Enel a maior distribuidora do Brasil, tanto em número de clientes quanto em base de ativos regulatórios. A Neoenergia, que perdeu a competição, ficará em segundo lugar, seguida pela CPFL Energia, controlada pela chinesa State Grid.

Levando em conta as ações em circulação da companhia (164,3 milhão de papéis) - ou seja, descontados os papéis em tesouraria -, a aquisição na B3 representou 74,75% do total. A conclusão da operação estava condicionada à compra de uma fatia superior a 50% do capital em circulação.

Dois grandes acionistas vendedores foram o grupo americano AES e o BNDES - juntos, detinham 35,5% das ações da empresa.

O leilão de ontem também é o capítulo final de uma disputa iniciada em abril, quando a Energisa apresentou uma OPA pela distribuidora, no momento que a Eletropaulo organizava uma oferta subsequente de ações (follow on) com ancoragem da Neoenergia.

Após essa proposta, começou uma disputa, com movimentações que envolveram Enel e Neoenergia elevando o preço da OPA. Isso levou a Eletropaulo a cancelar o follow on para atender às novas condições. A escalada de preços tirou a Energisa do embate.

O procedimento de entregas de envelope com propostas finais de preço, inicialmente marcado para 24 de maio, foi cancelado por uma liminar da Neoenergia, que questionava um desequilíbrio de condições para a disputa, uma vez que os prazos dos possíveis interferentes no leilão eram diferentes dos previstos para Enel e Neoenergia.

A liminar foi suspensa no dia seguinte, com a disputa ficando entre a controlada da espanhola Iberdrola e a estatal italiana, pois nenhum novo interessado se manifestou na véspera. No dia último 30, os envelopes foram abertos com os R$ 45,22 da Enel superando os R$ 39,53 da Neoenergia.

O embate entre a dupla foi marcado inclusive por uma discussão pública entre as companhias, com a Enel voltando suas críticas ao follow on ancorado pela rival. Já a Neonergia criticava publicamente os rivais italianos, apontando o desequilíbrio na disputa entre uma empresa privada e uma estatal.

É a terceira grande aquisição dos italianos no Brasil em um ano e meio. No fim de 2016, a Enel comprou outra distribuidora, a Celg, de Goiás, pagando R$ 2,2 bilhões. Em setembro de 2017, a Enel avançou no mercado de geração, levando a concessão da usina de Volta Grande por R$ 1,3 bilhão.

Além das compras recentes, a companhia tem forte presença na geração de energia solar, além de uma usina termelétrica no Ceará. Em transmissão, são 730 quilômetros em linhas na região Sul.

Na distribuição, a aquisição se soma, além da Celg (atual Enel Distribuição Goiás), à Enel Rio (ex- Ampla Energia) e à Enel Ceará (antiga Coelce). Ao todo, serão aproximadamente 17 milhões de unidades consumidoras.

A Eletropaulo era o ativo de distribuição mais atraente do mercado, mas outras oportunidades ainda ficam em aberto, com destaque para as seis distribuidoras da Eletrobras, que caso os trâmites no Congresso sejam concluídos, devem ser leiloadas em julho. Outro ativo que pode ser alvo de disputa em breve é a Light, atualmente nas mãos da Cemig.