Valor econômico, v. 19, n. 4534, 28/06/2018. Brasil, p. A2

 

União Europeia sinaliza adoção de cota para aço importado do Brasil

Assis Moreira

28/06/2018

 

 

Em meio à escalada da guerra comercial, a União Europeia (UE) deverá impor nos próximos dias salvaguarda contra o aço importado, podendo resultar em cota (limite quantitativo) para a entrada também de produtos siderúrgicos do Brasil.

Pela investigação normal que abriu sobre o aço estrangeiro, a União Europeia tem prazo até dezembro para tomar uma decisão a fim de evitar aumento súbito de importações. Nas próximas semanas, haverá inclusive audiências com exportadores, incluindo o Brasil, que vai defender suas vendas na UE. No entanto, a comissária de Comércio da UE, Cecilia Malmström, confirmou que Bruxelas pensa seriamente em aplicar até meados de julho salvaguarda provisória, ou seja, restrição ao aço estrangeiro.

A Eurofer, associação dos produtores de aço da Europa, acredita que a restrição poderá vir na semana que vem na forma de cotas, para evitar o desvio, para o mercado europeu, do aço que Brasil, México, Coreia do Sul e outros não podem mais vender nos EUA. "Inicialmente não haverá impacto para o Brasil, porque não queremos fechar o mercado, e sim evitar súbito aumento das importações", disse um representante da Eurofer ao Valor.

A expectativa da Eurofer é de que as cotas para exportadores como o Brasil fiquem na média do volume exportado nos últimos anos. O que não poderia ocorrer é um aumento das vendas. Mas essa é a teoria, porque na prática o mero anúncio de barreira eleva incertezas e freia negócios.

Enquanto os EUA impuseram sobretaxa de 25% sobre enorme variedade de importações de produtos siderúrgicos, na Europa estão sendo investigados 26 itens. Produtores europeus, que precisam do produto importado, já pediram para a Comissão Europeia, braço executivo da UE, isentar o aço semiacabado, o que reduziria bastante o impacto da restrição sobre o Brasil. O aço semiacabado representa cerca da metade das exportações brasileiras para o mercado europeu. O mesmo acontece nas vendas para os EUA.

O que está acontecendo agora é o que o diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Roberto Azevêdo, não cansou de alertar: quando um país começa a restringir o mercado, pode deflagrar uma bola de neve, com os parceiros fazendo o mesmo. As milhões de toneladas de aço que não podem mais entrar nos EUA, por causa da sobretaxa de 25% imposta por Trump, vão buscar terceiros mercados. E esses, por sua vez, tentarão proteger a produção local também elevando barreiras.

Esse é o cenário que Trump conseguiu criar com a política unilateral de "America first". O presidente da Federação das Indústrias Alemãs (BDI), Dieter Kempf, destacou que a "ordem global de comércio é cada vez mais abalada pela lei dos fortes. A força do direito internacional está caindo cada vez mais no esquecimento".

Kempf alertou para o impacto de uma espiral mundial de protecionismo. "As medidas planejadas contra a China, as tarifas impostas ao aço e ao alumínio e possíveis sobretarifas sobre os automóveis estão colocando em risco os investimentos necessários em todas as regiões do mundo e prejudicando o comércio mundial", disse.

Para o dirigente alemão, o comércio mundial está em perigo. "Existem também ataques ao bem-estar, não só na Alemanha, onde um entre quatro empregos depende de exportações, mas para o Brasil esse isolamento é um grande risco", afirmou.